quinta-feira, 26 de setembro de 2019


            A vida continua...
    O cotidiano é uma coisa espantosa.
      Ninguém se dá conta, mas a gente se acostuma a tudo. Aceita tudo, dribla tudo, chora e reclama, mas vai vivendo. Porque viver é preciso.
      Mesmo que você perca uma pessoa muito querida, fome é fome. Então a gente come, a gente bebe, a gente respira e sobrevive... Parece indiferença, desamor, esquecimento, mas não é. São as exigências físicas, que forçam a gente a caminhar pra frente, a pagar contas, a comprar, a fazer comida. E todo mundo come. Mesmo que tenha acabado de voltar do funeral de uma pessoa muito amada.
      E não pode haver remorsos nisso. A fome e a sede são exigências da natureza, nada tem a ver com a alma. É a lei da vida. Viver é preciso. E a vida é um duro combate diário. Tem que ser combatida.
      Há milênios que é assim. As pessoas morrem, outras nascem e ocupam o lugar das que já cumpriram sua missão aqui na terra. Se não fosse assim, o mundo não comportaria mais gente. Estaria super povoado e faltaria espaço para por os pés. Como disse Tagore, poeta indiano, que não canso de repetir: “A flor se transforma em fruto. O fruto vira semente. Volta a semente a ser planta. Torna a planta a abrir-se em flor.” Assim é com a humanidade – uns se vão, outros vêm ocupar seu lugar. Eternamente... Per saecula, saeculorum...
      Mas, o que dói é a crueza do cotidiano. Mesmo que a alma doa, que o pensamento não pare, que os olhos procurem, aquela pessoa se tornou invisível. Nunca mais será vista. Nunca mais sorrirá, nunca mais abraçará. Nunca mais falará. Nunca mais gritará.
      O único consolo é que a pessoa tenha levado boas lembranças desse mundo, momentos de alegria, de satisfação, de realização. Que tenha curtido a fé, a esperança num futuro melhor, a vontade de vencer e viver em paz. E a certeza de ter cumprido sua missão.
      Tanta gente querida se foi.
      Como será aquele mundo?  Os familiares estarão juntos? Estarão velando por nós, que ainda não cumprimos nossa missão? Haverá sorrisos, brincadeiras, alegria?
      Gosto de imaginar uma campina verde, com canteiros floridos e iluminados por uma luz eterna. Onde não haja dor, tristeza, fome nem sofrimento. E anjos alados conduzam as almas em passeios celestes...
      Só sonhando para escapar da crueza desses dias sempre iguais.
      Mirandópolis,setembro de 2019.
      kimie oku in

     

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