quarta-feira, 26 de dezembro de 2018




              Pets Não!
      
     De uns tempos para cá, todo mundo adotou um bichinho como se adotasse um filho de verdade. E isso virou uma febre.
      Difícil é descobrir famílias sem um gato, um cachorro, uma tartaruga, uma lebre... Eu sou uma dessa raridades e, as pessoas apaixonadas pelos pets me olham desconfiadas por não tem um bichinho em casa.
      Fui criada no sítio, e os cães com quem convivi eram cães de guarda, viviam no quintal e comiam restos que sobravam de nossas refeições... Não me lembro de ter carregado cães e gatos no colo, porque eram filhotes de seus pais e a eles competia cuidar deles.
    Quando me tornei adulta e já era professora, alguém me deu um cachorrinho preto, peludinho, que parecia uma bola de lã. Veludo... Era um filhotinho e chorava a ausência da mãe, dia e noite. Dei-lhe leite e carinho para que parasse de chorar, e aos poucos acabou se acostumando sem a mãe. Mas, essa experiência foi truncada um dia, porque o bichinho foi atropelado por um caminhão e ficou horas gemendo de dor... Só morreu quando cheguei da fazenda onde lecionava, e alisei o corpo machucado, arrasada por nada poder fazer. Naquela época não havia Clínicas Veterinárias...
      Essa experiência foi muito traumática.
E um dia conheci o Jackson, um cachorro alto, de pelos longos e pretos que brilhava demais ao sol. Parecia ser da raça Setter, mas era negro como carvão e parece que os Setter são de cor marrom. O dono era um fazendeiro que fora para sua terra de origem nas Arábias rever parentes, e por um infortúnio acabara falecendo por lá... E como o homem não voltava, o bichinho chorava e gania o dia todo, e atacava os bezerros da fazenda, causando grandes transtornos. Ele não aceitava ficar preso. E o Administrador da Fazenda, um cearense arretado chamado José João me pediu que ficasse com ele. Levei a carga preciosa para um sítio perto de Tabajara, que distava uns 40 quilômetros de distância. Foi sobre uma camioneta e lá ficou com meu irmão e sua família. Para que não fugisse, amarraram-no e cuidaram dele com comida e água. Após uma semana, quando ele estava mais calmo, tiraram-lhe a coleira. No mesmo instante, ele saiu como uma flecha e desapareceu. Quando cheguei no final de semana lá, soube do ocorrido e fiquei com muita pena do Jackson, imaginando por onde andaria... Ao retornar à Escola na segunda feira, soube que o Jackson havia voltado para a Fazenda... Chorei muito por ter lhe causado tanto sofrimento, percorrendo 40 quilômetros para voltar para casa... E prometi a mim mesma que nunca mais teria um cachorro.
Anos mais tarde, um filho meu apareceu com um filhote de boxer, de cor marrom e branco. Era lindinho. E mesmo não querendo mais me apegar a bicho nenhum, acabei cuidando dele porque os filhos trazem esses bichos, mas quem acaba cuidando sempre é a mãe. Quer queira ou não. E o Fred era um cachorro muito dócil apesar de enorme e pesado. Cresceu rápido e gostava muito de brincar com crianças. Eu me lembro que certa vez, ele foi comigo ao Bosque Municipal e estava tranquilo andando comigo. De repente, apareceu um bando de crianças da APAE local. Fred foi lhes dar as boas vindas, mas as crianças não entenderam e gritaram e choraram! Fui lá e acalmei as crianças. Daí a pouco, ele estava no meio de uma roda saltando e aparando a bola, que os meninos jogavam para ele. Foi uma festa! A meninada foi embora  dando chau para ele...
Mas o que o Fred gostava mesmo era ir pro nosso sítio. Logo que lá chegava, ia no meio do pasto e escolhia uma vaca, a quem atormentava por horas e horas latindo na sua cara... A vaca avançava nele, ele corria e depois voltava à carga. Quando estava cansadíssimo de tanto latir, pulava no açude e se refrescava. Depois, voltava novamente para a missão de atormentar a dita vaca... Isso era pela tarde inteira...
Quando ele estava com mais de dez anos, teve a doença da moda Leishmaniose, que o deixou magro, triste e esquelético. Na época não havia remédio para sua cura. Por orientação do Veterinário Tom, tivemos que sacrificá-lo... Ele não queria morrer, e resistiu à droga por duas horas no meu colo. Chorei como louca e o Tom também sofreu muito. Nós o enterramos no barranco lá do sítio, que tanto amava. Pertinho da porteira, para dar as boas vindas a todos que lá vão...
Então jurei que não mais aceitaria um pet em casa.
E desde então, nunca mais tive um cão, um gato.
Mas, de coração respeito os bichos e morro de pena dos cães e dos gatos tão indefesos, que gente da cidade descarta jogando-os lá no sítio. O caseiro que lá mora faz o que pode, mas não consegue cuidar de todos. Toda semana há novos cães e gatos. E ninguém lhes leva ração. Uns morrem atropelados na Vicinal que passa pertinho, outros desaparecem... E eu não pretendo ter um canil nunca. Cada dono que se responsabilize por suas ações.
Por tudo isso, adotei os pássaros como meus pets. Em especial os pardais da cidade. Eles não se deixam aprisionar, vivem cantando soltos, procriando no forro da minha Biblioteca e não atormentam ninguém. Gosto de vê-los tão livres, brincando em poças de areia ou de água, brigando por uma migalha de pão, que lhes ofereço todas as manhãs ao tomar o meu café. E como cantam!
Dentre eles, havia um rabicó, que voava desajeitado, acho que por falta de equilíbrio, mas desapareceu. Talvez na boca de um gato, que aqui há aos montes... Os pardais são os meus despertadores. Toda manhã, os filhotinhos pipilam pedindo comida para os pais... Depois são as maritacas barulhentas e escandalosas que ajudam na Sinfonia. Também há os pombos. os fogo apagou, os peixe frito, as rolinhas, a pomba Juriti que chora como uma criança... E também vejo muitas gralhas cruzando os céus, além das araras que parecem conversar enquanto voam aos pares...
E lá no sítio, aparecem tucanos, bem te vis, sabiás, tico ticos, melros, joões de barro tão mansinhos, canários da terra, chupins... Uma infinidade. Até siriemas e garças.
E nunca pretendo aprisionar essas aves, porque elas foram feitas para voar, e não para ficarem limitadas a espaços. A vocação do homem e dos bichos é andar, pra isso Deus nos deu duas pernas ou quatro patas... Imaginem se nos prendessem numa árvore para nunca mais andar! É exatamente assim que devem sentir os pássaros presos em gaiolas...
Por isso, os meus pets estão soltos no espaço e muito felizes.
Mirandópolis, dezembro de 2018.
kimie oku in






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