A Feira
A Feira
está voltando.
Sei que
ela sempre esteve lá na Avenida, servindo ao povo. Mas, havia perdido aquela
força dos tempos iniciais, quando as pessoas saiam de madrugada dos bailes para
ir saborear um pastel quentinho. Naquela época, a feira tinha cheiro de pastel
frito na hora, e ninguém resistia. Mesmo quem não queria comprar nada, acabava
comendo um pastel...
Com a
chegada dos Supermercados, que passaram a vender também os produtos
hortifrutigranjeiros, os feirantes desanimaram. E muitos deixaram esse tipo de
comércio. E nós, os consumidores adquirimos o hábito de frequentar mais os
mercados e mercearias. Porque continuamos a consumir frutas e verduras, tão
indispensáveis à saúde.
E de
repente, houve um resgate de feiras, que estão ocorrendo três vezes por semana,
isto é, às terças-feiras na Praça do Bairro São Lourenço de Fátima e aos
domingos na Avenida Rafael Pereira. E às sextas é na Aliança. Acho isso muito
bom, porque o produtor tem a oportunidade de vender seus produtos recém-
colhidos, diretamente ao consumidor.
Tem
feirante moendo café em grãos na hora, tem outro vendendo filés de peixe de seu
açude, tem gente vendendo condimentos bem elaborados em casa, tem comida
japonesa caprichada, tem frutas variadas e verduras da estação. Além de é
claro, pastéis e outros salgados.
Vários amigos meus estão voltando às feiras, e
abastecendo a geladeira com legumes e frutas para a semana. Os preços? Alguns
equivalem aos dos mercados, mas a maioria é de valor inferior, porque não há
intermediários. E o melhor de tudo é que são fresquinhos e duram mais.
Gosto
sempre de lembrar que o comércio propriamente dito teve início há milênios, com
a troca de mercadorias. Quem possuía arroz sobrando trocava com peixes, que
estavam fora de seu alcance. Quem possuía leite trocava com trigo e ou azeite.
E em
épocas mais recentes, na China, quando nem se cogitava em montar lojas e casas
de comércio, o agricultor colocava um saco de arroz à porta de sua moradia, na
passagem dos pedestres, com uma medida e um prato para as moedas. Quem
precisasse do arroz pegava a quantidade que lhe convinha e, deixava as moedas
no prato. Ninguém ficava vigiando. Todos eram confiáveis. O surgimento do comércio organizado teve esse
início tão prosaico. É certo que outros eram os valores e costumes e, ninguém
pensava em prejudicar o dono do arroz, porque essa troca era bem necessária e
muito conveniente. A moeda dessa troca na verdade era a confiança.
Amigos meus,
que têm ido ao Japão recentemente, conheceram esse tipo de venda, em pequenos
vilarejos, onde há pontos de venda de legumes,frutas e verduras. E dizem que a
coisa funciona sem nenhum incidente. No
final do dia, as moedas deixadas equivalem exatamente ao valor de mercadorias
vendidas.
Quando
eu era criança, lembro-me que os mascates iam de fazenda a fazenda oferecendo rolos
de tecidos, botões, linhas, agulhas e demais apetrechos de costura. As senhoras
e moças costureiras que, moravam em sítios e lugares retirados esperavam com
ansiedade, a chegada dos mascates que vinham montados em animais, e traziam malas
lotadas de mercadorias. Eles faziam qualquer negócio. Era um deslumbre prá nós
crianças, admirar todas aquelas coisas que nem conhecíamos. Mas eram tão lindas
e desejáveis. Sempre havia novidades e nós nos regalávamos só de ver e
apreciar.
Mais
tarde, esses mascates foram substituídos pelos oveiros e frangueiros, que
ofereciam aquelas mesmas mercadorias e trocavam-nas com ovos, galinhas e
leitões. Esses oveiros vinham já em carrinhos ou carroças puxados por animais,
devido ao volume de trocas que levavam de volta para a cidade, onde vendiam.
Naquela época, eram muito raros os açougues e não existiam quitandas ou mercearias
que vendessem ovos, frutas e verduras... E assim, os mascates fizeram esse
intercâmbio entre a roça e a cidade durante muitos anos, e foram extremamente
úteis. Os vendedores de tecidos e armarinhos em geral eram de origem libanesa,
e falavam um português arrevesado, que era difícil de entender...
Esses
mesmos mascates libaneses acabaram por montar e estabelecer-se em lojas, e fortaleceram
o comércio das cidades.
Atualmente,
até essas pequenas lojas estão sendo engolidas pelas grandes magazines que
fazem o luxo dos shoppings. Em breve, acabarão desaparecendo de vez todas essas
pequenas lojas de sapatos, roupas, comidas, açougues e até farmácias... Os
hipermercados e outros grandes centros de vendas estão abarcando tudo, e a
concorrência é muito violenta. É uma luta de gigantes contra anões... Sinal de
progresso... Em que os pequenos são inexoravelmente atropelados...
A
vantagem da feira é que ocorre ao ar livre, facilitando o ir e o vir das pessoas
e há espaços para o estacionamento de carros. E circular entre as bancas de
vendas é tranquilo, pois não há congestionamentos. E todos se conhecem. E de
repente, a gente tromba com um amigo, uma vizinha, uma pessoa conhecida que não
via há tempos. E aí, é aquela festa. Papo em dia, um abraço e até outro
domingo...
Sei que
a vida dos feirantes não é fácil. Têm que acordar de madrugada para carregar
suas mercadorias e montar a barraca. Geralmente, às seis horas da matina já
estão lá de plantão, porque seus legumes e suas verduras não podem ficar muito
expostos ao sol. E quando não conseguem vender, acabam perdendo muito...
Mas,
estão sempre de sorriso aberto, recebendo os clientes com um alegre bom dia, e
nos servindo com atenção e carinho. Porque viver é preciso!
Vida
longa aos feirantes e à feira!
E viva a
Feira!
Mirandópolis,
abril de 2014.
kimie
oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
A Maria Preta morreu há pouco tempo.... e até o fim foi amiga de minha mãe que por sua vez, até seu fim, ajudou a Maria a se manter.A filha da Maria trabalhou por muitos anos com minha mãe e a filha com a deficiencia que voce citou, já é até vó....realmente o problema dela foram os meninos.....
ResponderExcluirEu sempre soube dessa ligação e proteção de sua mãe para com a Maria Preta. Toda vez que a Maria falava de dona Antiniska era com os olhos cheios de lágrimas. Aprendi a admirar sua mãe por causa da Maria Preta, Regina.
ResponderExcluirEsse comentário da Regina deveria ter sido na crônica "Mater Dolor" em que citei a história da Maria Preta.
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