Cantigas de roda
Acredito que a maioria
das pessoas de ambos os sexos, brincou de roda um dia, na infância.
E não
há nada mais forte para nos levar de volta aos primeiros anos de vida, que uma
cantiga de roda, que ficou esquecida lá atrás. A gente acha que esqueceu tudo,
mas, um piano tocando os acordes de “Samba Lelê tá doente... tá com a cabeça
quebrada” tem o poder de nos transportar a um tempo, a uma época de inocência, às
primeiras brincadeiras da vida.
Não sou pianista, mas
arranho um pouco e, nada me deixa mais feliz
que os acordes que lembram a infância. Não é por ter sido mais feliz
naqueles tempos. É simplesmente porque tive uma infância como as outras
crianças, e brinquei de roda e aprendi a cantar todas as cançonetas do
repertório infantil.
Aprendi a brincar de roda cantando: “À
mão direita tem uma roseira que dá flor na Primavera, que dá flor na Primavera.
Entrai na roda, ó linda morena e abraçai a mais faceira, e abraçai a mais
faceira.” Depois cantava: “Cachorrinho
está latindo lá no fundo do quintal. Cala a boca, cachorrinho e deixa meu amor
entrar... o tindo lelê, o tindo lelêlê lá, o tindo lelê, não sou eu que caio lá.” E seguia com: “O
cravo brigou com a rosa , debaixo de uma sacada. O cravo ficou ferido e a rosa
despedaçada. O cravo ficou doente. A rosa foi visitar. O cravo sofreu um
desmaio, e a rosa pôs-se a chorar.” E aí vinha: “Fui no Itororó, buscar água e
não achei. Achei bela morena, que no Itororó deixei. Ó Mariazinha, ó Mariazinha
entrai na roda ou ficará sozinha! Sozinha eu não fico, sozinha não hei de
ficar, pois escolho o fulano para ser meu par.” “Tira, tira o seu pezinho, bota
aqui ao pé do meu. E depois não vá dizer que você se arrependeu” “Como pode o
peixe vivo viver fora d’água fria? Como pode o peixe vivo viver fora d’água
fria? Como poderei viver, como poderei viver, sem a tua , sem a tua companhia?
E por
aí ia embora, com as crianças pulando, saltando, declamando versos, dando meia
volta e volta e meia. Era tão energizante e preencheu meus dias de criança, de
forma plena, que nunca mais esqueci.
Hoje, as crianças não
brincam de roda. Não sabem cantar essas modinhas infantis. Não conhecem os
folguedos de outrora.
Como tudo muda. E tudo
se esquece.
Mas eu redescobri a
felicidade de brincar de roda com a turma da Ciranda. E descobri que todos
gostam de cirandar. Não importa a idade, o sexo, a religião... Todos se
encantam na hora de brincar. E a roda inspira os participantes a declamar, a
falar, a rezar, a cantar. Todo mundo se desinibe. E isso é contagiante.
Lembro que uma
cirandeira quietinha, de repente, resolveu declamar arremedando um mascate
sírio-libanês, vendendo roupas. Foi muito engraçado.
Acho que, nós os
adultos podíamos resgatar essa brincadeira de roda nas reuniões de família.
Nada é mais caloroso do que se dar as mãos e andar em roda prá lá pra cá,
cantando velhas canções infantis.
Substituiria de forma
tão saudável as mesas de truco e serviria para gastar as energias que sobram.
Então, que tal brincar
de Ciranda, cirandinha?
Mirandópolis, fevereiro de 2013.
kimie
oku in cronicasdekimie.blogspot.com
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