THÊ,
Estou entorpecida.
Eu te vi coberta de flores, com a mesma expressão amistosa de
sempre.
E aí vi teus familiares. Chumbo, Maria Adelaide, o Tato, a Nena,
as filhas da Nena, a nora e a neta da Maria Adelaide, a Cecilinha e a Juliana
tão doce e toda chorosa... Parecia órfã de mãe...
E vi a Inês. Passada, meio atordoada, como se não entendesse o
que estava acontecendo... esticando e enrolando uma toalhinha de mão, como se
fosse a mais importante tarefa a executar. Sem parar, estendendo-a sobre os
joelhos e olhando pro nada...
E aí veio o Flautides cumprir uma promessa. Ele falou sobre a
tua missão aqui na terra, que foi a de servir a todos que te conheceram... Lembro
das palavras magnânimo coração, socorrendo os familiares, cristã devota
exemplar e defensora da natureza... Disse que estava atendendo a um pedido teu,
para não partires em brancas nuvens. E ele falou bonito. Mas, não tão bonito
como foi o caminho que trilhaste.
Falou também uma senhora, que um dia acolheste por um longo
período em tua casa com o irmãozinho, dizendo da imensa dívida que restou...
Dívida de gratidão por tua generosidade...
Depois, pedi licença para falar também da nossa amizade, de tudo
que aprendi com o teu convívio, da tua generosidade de olhar e socorrer os que te
rodeavam, esquecendo sempre de tuas necessidades... Falei de nossas tardes na “casa
da Thê”, lá na esquina, onde as amigas tinham sempre um encontro marcado com um
saboroso cafezinho, salgados e bolos. E das conversas sem fim, que eu sempre
acabava vindo embora só quando escurecia, deixando o Nori muito apreensivo...
Casa da Thê era um dos pontos de referência que eu cultivava, além do pequeno
cemitério onde repousam meus pais... Hoje se fundiram num só ponto de
referência. Na Casa da Thê, a Thê não está mais...
E a Maria Adelaide me disse da imensa gratidão por ter sido
socorrida com os filhos, quando teu irmão foi acidentado. Disse que não era
capaz de falar em público, mas seus olhos estavam marejados de lágrimas.
Naquela cozinha de mesa redonda tomei café tantas vezes com a
Nena, com a Maria Adelaide, com a Sumiko, com a Harumi, com a Chiquinha, com a
Hilda, com a Lili, com a Nívea, com o Chumbo e a Márcia, com a Denise, com a
Teresa Fontana, com a Juliana, com a Áurea, com a Cida Pessoa, com meus
familiares (lembra-te quando fizemos a missa da mamãe no Kaikan?) Quanta
conversa jogada fora, quantas risadas gostosas... E a cachorra que ficava no teu
pé, e o gato que subia na pia?
E as orquídeas que tive que podar? Tão belas! Ficaram com quem?
E os bordados e os crochês que ficávamos mostrando como tesouros? E as belas peças com linha Mercer, que
crochetaste e guardarei como relíquias...
E hoje foi o teu funeral!
Nunca nessa relação feliz que cultivávamos desejei passar por
isso, porque parecias eterna. Nada te derrubaria, porque eras forte, teimosa e querias
viver. Tanto que no final com AVC, com pneumonia, com febre, com falta de ar,
com a respiração comprometida, teimaste em voltar a reviver e falar palavras de
consolo aos familiares...
E o teu funeral foi simples, cheio de sentimentos... Lá
compareceram o Jorge Chaim que foi teu amigo e companheiro na Delegacia de
Ensino, o Marcondes e a Áurea meio parentes teus, o Zé César teu dentista, a
Teresa Fontana, a Ziquinha, a Maurilia
e o Alfredo, o José viúvo da saudosa Odete, o Arthur e a Vergília, o Chumbo, o
Tato, a Lili, a Leonilde, os sobrinhos e sobrinhas que não lhes sei nomear... E
tantos amigos que não conheço, mas todos
ligados no desejo único de que Deus te receba em sua Glória.
No final, agradeci a Deus porque foste embora em 2016 para longe
da gente, porque isso nos forçou a acostumar com tua ausência... Mas, é tão
duro pensar que nunca mais vou te ver, Thê.
A morte é muito cruel.
Mas como criatura de Deus, tenho que aceitar e esperar que um
dia nos reencontremos.
Adeus, amiga! Que estejas conversando com os anjos.
Mirandópolis, 21 de novembro de 2017.
kimie oku in
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