sexta-feira, 11 de março de 2022

 

Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu


Após concluir as biografias desses três heróis japoneses, sobrou em mim uma vontade imensa de comparar os feitos deles.

É muito estranho esses três heróis japoneses terem vivido a mesma época, sonhado o mesmo sonho de organizar o Japão como um país autônomo e soberano diante do mundo. Além de terem conseguido salvar o país das guerras intestinas. Coisas do destino? Pode ser, mas essa estranha continuidade de um suceder a outro dá o que pensar...

Oda Nobunaga nasceu em Owari ou Aichi ken  em 1534 e faleceu em 1582, e sua vida foi abreviada por Akechi Mitsuhide. Viveu totalmente voltado para guerras, invadindo, tomando posse, matando, destruindo Castelos. Seu objetivo, porém era unificar o Japão acabando com as guerras bárbaras, que já duravam mais de cem anos. O povo estava esgotado, não havia paz, a fome era impiedosa porque os homens só estavam guerreando, e ninguém cultivava arroz... Era um homem muito inteligente e perspicaz. Fingiu ser um jovem confuso para que os vizinhos não o temessem. Foi apelidado de “o tolo de Owari”. Mas, tudo era fingimento para os inimigos ficarem despreocupados e se descuidarem.

Quando chegou ao Xogunato, mostrou a firmeza de propósitos e a crueldade sanguinária, para ninguém duvidar de sua palavra. O feito mais chocante foi o incêndio do Templo Enryaku no Monte Hiei, matando cerca de três mil monges, seus familiares, inclusive crianças. Razão dessa matança bárbara foi a traição dos monges, que abrigaram inimigos do Xogunato no Mosteiro...

Toyotomi Hideyoshi nasceu em Nagoia, Aichi ken em 1537 e faleceu em 1598 com sessenta e um anos de idade. Quando nasceu era tão feio que o apelidaram de “Filhote de macaco” ou “Macaquinho”. Era de família humilde e teve uma infância difícil que o obrigou a sair pelo mundo, para achar uma ocupação para ajudar a mãe. E o seu caminho se cruzou com o de Nobunaga, que o tratou com respeito. Sob a orientação deste, Hideyoshi cresceu e mostrou do que era capaz, porque era muito inteligente. Quando seu amo foi assassinado, Hideyoshi ficou enlouquecido e saiu pelo mundo para caçar Mitsuhide, o assassino. Que acabou morto por um lavrador.

A característica de Hideyoshi era a autenticidade. Quando estava feliz cantava, dançava e fazia festas... Quando estava triste, gritava, chorava e imprecava. Não conseguia esconder as emoções. Mas era também muito vaidoso e arrogante. Chegando ao Xogunato, considerava-se o Todo Poderoso. E ambicionou invadir a Coréia, a China, quem sabe até a Índia! Sonhos mirabolantes o levaram a encetar guerras contra a Coréia e contra a China, sem nenhum sentido, que fez muita gente morrer inutilmente. Por outro lado, conseguiu continuar a unificação do Japão, iniciada por Nobunaga. E acabou com a Era das Guerras, recolhendo as armas dos lavradores, para que estes se ocupassem apenas com a agricultura. Assim, o país recuperou a Economia. Foi poeta também, deixando vários poemas interessantes.

Tokugawa Ieyasu nasceu no Castelo de Okazaki também na Província de Aichi em 1543 e viveu até 1616 morrendo, pois com 73 anos de idade. Teve a vida mais longa. Tinha origem nobre por parte da mãe, de quem teve que se separar aos dois anos de idade, por questões políticas da família. Dos dois aos dezesseis anos viveu como refém da Família de Oda Nobuhide, pai de Nobunaga e da família Imagawa. Naquela época de guerras entre Clãs, era costume tomar um filho, uma esposa, uma irmã dos vizinhos como reféns, para que não se rebelassem contra o mais forte e poderoso do lugar. Rebelar significava morte para o refém. Ieyasu não conheceu carinho familiar. O mais próximo disso foi a atenção recebida de Nobunaga nos dois anos que fora refém dos Oda. Nobunaga, o tratou como a um irmãozinho, lhe ensinando montaria, natação. Os outros anos de refém foram passados em Mosteiros junto de indiferentes Monges... Mas, essa vida de vicissitudes iria fortalecer o caráter de Ieyasu, que percebeu que tudo era aprendizagem... Observava os erros dos outros para não cometê-los também.

A vida de Ieyasu foi toda pautada pela paciência... Perdeu a chance de ser o Xogun sucessor de Nobunaga, porque Hideyoshi tomou a frente. Era a sua vez, tinha o poder político e econômico para derrubar Hideyoshi, mas aguardou décadas até chegar a sua vez... E foi seu colaborador incansável para acabar com as guerras tribais que assolavam Japão.

Quando Hideyoshi morreu, mostrou toda a competência de que era capaz. Ele acolheu os vassalos dos Feudos conquistados como um pai que consola, a ponto de ganhar o respeito de todos.

Aos poucos, conquistou os inimigos mais ferrenhos e consolidou a paz no país. Cuidou da questão da sucessão do Xogunato com extrema sabedoria, inaugurando uma nova era, o Xogunato Tokugawa que governaria o Japão por 250 anos.

Mas, era também movido pelo espírito de samurai. Quando recebeu ordem de executar sua esposa e seu filho, que tramavam contra Nobunaga, ele não titubeou. Ele sabia que a ordem era Matar ou Morrer. Também foi cruel com os cristãos que pregavam sobre Jesus no Japão. Expulsou-os a todos temendo a radicalidade da fé cristã... E ainda, não abriu os portos japoneses para os estrangeiros, com exceção da Holanda. Isso atrasou muito o desenvolvimento do país.

Como vêm, os três mais famosos Xoguns do Japão nasceram na Província de Aichi ken, entre os anos 1534 a 1543. E o mais estranho é que seus caminhos se cruzaram e conviveram parte da vida juntos.

E como samurais sábios e convictos perceberam que o Japão precisava acabar com as guerras tribais. O país estava convulsionado em guerras de feudos contra feudos, e isso terminaria em completa destruição. Não haveria futuro para o Japão. Por isso se empenharam nessa missão, para construir um Japão forte e autônomo. E para isso era preciso eliminar quem resistisse. E nunca titubearam. Foram corajosos até a crueldade matando familiares, monges e adversários.

E venceram e constituíram esse Japão admirável que hoje conhecemos. Tinham o mesmo propósito, que outros não perceberam. Que era acabar com o Sengoku Jidai/Período de Guerras internas que durou de 1467 a 1603. Essas guerras ocorriam também na Europa, com os senhores feudatários invadindo e tomando posse de propriedades alheias, nos países onde não havia um governo forte.

No Japão foi devastador, porque as terras eram poucas e havia cerca de 260 Daimyos poderosos, que ambicionavam o cargo de Xogun, ou o Generalíssimo que governaria acima de todos. E havia os Samurais que decepavam a cabeça dos inimigos...

E esses três homens conseguiram em pouco mais de trinta anos acabar com a matança geral, que já durava mais de cento e cinquenta anos, estabelecer a ordem e firmar um governo centralizado no Imperador.

Eram tão iguais e tão diferentes!

Alguém escreveu um poema que define exatamente o caráter deles:

“Se o pássaro não canta, eu o mato”   Nobunaga

“Se o pássaro não canta, faço-o cantar!”  Hideyoshi

“Se o pássaro não canta, espero até que cante.”  Ieyasu

Mirandópolis, outubro de 2020.

Revisto em março de 2022.


kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com


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