quinta-feira, 16 de novembro de 2017

                        Eu conheci...
        Eu conheci tanta gente nesse mundo.
        Conheci gente bonita, gente feia, gente boa, gente má, gente sábia, gente vazia, gente implacável, gente amável...
        Conheci gente que cozinhou milho seco, para os filhos não morrerem de fome. E sobreviveram... E amaram muito a mãe.
        Conheci gente que passou fome e ficou tão feliz com um punhadinho de açúcar branco, que uma vizinha doou...
        Conheci gente que mandava o filho cavoucar o chão para roubar batatas, que plantávamos. Essa gente era japonesa...
        Conheci duas mulheres que prometeram colocar uma cédula, se não me engano de mil cruzeiros no caixão daquela que morresse primeiro. Mil cruzeiros era valioso na época, como cem reais de hoje. E a promessa não foi cumprida...
        Conheci uma família inteira que chorou e agradeceu a chuva, que Deus mandou no momento que mais precisava dela.
        Conheci uma senhora meio bruxa, que conseguia afugentar tempestades jogando sal grosso no tempo, quando o céu ficava assustador demais. E o temporal ia embora, de verdade!
        Conheci um aluno que mandou a professora parir primeiro antes de “lhe meter a mão na cara”, como ameaçou. Ela não tinha filhos...
        Conheci um diretor de Escola que consertava armários das salas de aula, para que funcionassem regularmente.
        Conheci uma pessoa que, cuidava do dinheiro e da conta de uma senhorinha interna no Asilo em outra cidade, distante 40 quilômetros. E todo mês, ele levava o valor certinho, sem cobrar a viagem. Arcanjo Gabriel?
        Conheci uma pessoa que cuidou de uma cria de casa, transformando-a em professora, para dar conta da própria vida.
Conheci uma pessoa que veio ao casamento de um irmão meu sem ser convidado, para agradecer um favor que papai havia feito décadas antes... Morava distante e veio de táxi, e o reencontro foi  muito emocionante...
Conheci uma senhora muito educada que me serviu em casa, e corrigiu os modos de meu caçula... Dona Joana.
Conheci uma pessoa inocente, que morreu injustiçada por causa de fuxicos de comadres. Comadres famosas da sociedade...
Conheci um homem casado, que ocupava uma função local e teve a ousadia de bater à porta de uma viúva para dormir com ela. E ela correu atrás dele de madrugada com uma foice na mão. Nunca mais ousou falar com ela.
Conheci um deficiente mental que passava as tardes ninando um punhado de galhos secos no colo, murmurando e andando pra lá, pra cá...
Conheci uma batian, que ensinava as boas maneiras para todas as crianças da vizinhança. E ensinava a dançar e cantar canções japonesas. Gratuitamente...
Conheci um pai que carregava o filho pequeno nas costas cantando canções japonesas para o ninar... Era meu pai.
Conheci uma senhora que andou por mais de trinta anos, ministrando jhorei para as pessoas necessitadas da cidade. Mamãe.
Conheci um homem desapegado de luxo e riqueza, pronto para ajudar qualquer pessoa. Foi enganado dezenas de vezes, mas não perdeu a fé na humanidade. E continua sendo generoso como sempre.
Por tudo isso, posso dizer que fui abençoada pois só conheci pessoas que, de alguma forma me transformaram no que sou agora.
Pessoas que Deus colocou no meu caminho.
Mirandópolis, novembro de 2017.
kimie oku in









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