quinta-feira, 24 de março de 2022

 

 Eeja naika  

   ええじゃないか


Depois de Nobunaga e Hideyoshi, Ieyasu assumiu o Governo do Japão e estabeleceu o Xogunato Tokugawa que duraria por 260 anos.

A Era da Guerras já era coisa do passado, mas os velhos hábitos ainda perduravam. Os Daimyos/Suseranos exigiam subserviência do povo, que devia postar a cabeça no chão à sua passagem em sinal de reverência... Quem não o fizesse tinha a cabeça decepada pelas espadas dos terríveis samurais. Muitas cabeças rolaram ... O povo aterrorizado estava cansado de ser humilhado.

Nessa época, o Palácio Imperial não dispunha de um exército e ficava à mercê dos Xoguns e seus caprichos. O Imperador era mera figura decorativa.

Diante das atrocidades cometidas pelo Xogunato contra o povo, muitos intelectuais planejavam devolver o poder de governo ao Imperador. E só havia dois Feudos com Exércitos que pudessem enfrentar o Xogun. Eram os Exércitos de Satsuma liderado por Saigo Takamori e Okubo Toshimichi; e o de Chosu liderado por Takasugi Shinsaku. Mas os dois grupos estavam sempre se confrontando e se tornaram arqui-inimigos...

Enquanto isso, um famoso espadachim que havia assistido a humilhações inomináveis começou a acalentar um sonho, que era  libertar o povo da opressão. Os opressores eram os Daimyos e o Xogun seu líder supremo. Sakamoto Riyoma de Chosu era esse jovem.

Então, de repente apareceu no Japão uma poderosa frota de navios negros, dirigida pelo Comodoro Perry. Vinha trazer uma carta do Presidente dos Estados Unidos, intimando o Japão a abrir os Portos para o Comércio exterior. O Japão era um país isolado e não admitia estrangeiros em suas terras. Na mente dos japoneses o Imperador era de origem divina, e o país não precisava de estranhos em suas terras. Só comerciavam com os chineses e holandeses.

Quando o teor da carta americana foi revelado, o povo se dividiu em dois grupos: os conservadores que não aceitavam a abertura dos portos, e queriam expulsar todos os estrangeiros que aparecessem; e o grupo dos modernistas que pretendiam se relacionar com outros povos. Muitos adeptos desse último grupo foram assassinados pelos fanáticos conservadores.

E aí ocorreu a questão de um turista inglês, que ignorava a obrigatoriedade de reverências, e tentou passar a cavalo pela comitiva de um Daimyo. Foi acusado de desrespeito e morto ali mesmo, pelos samurais do Suserano. Por essa morte, o Japão teve que pagar uma altíssima reparação, para não enfrentar uma guerra com os britânicos...

Com isso, recrudesceram os movimentos contra estrangeiros. Quando o Comodoro voltou um ano depois para saber da abertura dos portos, mostrou o poder destrutivo dos canhões. O que podiam as espadas diante de canhões? Então, Ii Naosuke representante do Xogun abriu os Portos de Shimoda e Hakodate, e assinou um Tratado de Paz e Amizade com os Estados Unidos, prometendo abrir cinco portos.

Isso despertou a fúria dos conservadores que numa emboscada executaram Naosuke.

Sakamoto Riyoma percebeu que chegara o momento de intervir. Parlamentou com Saigo Takamori e seu adversário Takasugi Shinsaku, apontando o Xogunato como o inimigo comum. E já era tempo de acabar com ele. Diante do inimigo maior, os dois Exércitos se uniram para derrubar o Xogun. Com apoio da Casa Imperial. Houve algumas batalhas, mas os oponentes venceram. E o 15º Xogun Tokugawa  Yoshinobu deixou o cargo e devolveu a Administração do país à Casa Imperial, em 1867.

A Corte baixou um Decreto extinguindo o Sistema Feudal no país e o governo foi centralizado no Imperador. Os Daimyos foram intimados a sair da capital para irem morar em seus domínios distantes.

Essas mudanças custaram a vida do paladino da Restauração do país, Sakamoto Riyoma que foi assassinado junto com um companheiro, pelos radicais extremos. Não chegaram a assistir ao advento da Era Meiji.

Por essa época, ocorreu um movimento em Nagasaki. Era uma espécie de festival, onde as pessoas dançavam e cantavam e refrão Ee já naika (いいじゃないか) que traduzido seria “ Quem se importa? Por que não?” A onda cresceu e tomou conta de todo o Japão.

Muitos historiadores acreditam que seria uma espécie de protesto contra a situação caótica reinante, sem um governo forte que desse segurança ao povo. Entretanto, protestos sociais e políticos eram terminantemente proibidos. Então, o movimento assumiu um aspecto religioso e carnavalesco, para burlar os fiscais. De verdade, era um grande desabafo do povo miúdo que fora humilhado e anulado por gerações, acredito eu. Era como uma grande brincadeira, onde verdades estavam sendo lançadas para o povo despertar.

Ainda houve o Boshin war, uma guerra civil entre os que apoiavam o Xogunato e os que se opunham a ele. Muita gente perdeu a vida inutilmente...

Porém, o Xogunato foi extinto e começou a Era Meiji.

E foram introduzidas mudanças: A capital foi transferida de Kyoto para Edo, que foi renomeado Tóquio. Os hans/feudos passaram a ser denominados Ken/Prefeitura. E cada Ken teve governadores nomeados pelo Palácio. O novo governo aboliu o sistema de classes, declarando a igualdade dos homens. E os trabalhadores foram chamados Hemin.

Dentre as mudanças importantes destacam-se: O Sistema Educacional, que obrigava crianças a partir de seis anos de idade a frequentarem escolas fundamentais; a Reforma da Taxa sobre os territórios que passou a cobrar 3% sobre os produtos colhidos; e a Reforma Militar, que obrigava homens acima vinte anos de idade a se submeterem ao serviço militar, para a defesa da Pátria.

O Imperador que assumiu a Era Meiji/Iluminação foi o Príncipe Mutsuhito, que seria o 122º Imperador a assumir o trono e governaria o Japão por quarenta e cinco anos.

Outras grandes mudanças foram introduzidas, com a instalação de muitas indústrias que transformariam totalmente o Japão.

A Era Meiji foi realmente de iluminação, porque resgatou um Japão mergulhado na obscuridade de ideias conservadoras, que o mantinham isolado e fechado para o mundo para um país moderno, e uma das grandes potências que se destacam no cenário mundial. 

Mirandópolis, março de 2022.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com 

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