quarta-feira, 23 de maio de 2012


               Gente de fibra - Neyde Pavesi Ferreira


    Ela nasceu em Pompéia, em 1933.
         É filha de Henrique Pavesi, Maestro de Banda Musical  e de dona Cinira de Freitas Pavesi, que veio transferida para Mirandópolis,  em 1950, como Agente de Correio. Seu Henrique havia sido Sapateiro antes de ser Maestro.
         O pai do senhor Pavesi era músico formado pelo Scala de Milão, famoso teatro italiano, que apresentava as mais conceituadas óperas da Europa.
         Chegando aqui, o seu Pavesi tratou de formar a Banda Municipal Santa Cecília, que tocava em coretos e animava bailes e festas locais e da região. A menina Neyde e suas irmãs não tinham permissão para ir aos bailes, em que o pai se apresentava, pois naqueles tempos a educação era muito rígida.
         Dona Neyde começou profissionalmente como professora leiga. Recebera um preparo para aprender a lidar com crianças, e foi professora de Jardim de Infância.
        Quando tinha 23 anos de idade, ela e sua irmã Neusa foram nomeadas para trabalharem no Correio local, onde sua mãe era Agente. O serviço aumentara muito, e foi nomeada também a senhorita Aurora Colombo.
         O Correio era da Administração Federal e estava instalado à Rua do Comércio, hoje Rua Nove de julho. No local atualmente funciona a loja do Marega. Como havia muito serviço, e poucas eram as funcionárias, faziam todas as tarefas necessárias, inclusive a faxina do local.
         Dona Neyde se casou com o senhor Emílio Ferreira, que trabalhava na seção de Vendas da Fábrica de Móveis Cristal, da família Crevelaro. Quando saiu dali, foi trabalhar na Esteves Irmãos, Sociedade Anônima, que comprava e exportava o algodão produzido na região. Mais tarde, Seu Emílio trabalharia no Hospital das Clínicas, como Chefe da Seção de Material, função em que se aposentaria anos mais tarde.
Do casamento com seu Emílio, nasceram três filhos, um dos quais é Bancário, uma filha é Professora de Línguas e a outra seria Analista de Sistemas, mas não concluiu o Curso, por uma fatalidade que a levou para sempre, deixando a maior dor para os pais. Isso ocorreu já há 32 anos.
O Correio funcionava todos os dias, e aos domingos e feriados atendia meio expediente.  Era costume na época, quando terminava a missa de domingo, os cidadãos passarem no Correio para buscar a correspondência. Não havia o serviço de entrega a domicílio, e cada um buscava cartas, jornais, revistas, telegramas e encomendas no Correio. Os assinantes possuíam uma caixa postal, onde era colocada a correspondência e os avisos. Separar essa correspondência fazia parte da rotina diária dos funcionários.
Havia o Serviço de Telégrafo, mas os Telegrafistas vinham nomeados de outras cidades. Havia também um cofre, onde eram guardados, além das cartelas de selos, todos os valores que eram enviados ou recebidos. Era costume também, os donos de lojas guardarem os objetos de valor aí no cofre, mediante uma taxa. As Joalherias é que mais faziam esses depósitos.
Naquela época, ainda não havia outro meio de enviar valores para outros lugares, a não ser pelo Correio. Era costume os pais fazerem remessas de dinheiro, para os filhos que estudavam em outras cidades. Para isso, havia um envelope transparente, onde eram colocadas as cédulas alinhadas de tal forma que, o valor total ficasse visível, para não haver enganos.
Dona Neyde se lembra que o Pedro Fernandes, que atuou na Nossa Caixa, e que faleceu recentemente, foi também funcionário do Correio.
Toda a correspondência vinha por trem. Então, havia um funcionário que ia diariamente à Estação ferroviária, buscá-la. Era o senhor José Gabriel de Oliveira, que por muitos anos andou pelas ruas da cidade, empurrando uma carriola de madeira, com os malotes de correspondência.
No imaginário do povo, ficou a ideia de que o seu Gabriel foi o primeiro carteiro da cidade, mas não é verdade. Como ele era muito atencioso, fazia voluntariamente a entrega de correspondência, aos amigos e a algumas firmas. Na verdade, não havia esse cargo no Correio; cada cidadão ou firma tinha que buscar a correspondência lá. Seu Gabriel, com a sua gentileza se antecipou no tempo, fazendo o que os carteiros de hoje fazem, entregando todas as remessas de domicílio em domicílio.
Depois de anos de trabalho, em 1975 dona Neyde aposentou-se. E passou a dedicar-se a atividades mais femininas, bordando, crochetando, tricotando, dando banho em bebês de vizinhos... e, aos poucos foi descobrindo sua verdadeira missão.
A sua verdadeira missão é servir ao próximo.
Essa bela e gentil senhora da sociedade não faz outra coisa, senão amenizar a vida de todas as pessoas, que cruzam o seu caminho. Um dia, descobriu que poderia ajudar o Hospital do Câncer, com suas habilidades manuais, sem sair de casa. Descobriu que esses hospitais têm uma Casa de Apoio, para dar assistência gratuita aos doentes e familiares, que necessitam de auxílio. E as pessoas podem ajudar essas Casas de Apoio, confeccionando gorros de lã, para reverter em valores para a compra de alimentos e manutenção dessa assistência.
A partir desse dia, já são mais ou menos trinta anos de confecção de toucas e gorros de lã, que a dona Neyde enviou religiosamente para Jaú, Curitiba e ultimamente para Barretos. Ela conseguiu a adesão de outras voluntárias, que também tricotam os gorros para o mesmo fim.
Hoje, já beirando os oitenta anos de idade, dona Neyde continua a tricotar e pede sempre a Deus, que lhe conceda a graça da saúde dos dedos, para continuar a produzir gorros até o fim de sua vida.
Dona Neyde ainda, se dedica a outra atividade assistencial, há mais ou menos 21 anos. Junto com aproximadamente oitenta voluntárias, praticam a filosofia Amor e Caridade do Centro Espírita Bezerra de Menezes.
O grupo trabalha durante o ano todo, recolhendo gêneros alimentícios para as cestas básicas, que entregam para cerca de quarenta famílias carentes, mensalmente. Quando  é necessário completam as cestas, com as mensalidades das voluntárias, ou com o dinheiro arrecadado no Bingo, que realizam mensalmente.
A renda do Bingo de senhoras da Sociedade, é destinada para a compra de material do enxoval de bebês. Durante o ano, são formadas quatro turmas de futuras mães, para receber noções de Higiene e Puericultura, para preparar o enxoval do bebê, e aprender a bordar, a crochetar e tricotar.
Do grupo inicial de voluntárias para essa missão, hoje permanecem as dedicadas companheiras Alzira di Bernardo Galvani, Encarnação Guerra Batista e a própria Neyde Pavesi.  Outras voluntárias aderiram e o grupo vai realizando essa obra, sem interrupção.  A reunião para o preparo do enxoval de bebês é semanal, e as peças confeccionadas são destinadas aos bebês que irão nascer, não onerando as mães gestantes.
Além disso, o grupo cuida também de, encaminhar pessoas doentes para realizar exames de laboratórios, quando há certa urgência, e não possuem recursos. Dá assistência na compra de remédios, que os órgãos públicos não podem fornecer.
E assim, dona Neyde e seu grupo vão realizando uma obra solidária, que beneficia a tanta gente, mas sem auferir vantagens, porque essas mulheres valorosas só praticam a filosofia de Amor e Caridade, mas de forma agradável, sem pesar para quem é beneficiado.


No final da entrevista, dona Neyde me confessou algo muito íntimo e bonito: ela tem o costume de guardar pequenos objetos, cartas, cartões e mimos que recebeu de filhos quando crianças, de netos, de amigos, do esposo, e os guarda como relíquias... São o seu tesouro, porque guardam lembranças de momentos especiais de emoção, de alegria e de ternura, que viveu até agora.
Dona Neyde Pavesi Ferreira, gentil mulher que Deus colocou no caminho de tanta gente, para aplainar seus caminhos, que, mesmo tendo sofrido uma perda irreparável para uma mãe, continua a sorrir e a exercer a missão de amar ao próximo, é um exemplo de mulher, é gente de fibra!

Mirandópolis, 15 de maio de 2012.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com




10 comentários:

  1. Kimie, confidencie-me: Entrevistá-la deve ter sido deliciosamente maravilhoso, não?
    Dizem os " entendidos " que o difícil é ser simples. Será?
    Para mim a simplicidade é o máximo da sofisticação.
    Parabéns!

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    1. Você é fogo! Pega a essência no ar. Realmente, passei uma tarde maravilhosa com a Neyde. É um privilégio ser sua amiga. Ela só tem bondade e doçura para passar para as pessoas. Sabe, Ulisses, que há gente que vai vê-la só para receber um abraço dela? E ultimamente, tenho pensado que também sou uma pessoa abençoada, por poder entrevistar e escutar tantas pessoas especiais. A simplicidade é a característica mais evidente nas pessoas sábias. Diz um provérbio japonês que: "Quanto mais amadurece o cacho de arroz, mais ele pende a cabeça"

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    2. ... " E o seu fruto é garantido como prato principal em todos as mesas dos lares de nosso mundo ".

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    3. Lissinho,
      Em nome da mamãe, obrigada tb a vc, pelas palavras cheias de afeição! Que Deus o abençoe, à Beth e às filhotas!
      Um abraço a vcs...
      Joana

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  2. Olá Kimie,
    Em primeiro lugar quero parabenizar você, pelo seu blog, pelas suas crônicas, pelo seu carinho com as pessoas e com a nossa cidade!....Você também é GENTE DE FIBRA, querida amiga!
    E, depois, quero agradecer a homenagem que você fez à mamãe! Obrigada pelo carinho e atenção dados a ela. Você tem toda razão...minha mãe é literalmente uma mulher de fibra!...e, mesmo depois de tantos reveses que a vida lhe trouxe, continua uma mulher cheia de amor pela vida e pelas pessoas! O papai, meu irmão e eu temos muito orgulho da nossa Neyde!
    Obrigadíssima e que Deus esteja com vc, sua família e todos nós!
    Um abraço...
    Joana

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  3. Joana, já há uns meses eu vinha toureando a dona Neyde para a entrevista. Dentro da sua simplicidade, não queria "aparecer". Só que ela aparece, mesmo sem querer, porque é generosa, e está sempre socorrendo alguém não só com ações, mas também com atenção, com uma boa palavra, ou apenas um abraço. E a gente percebe que o que a motiva é o amor que ela tem pelo próximo, não importa quem seja, porque todos são criaturas de Deus. Joana, é uma graça de Deus ter uma mãe como a sua, e eu me orgulho de ser sua amiga, porque ela é uma criatura pura, sem vaidades. Beijos. kimie

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    1. Mais uma vez, obrigada pelo carinho, Kimie! realmente, minha mãe é uma bênção divina na minha vida! Bjo. Joana

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  4. SÓ. POSSO DIZER QUE TENHO ORGULHO EM SER SOBRINHA DE NEIDE PAVEZI FERREIRA . JOANA VC TEM RAZÃO ELA É UMA BENÇÃO DIVINA. .GUERREIRA , CARINHOSA,SOLIDARIA, SIMPLES, MEIGA...LINDA POR FORA E POR DENTRO.. UM CORAÇÃO DE OURO..... MULHER DE FIBRA. ETC.ETC.ETC. PBNS TIA A SENHORA MERECE ESSA E MUITAS OUTRAS HOMENAGEM. BJSSSSSSSS

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  5. Eu agradeço a homenagem feita a minha Vó....concordo em grau , número e genero com td que escreveu! E claro agradeço a Deus por ela existir em minha vida!!!E por ter me ensinado, o que realmente significa CARIDADE!!!Quando vejo minha Vo...vejo o verdadeiro significado dessa palavra!!!
    Gostei muito do seu Blog!! Parabens!!
    Camila Zuin Ferreira

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    1. Camila, percebo que a graça, a bondade e a doçura de sua avó Neyde não foram em vão. Elas irão continuar nos filhos, nos netos e bisnetos para todo o sempre. Então, só posso dizer que a dona Neyde com seu jeitinho simpático e carinhoso tornou esse mundo melhor. Concorda, minha amiga?

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