Eu conheci tanta gente nesse mundo.
Conheci gente bonita, gente feia, gente
boa, gente má, gente sábia, gente vazia, gente implacável, gente amável...
Conheci gente que cozinhou milho seco,
para os filhos não morrerem de fome. E sobreviveram... E amaram muito a mãe.
Conheci gente que passou fome e ficou tão
feliz com um punhadinho de açúcar branco, que uma vizinha doou...
Conheci
gente que mandava o filho cavoucar o chão para roubar batatas, que plantávamos.
Essa gente era japonesa...
Conheci duas mulheres que prometeram
colocar uma cédula, se não me engano de mil cruzeiros no caixão daquela que
morresse primeiro. Mil cruzeiros era valioso na época, como cem reais de hoje.
E a promessa não foi cumprida...
Conheci uma família inteira que chorou e
agradeceu a chuva, que Deus mandou no momento que mais precisava dela.
Conheci uma senhora meio bruxa, que
conseguia afugentar tempestades jogando sal grosso no tempo, quando o céu
ficava assustador demais. E o temporal ia embora, de verdade!
Conheci um aluno que mandou a professora
parir primeiro antes de “lhe meter a mão na cara”, como ameaçou. Ela não tinha
filhos...
Conheci um diretor de Escola que
consertava armários das salas de aula, para que funcionassem regularmente.
Conheci uma pessoa que, cuidava do
dinheiro e da conta de uma senhorinha interna no Asilo em outra cidade,
distante 40 quilômetros. E todo mês, ele levava o valor certinho, sem cobrar a
viagem. Arcanjo Gabriel?
Conheci uma pessoa que cuidou de uma
cria de casa, transformando-a em professora, para dar conta da própria vida.
Conheci uma pessoa que veio ao casamento de um irmão meu sem ser
convidado, para agradecer um favor que papai havia feito décadas antes...
Morava distante e veio de táxi, e o reencontro foi muito emocionante...
Conheci uma senhora muito educada que me serviu em casa, e
corrigiu os modos de meu caçula... Dona Joana.
Conheci uma pessoa inocente, que morreu injustiçada por causa de
fuxicos de comadres. Comadres famosas da sociedade...
Conheci um homem casado, que ocupava uma função local e teve a
ousadia de bater à porta de uma viúva para dormir com ela. E ela correu atrás
dele de madrugada com uma foice na mão. Nunca mais ousou falar com ela.
Conheci um deficiente mental que passava as tardes ninando um
punhado de galhos secos no colo, murmurando e andando pra lá, pra cá...
Conheci uma batian, que ensinava as boas maneiras para todas as
crianças da vizinhança. E ensinava a dançar e cantar canções japonesas.
Gratuitamente...
Conheci um pai que carregava o filho pequeno nas costas cantando
canções japonesas para o ninar... Era meu pai.
Conheci uma senhora que andou por mais de trinta anos, ministrando
jhorei para as pessoas necessitadas da cidade. Mamãe.
Conheci um homem desapegado de luxo e riqueza, pronto para
ajudar qualquer pessoa. Foi enganado dezenas de vezes, mas não perdeu a fé na
humanidade. E continua sendo generoso como sempre.
Por tudo isso, posso dizer que fui abençoada pois só conheci
pessoas que, de alguma forma me transformaram no que sou agora.
Pessoas que Deus colocou no meu caminho.
Mirandópolis, novembro de 2017.
kimie oku in
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