terça-feira, 21 de novembro de 2017

           THÊ,
         


       Estou entorpecida.
       Não consegui digerir a tua partida...
         Eu te vi coberta de flores, com a mesma expressão amistosa de sempre.
E aí vi teus familiares. Chumbo, Maria Adelaide, o Tato, a Nena, as filhas da Nena, a nora e a neta da Maria Adelaide, a Cecilinha e a Juliana tão doce e toda chorosa... Parecia órfã de mãe...
E vi a Inês. Passada, meio atordoada, como se não entendesse o que estava acontecendo... esticando e enrolando uma toalhinha de mão, como se fosse a mais importante tarefa a executar. Sem parar, estendendo-a sobre os joelhos e olhando pro nada...
E aí veio o Flautides cumprir uma promessa. Ele falou sobre a tua missão aqui na terra, que foi a de servir a todos que te conheceram... Lembro das palavras magnânimo coração, socorrendo os familiares, cristã devota exemplar e defensora da natureza... Disse que estava atendendo a um pedido teu, para não partires em brancas nuvens. E ele falou bonito. Mas, não tão bonito como foi o caminho que trilhaste.
Falou também uma senhora, que um dia acolheste por um longo período em tua casa com o irmãozinho, dizendo da imensa dívida que restou... Dívida de gratidão por tua generosidade...
Depois, pedi licença para falar também da nossa amizade, de tudo que aprendi com o teu convívio, da tua generosidade de olhar e socorrer os que te rodeavam, esquecendo sempre de tuas necessidades... Falei de nossas tardes na “casa da Thê”, lá na esquina, onde as amigas tinham sempre um encontro marcado com um saboroso cafezinho, salgados e bolos. E das conversas sem fim, que eu sempre acabava vindo embora só quando escurecia, deixando o Nori muito apreensivo... Casa da Thê era um dos pontos de referência que eu cultivava, além do pequeno cemitério onde repousam meus pais... Hoje se fundiram num só ponto de referência. Na Casa da Thê, a Thê não está mais...
E a Maria Adelaide me disse da imensa gratidão por ter sido socorrida com os filhos, quando teu irmão foi acidentado. Disse que não era capaz de falar em público, mas seus olhos estavam marejados de lágrimas.
Naquela cozinha de mesa redonda tomei café tantas vezes com a Nena, com a Maria Adelaide, com a Sumiko, com a Harumi, com a Chiquinha, com a Hilda, com a Lili, com a Nívea, com o Chumbo e a Márcia, com a Denise, com a Teresa Fontana, com a Juliana, com a Áurea, com a Cida Pessoa, com meus familiares (lembra-te quando fizemos a missa da mamãe no Kaikan?) Quanta conversa jogada fora, quantas risadas gostosas... E a cachorra que ficava no teu pé, e o gato que subia na pia?
E as orquídeas que tive que podar? Tão belas! Ficaram com quem? E os bordados e os crochês que ficávamos mostrando como tesouros?  E as belas peças com linha Mercer, que crochetaste e guardarei como relíquias...
E hoje foi o teu funeral!
Nunca nessa relação feliz que cultivávamos desejei passar por isso, porque parecias eterna. Nada te derrubaria, porque eras forte, teimosa e querias viver. Tanto que no final com AVC, com pneumonia, com febre, com falta de ar, com a respiração comprometida, teimaste em voltar a reviver e falar palavras de consolo aos familiares...
E o teu funeral foi simples, cheio de sentimentos... Lá compareceram o Jorge Chaim que foi teu amigo e companheiro na Delegacia de Ensino, o Marcondes e a Áurea meio parentes teus, o Zé César teu dentista, a Teresa Fontana, a Ziquinha, a   Maurilia e o Alfredo, o José viúvo da saudosa Odete, o Arthur e a Vergília, o Chumbo, o Tato, a Lili, a Leonilde, os sobrinhos e sobrinhas que não lhes sei nomear... E tantos amigos que não conheço, mas  todos ligados no desejo único de que Deus te receba em sua Glória.
No final, agradeci a Deus porque foste embora em 2016 para longe da gente, porque isso nos forçou a acostumar com tua ausência... Mas, é tão duro pensar que nunca mais vou te ver, Thê.
A morte é muito cruel.
Mas como criatura de Deus, tenho que aceitar e esperar que um dia nos reencontremos.
Adeus, amiga! Que estejas conversando com os anjos.

Mirandópolis, 21 de novembro de 2017.
kimie oku  in




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