domingo, 24 de março de 2013




Achados e perdidos

Há aproximadamente um ano que estou no facebook  onde encontrei tantos amigos e parentes queridos, de quem não tinha notícias  já fazia um bocado de tempo. E conheci outros, que me proporcionaram momentos muito gratificantes de bate papo.
Se houve alegria por conhecer e reencontrar amigos, houve também momentos desagradáveis por ter sido mal interpretada, e gente que nunca lhes vi as fuças se achou no direito de me dar lições de moral.  Sei perfeitamente que, essas coisas acontecem porque a rede é muito extensa, e tem gente de todo tipo, como alguns agregados de parentes e amigos, que a gente não conhece.
Bem, mas isso é outra história, e vamos deixar pra lá.
Percebi que ultimamente, o mural do face se transformou num quadro de “Achados e Perdidos”, onde se postam fotos de carros, motos e cachorros perdidos ou roubados que alguém está procurando; ou de tais perdidos, que alguém está tentando localizar os donos. Quando vejo fotos de cães e gatos perdidos, me ocorre a ideia de que não foram perdidos, mas foram descartados...
Há uns anos atrás, ocorria muito no Japão um fato parecido: gente que adotava bichos exóticos como jacarés e cobras, que achavam lindos quando pequeninos, ao verem-nos enormes e ameaçadores descartavam jogando-os na rua. E lógico, criava problemas de segurança para os cidadãos.  Gente idiota tem no mundo inteiro, até no primeiro mundo.
Bem, mas animais perdidos e jogados a gente sabe que tem aos montes. Não é de hoje que isso acontece. Infelizmente.
O que me incomoda muito hoje é o número de crianças e idosos perdidos, não localizados, que alguém está procurando. De repente, o mural do facebook virou um quadro de “PROCURA-SE” de Delegacia de Polícia. Mas, os procurados não são criminosos, são pessoas que sumiram sem deixar rastros, sem dar adeus, tchau ou até logo. E pelos avisos, parece que os familiares estão realmente preocupados, procurando-os e pedindo ajuda de alheios. Parece.
Sei que há casos de sequestros e não duvido que, alguns sejam tais casos, mas o que me incomoda bastante é a estatística que está crescendo dia a dia. Tem se a impressão que todo dia há alguém sumindo, uma criança, um jovem, um idoso. E por que tais fatos acontecem?
Descaso? Descuido? Maus tratos? Desorientação mesmo?
Nesta semana, anunciaram o desaparecimento de uma criança de três aninhos, que sumiu depois que a mãe soltou sua mão na rua... Essa mãe que me desculpe, mas soltar uma criança de três aninhos na rua é o mesmo que pedir que, desapareça no meio da multidão. Mãe que é mãe, que pensa na segurança do filho tem que ser mais cuidadosa, com certeza. Será que as mães de hoje são diferentes? Não pensam na segurança de seus bebês? Será que nós, as mães de nossa geração, éramos mais estressadas, preocupadas, com medo de perder os filhos? Pode até ser, mas nunca perdemos os filhos pequenos, assim gratuitamente.
E o que dizer de pais e mães que esquecem seus bebês no carro o dia todo? Que loucura é essa que faz os genitores não se lembrarem, nem por um segundo durante um dia inteiro, que têm filhos? Que valor têm esses filhos em suas vidas? Eles ocupam algum espaço na agenda do dia a dia desses pais? Ou são apenas estorvos? Infelizmente, não dá para tirar boas conclusões... E como será conviver com o remorso de tê-los sacrificado por causa do trabalho, por outros “compromissos urgentes e inadiáveis”?
Não queria estar na pele desses pais...
Eu me lembro que, quando trabalhava na Escola Ebe Aurora, havia um pai que ia todas as noites, buscar suas filhas adolescentes. Ele trabalhava o dia todo, mas não descuidava das meninas.  Podia estar chovendo, ou fazendo um frio terrível, o homem estava lá de plantão às 23 horas diante da Escola, esperando as meninas. Elas se tornaram adultas e nunca deram trabalho para a família. Qual é o pai que hoje se habilita a fazer tais gestos de amor?
É, os tempos mudaram.
Mas, não venham me dizer que a vida nossa era mais tranquila. Nós, as mães de nossa geração, também demos duro para criar nossos filhos, trabalhando boa parte do dia, e sendo mães e domésticas em casa. E não havia as comodidades de hoje de um carro à disposição, de um celular para dar recados esquecidos, para conferir se os filhos estavam bem.  Muitas de nós nem dispunham de telefones... Com dificuldades ou não, conseguimos dar conta do recado sem perder filhos, pais e avós, pelos caminhos...
O que está acontecendo com a humanidade?
Trabalhar se tornou prioridade? Acima dos filhos, dos pais?
Dizia Madre Teresa de Calcutá que a pior doença é a falta de amor. Parece que esse sentimento está sendo varrido, para dar lugar à ambição desmesurada de chegar lá no topo, de ser alguém na vida. E à custa, às vezes da vida de um filhinho esquecido por horas no carro fechado, no estacionamento.
          Tenho dó dos gatos e cães descartados, que procuram seus donos.
Tenho muito mais de crianças e velhinhos abandonados.
     Um dia, o filho que abandonou o pai estará, quem sabe, na lista de “Achados e Perdidos”? 
  É isso que estão ensinando...

Mirandópolis, março de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com





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