Brincadeira
Como uso
muito o face book, notei que os usuários em sua maioria ignoram totalmente a
pontuação em suas postagens. Muitas vezes, tenho que ler em voz alta as
observações que fazem nos meus posts, para entender de fato o que tentam me
passar, colocando a pontuação que não aparece.
Ponto
final, vírgulas, interrogação, exclamação são sinais tão úteis para expressar
nossos pensamentos em textos, mas a maioria ignora. E o estranho é que todos
sabem da existência deles e de sua serventia... Todos aprenderam em algum
momento na escola, que é necessário pontuar as frases para ser devidamente
compreendido pelo leitor.
Então, só
por brincadeira farei hoje um texto sem nenhuma pontuação, para ser lido num
fôlego só. Quem usou essa fórmula foi o famoso colombiano prêmio Nobel de
Literatura Gabriel Garcia Marquez em “Cem anos de solidão”, que li várias vezes
e que possui frases que ocupam páginas e páginas, sem uma pontuação...
É um desafio de
verdade!
Sugiro que leiam o meu
texto em voz alta sem parar e depois coloquem as vírgulas e os pontos onde
acharem conveniente.
Começando:
“Estou ouvindo o
Ângelus que enche a cidade todos os dias com a Ave Maria vindo da igreja local
pela segunda vez no dia porque ao meio dia também aconteceu a mesma coisa antigamente
isso era feito pela rádio clube local às dezoito horas e segundo o livro tombo
da paróquia que tive a oportunidade de pesquisar sobre o padre Epifânio essa
pregação feita pelo pároco um dia foi cortada por desentendimentos políticos
entre o padre e os donos da estação local mas enquanto durou os católicos
ficavam de mãos postas e persignavam-se onde quer que se encontrassem esse
costume também acabou morrendo assim como muita coisa bonita foi esquecida como
os sinos da Igreja que se mantiveram silenciosos por décadas e décadas não sei
por que razão e que voltaram a bimbalhar há poucos anos com os novos padres que
assumiram a paróquia agora com o controle instalado lá na igreja ninguém mais
tem que ficar pendurado nas cordas para tocar os sinos basta apertar um botão e
os sinos tocam lindamente sem falhar mas sempre que escrevo sobre sinos é
inevitável citar uma experiência vivenciada pelo filósofo norte americano
Joseph Campbell que estudou sobre Mitos ele disse que sempre que ia a Paris gostava
de visitar a Catedral de Chartres onde se sentia realmente em paz como aparecia
sempre lá o zelador da igreja o convidou para subir na torre e tocar os sinos e
ele foi e lá ficou por um longo tempo pendurado nas cordas suspenso no ar indo
e vindo completamente emocionado enquanto a igreja toda vibrava em sons graves
dooom doooom doooom dooooom disse que foi uma das experiências mais marcantes
de sua vida e falando em sinos os nossos foram doados por gente que construiu a
nossa cidade o maior que pesa 530 quilos foi doado pela senhora Cunha Bueno e o
menor de 410 quilos pelos irmãos Santa Rosa de Pirajuí que tinham propriedades
agrícolas em Mirandópolis esses sinos fundidos em Campinas pela firma Viúva Viscardi
e Filhos trazem os nomes de seus doadores no maior está gravada a função de um sino
afugento as tempestades congrego o clero reúno os fiéis decoro as festas e
pranteio os mortos.
Acho que é bom começar
outro parágrafo porque fui dormir e hoje como é dia de finados fui ao cemitério
onde repousam os meus pais levar flores e oração já na entrada vi os mercadores de velas e
flores que são bem convenientes para quem se esqueceu de comprar essas coisas
mas um rapaz japonês perguntou se poderia cuidar do meu carro em Lavínia também
tem isso achei o fim da picada vi também venda de cervejas e outras bebidas
que achei um absurdo ninguém vai visitar os mortos e tomar cerveja encontrei
uns conhecidos de meu cunhado e alguns familiares o cemitério estava todo
florido de flores de plástico e de seda e algumas naturais que os zeladores
condenam por causa dos mosquitos da dengue da zika e chikungunha é assim que se escreve o vento estava forte e era
difícil manter as velas acesas será que as chamas das velas realmente iluminam
os caminhos das almas ou é apenas um recurso para consolar os vivos com essa intenção
de iluminação percebi que havia túmulos cobertos de coroas de flores sinal de
que o finado partira recentemente fui ao túmulo de um familiar e percebi que
ninguém esteve lá, nenhum filho nem a viúva e isso me deixou incomodada sete
anos se passaram e ele é uma página virada e esquecida como a memória das
pessoas é rasa e desrespeitosa não lembrar de quem lhe deu a vida vai se
lembrar de quem lhe ajudou um dia ah ingratidão ingratidão funda e inaceitável
o homem é uma caixa de pandora com segredos inaceitáveis e assim matutando
sobre a ingratidão humana voltei para casa e terminei esse texto sem pé nem
cabeça e sem pontuação nenhuma será que alguém vai me entender ou serei mal
interpretada por falta de sinais”
E fim!
Mirandópolis, novembro
de 2017.
kimie
oku in
Kimie
ResponderExcluirHora do Ângelus acho que por você ser de Lavínia não chegou ouvir através dos auto-falantes que existiram na cidade Tive o prazer de estar ao lado do Nane ( Sebastião Vieira de Faria )hoje tititi no alto do barracão que havia ao lado da casa do Naná ( Gabriel Candil ) e estrada de ferro NOB/plataforma da Cooperativa da 1ª Aliança onde ele comandava o auto-falante (nessa época bem provável que fosse do Vital) e sempre às 18:00 horas fazia o programa Hora do Angelus. Sinais que os badalos de hoje não são os mesmos de antigamente.
Beijos.
Que bom, Ulisses que você acrescentou esse detalhe. Tenho uma leve lembrança disso, que faz parte de nossa História.
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