quinta-feira, 2 de novembro de 2017

      Brincadeira
     
     Como uso muito o face book, notei que os usuários em sua maioria ignoram totalmente a pontuação em suas postagens. Muitas vezes, tenho que ler em voz alta as observações que fazem nos meus posts, para entender de fato o que tentam me passar, colocando a pontuação que não aparece.
     Ponto final, vírgulas, interrogação, exclamação são sinais tão úteis para expressar nossos pensamentos em textos, mas a maioria ignora. E o estranho é que todos sabem da existência deles e de sua serventia... Todos aprenderam em algum momento na escola, que é necessário pontuar as frases para ser devidamente compreendido pelo leitor.
     Então, só por brincadeira farei hoje um texto sem nenhuma pontuação, para ser lido num fôlego só. Quem usou essa fórmula foi o famoso colombiano prêmio Nobel de Literatura Gabriel Garcia Marquez em “Cem anos de solidão”, que li várias vezes e que possui frases que ocupam páginas e páginas, sem uma pontuação...
É um desafio de verdade!  
Sugiro que leiam o meu texto em voz alta sem parar e depois coloquem as vírgulas e os pontos onde acharem conveniente.
     Começando:
“Estou ouvindo o Ângelus que enche a cidade todos os dias com a Ave Maria vindo da igreja local pela segunda vez no dia porque ao meio dia também aconteceu a mesma coisa antigamente isso era feito pela rádio clube local às dezoito horas e segundo o livro tombo da paróquia que tive a oportunidade de pesquisar sobre o padre Epifânio essa pregação feita pelo pároco um dia foi cortada por desentendimentos políticos entre o padre e os donos da estação local mas enquanto durou os católicos ficavam de mãos postas e persignavam-se onde quer que se encontrassem esse costume também acabou morrendo assim como muita coisa bonita foi esquecida como os sinos da Igreja que se mantiveram silenciosos por décadas e décadas não sei por que razão e que voltaram a bimbalhar há poucos anos com os novos padres que assumiram a paróquia agora com o controle instalado lá na igreja ninguém mais tem que ficar pendurado nas cordas para tocar os sinos basta apertar um botão e os sinos tocam lindamente sem falhar mas sempre que escrevo sobre sinos é inevitável citar uma experiência vivenciada pelo filósofo norte americano Joseph Campbell que estudou sobre Mitos ele disse que sempre que ia a Paris gostava de visitar a Catedral de Chartres onde se sentia realmente em paz como aparecia sempre lá o zelador da igreja o convidou para subir na torre e tocar os sinos e ele foi e lá ficou por um longo tempo pendurado nas cordas suspenso no ar indo e vindo completamente emocionado enquanto a igreja toda vibrava em sons graves dooom doooom doooom dooooom disse que foi uma das experiências mais marcantes de sua vida e falando em sinos os nossos foram doados por gente que construiu a nossa cidade o maior que pesa 530 quilos foi doado pela senhora Cunha Bueno e o menor de 410 quilos pelos irmãos Santa Rosa de Pirajuí que tinham propriedades agrícolas em Mirandópolis esses sinos fundidos em Campinas pela firma Viúva Viscardi e Filhos trazem os nomes de seus doadores no maior está gravada a função de um sino afugento as tempestades congrego o clero reúno os fiéis decoro as festas e pranteio os mortos.
Acho que é bom começar outro parágrafo porque fui dormir e hoje como é dia de finados fui ao cemitério onde repousam os meus pais levar flores e oração  já na entrada vi os mercadores de velas e flores que são bem convenientes para quem se esqueceu de comprar essas coisas mas um rapaz japonês perguntou se poderia cuidar do meu carro em Lavínia também tem isso achei o fim da picada vi também venda de cervejas e outras bebidas que achei um absurdo ninguém vai visitar os mortos e tomar cerveja encontrei uns conhecidos de meu cunhado e alguns familiares o cemitério estava todo florido de flores de plástico e de seda e algumas naturais que os zeladores condenam por causa dos mosquitos da dengue da zika e  chikungunha é assim  que se escreve o vento estava forte e era difícil manter as velas acesas será que as chamas das velas realmente iluminam os caminhos das almas ou é apenas um recurso para consolar os vivos com essa intenção de iluminação percebi que havia túmulos cobertos de coroas de flores sinal de que o finado partira recentemente fui ao túmulo de um familiar e percebi que ninguém esteve lá, nenhum filho nem a viúva e isso me deixou incomodada sete anos se passaram e ele é uma página virada e esquecida como a memória das pessoas é rasa e desrespeitosa não lembrar de quem lhe deu a vida vai se lembrar de quem lhe ajudou um dia ah ingratidão ingratidão funda e inaceitável o homem é uma caixa de pandora com segredos inaceitáveis e assim matutando sobre a ingratidão humana voltei para casa e terminei esse texto sem pé nem cabeça e sem pontuação nenhuma será que alguém vai me entender ou serei mal interpretada por falta de sinais”
E fim!
Mirandópolis, novembro de 2017.
kimie oku in


     

2 comentários:

  1. Kimie
    Hora do Ângelus acho que por você ser de Lavínia não chegou ouvir através dos auto-falantes que existiram na cidade Tive o prazer de estar ao lado do Nane ( Sebastião Vieira de Faria )hoje tititi no alto do barracão que havia ao lado da casa do Naná ( Gabriel Candil ) e estrada de ferro NOB/plataforma da Cooperativa da 1ª Aliança onde ele comandava o auto-falante (nessa época bem provável que fosse do Vital) e sempre às 18:00 horas fazia o programa Hora do Angelus. Sinais que os badalos de hoje não são os mesmos de antigamente.
    Beijos.

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  2. Que bom, Ulisses que você acrescentou esse detalhe. Tenho uma leve lembrança disso, que faz parte de nossa História.

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