quarta-feira, 6 de março de 2013


       Cantigas de roda

Acredito que a maioria das pessoas de ambos os sexos, brincou de roda um dia, na infância.
         E não há nada mais forte para nos levar de volta aos primeiros anos de vida, que uma cantiga de roda, que ficou esquecida lá atrás. A gente acha que esqueceu tudo, mas, um piano tocando os acordes de “Samba Lelê tá doente... tá com a cabeça quebrada” tem o poder de nos transportar a um tempo, a uma época de inocência, às primeiras brincadeiras da vida.
Não sou pianista, mas arranho um pouco e, nada me deixa mais feliz  que os acordes que lembram a infância. Não é por ter sido mais feliz naqueles tempos. É simplesmente porque tive uma infância como as outras crianças, e brinquei de roda e aprendi a cantar todas as cançonetas do repertório infantil.

         Aprendi a brincar de roda cantando: “À mão direita tem uma roseira que dá flor na Primavera, que dá flor na Primavera. Entrai na roda, ó linda morena e abraçai a mais faceira, e abraçai a mais faceira.”  Depois cantava: “Cachorrinho está latindo lá no fundo do quintal. Cala a boca, cachorrinho e deixa meu amor entrar... o tindo lelê, o tindo lelêlê lá, o tindo lelê,  não sou eu que caio lá.” E seguia com: “O cravo brigou com a rosa , debaixo de uma sacada. O cravo ficou ferido e a rosa despedaçada. O cravo ficou doente. A rosa foi visitar. O cravo sofreu um desmaio, e a rosa pôs-se a chorar.” E aí vinha: “Fui no Itororó, buscar água e não achei. Achei bela morena, que no Itororó deixei. Ó Mariazinha, ó Mariazinha entrai na roda ou ficará sozinha! Sozinha eu não fico, sozinha não hei de ficar, pois escolho o fulano para ser meu par.” “Tira, tira o seu pezinho, bota aqui ao pé do meu. E depois não vá dizer que você se arrependeu” “Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria? Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria? Como poderei viver, como poderei viver, sem a tua , sem a tua companhia?

       E por aí ia embora, com as crianças pulando, saltando, declamando versos, dando meia volta e volta e meia. Era tão energizante e preencheu meus dias de criança, de forma plena, que nunca mais esqueci.
Hoje, as crianças não brincam de roda. Não sabem cantar essas modinhas infantis. Não conhecem os folguedos de outrora.
Como tudo muda. E tudo se esquece.
Mas eu redescobri a felicidade de brincar de roda com a turma da Ciranda. E descobri que todos gostam de cirandar. Não importa a idade, o sexo, a religião... Todos se encantam na hora de brincar. E a roda inspira os participantes a declamar, a falar, a rezar, a cantar. Todo mundo se desinibe. E isso é contagiante.
Lembro que uma cirandeira quietinha, de repente, resolveu declamar arremedando um mascate sírio-libanês, vendendo roupas. Foi muito engraçado.

Acho que, nós os adultos podíamos resgatar essa brincadeira de roda nas reuniões de família. Nada é mais caloroso do que se dar as mãos e andar em roda prá lá pra cá, cantando velhas canções infantis.

Substituiria de forma tão saudável as mesas de truco e serviria para gastar as energias que sobram.
Então, que tal brincar de Ciranda, cirandinha?



          Mirandópolis, fevereiro de 2013.
          kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com



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