Apologia do bambu
Sempre tive vontade de escrever sobre o bambu.
Por
ter ascendência nipônica, cresci em sítios, onde havia moitas de bambu.
Anos mais tarde, soube
que os japoneses do Japão se refugiavam durante os terremotos, nas moitas de
bambu. As touceiras do bambuzal formam um enraizado todo trançado como uma rede
bastante firme no subsolo, que os terremotos mais comuns não conseguem
desmanchar. E assim, serviam de refúgio e proteção, quando os cataclismos
chegavam e, rachavam o chão em valetas
intransponíveis.
Os imigrantes
japoneses chegando ao Brasil plantaram muitos bambuzais, mesmo sabendo que,
aqui não ocorriam essas tragédias. Brinquei e descansei várias vezes, à sombra
dos bambuzais.
Mas, a serventia deles
para nós estava ligada à alimentação. Brotos de bambu foram muito consumidos pelas
famílias de imigrantes naqueles tempos difíceis, e de alguma forma sustentou a
sua saúde, fornecendo-lhes fibras ricas em proteínas vegetais, aminoácidos,
cálcio, fósforo e vitaminas. Além disso, o consumo de bambu pode prevenir
doenças cardiovasculares e o câncer.
Todos os pequenos
proprietários rurais japoneses tinham moitas de bambu no quintal. As varas
flexíveis eram utilizadas para se fazer cestas, utilizadas para colher frutas,
verduras e ovos, e balaios para a colheita do algodão. Os próprios japoneses
confeccionavam essas cestas e esses balaios, que foram muito úteis naquela
época. Mais tarde, as longas varas de bambu por serem ocas, foram utilizadas
como canaletas para levar água às galinhas das granjas. Ainda não existiam
esses cochos de plástico, que facilitaram bastante o trabalho
do granjeiro.
Hoje são raras as
pessoas que conseguem confeccionar balaios e cestas. E os sítios onde há moitas
imensas de bambu com certeza, já foram pertences aos japoneses. Nos tempos atuais, em
que o homem devastou todas as florestas, acabando com as árvores que forneciam
madeiras de lei como: jequitibá, aroeira, cedro, peroba, cabreúva e outras, a
alternativa que restou foi o bambu. E muita gente tem analisado essa madeira
leve e reta, que está sendo largamente utilizada na confecção de móveis e na
edificação de prédios resistentes a terremotos.
O bambu é muito
aproveitado nos países orientais, como a China, a Coréia e o Japão. Existem
cerca de 1250 variedades de bambu, que podem ser lenhosos ou herbáceos. Há
bambus de diversas cores, que vão do amarelo, verde, mesclado de verde e
amarelo, roxo, marrom e até vermelho. Cada tipo tem a sua serventia.
Os brotos de bambu
muito utilizados na culinária oriental são consumidos como saladas, ou
refogados com frango, com carne de porco, em yakissobas... Há uma infinidade de
pratos, e até são aproveitados como picles, que são deliciosos.
Os sábios da China e
do Japão tiraram muitas lições observando o desenvolvimento de um bambuzal.
A qualidade mais decantada é a flexibilidade
de seus galhos. Por serem flexíveis, os galhos não se quebram facilmente, como
os galhos de outras árvores conhecidas. Os homens também têm que ser flexíveis
para conviver com as diferenças nesse mundo.
Outra qualidade que se
destaca é que o bambu só se desenvolve em touceiras, com galhos se apoiando em
outros galhos, formando um emaranhado difícil de derrubar. Se crescesse
sozinho, não teria forças para vencer os ventos e os temporais, mas em formação
de moitas conseguem parar e vencer os vendavais. O homem sozinho nada é, nada pode. Mas, em
grupo, unidos no mesmo ideal, podem conquistar o mundo.
Além disso, o bambu
cresce sempre para cima, para o alto, buscando a luz do sol e suas varas chegam
a comprimentos incríveis. O homem deve também ter seus objetivos, e procurar
sempre crescer, para se aperfeiçoar.
Como o bambu tem um
talhe elegante, com talos finos e folhas longas e delicadas foi muito usado
como modelo nas pinturas zen. Nas pinturas de sumiê, ou a carvão, o motivo
bambu está sempre presente, assim como nas porcelanas orientais, famosas no
mundo inteiro. Eu mesma tenho porcelanas com motivos de bambu, e recentemente
ganhei um joguinho de saquê com desenhos de bambu. Eu os aprecio muito.
O que dizer mais? Ah!
Os primeiros instrumentos musicais devem ter sido feitos de bambu, por causa da
sonoridade natural que há nos canos ocos.
Há uma flauta de
bambu, o shakuhachi japonês, feito de um bambu rústico, que tem uma sonoridade
de arrepiar. Ele reproduz com perfeição os sons do vento, das águas do rio, da
chuva... Aprecio muito o shakuhachi.
E para encerrar, nada
melhor que isso:
“Quisera que a minha
vida fosse igual a uma flauta de bambu: simples, reta e plena de música”
Mirandópolis, fevereiro
de 2013.
kimie
oku in cronicasdekimie.blogspot.com
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