terça-feira, 22 de janeiro de 2019




A minha Rua São João

O amigo Ademar Bispo postou uma crônica no meu face em que a figura central é uma jaqueira. Sim, uma jaqueira que dá aqueles frutos enormes e espinhudos, que alguns amam e devoram e, outros não lhes suportam o cheiro adocicado e enjoativo, que atrai abelhas e moscas.
A jaqueira existiu há décadas nessa mesma rua que moro, a famosa Rua São João, que foi o play ground da molecada nos anos 50/60. Essa rua já teve outras crônicas, que a descreveram como a Rua da Delegacia de Polícia, a Rua da Feira de domingo em que se vendiam frutas e verduras. Foi a rua onde os moleques jogavam bola de tardezinha, em que se reuniam os companheiros do Bispo e do Ulisses Silva Lacerda planejando assaltos aos pomares vizinhos, para roubar bananas, laranjas e melancias...
Naquela época era uma rua de terra batida, cheia de buracos, sem guia, sem calçada e sem iluminação. Mas, com a urbanização, o aspecto foi melhorando e além das calçadas e do asfalto, ganhou algumas árvores, cujas sombras são disputadíssimas o ano inteiro, porque aqui sempre é Verão. Mas, jaqueira não há. Há sibipirunas, uma das quais bem em frente à minha casa, que produz uma sombra maravilhosa, que se eu cobrasse R$5.00 de cada carro que aproveita sua sombra, hoje estaria rica de verdade. Mas, há coqueiros, chapéu de sol, patas de vaca e algumas outras árvores.
O que chama atenção na minha rua São João de agora é a população que aqui mora. Daquela molecada de cinquenta, sessenta anos atrás, não resta ninguém. A maioria das construções sofreu reformas e o aspecto geral mudou bastante. Ficou com um aspecto mais urbano. E todo mundo que mora aqui tem mais de mais de sessenta, setenta anos. Alguns com mais de oitenta. Todos idosos e aposentados... Em geral cada casa abriga um casal apenas e, em algumas mora apenas uma pessoa. A população envelheceu e muitos já partiram para o céu... Não há crianças na minha rua! Só gente idosa. Então é uma rua silenciosa e muito parada. Aqui no meu pedaço felizmente há uma jovem adolescente, a Bruna. É a única. Que dá um toque primaveril ao local.
Outro detalhe: a Rua está se tornando comercial. Nas cinco quadras pra cima e pra baixo instalaram-se bares, oficinas mecânicas, Sapataria do Zagato (desde outras eras), uma loja de produtos para a Agropecuária, Salões de Cabeleireiras, Pet Shops ou Veterinárias, Clínicas Médicas, Odontológicas, Psicológicas, Escritórios de Advocacia, Empresa de ônibus, Loja de roupas e calçados, além de uma Loja de materiais de construção. Devagarinho está perdendo o aspecto de moradia para se tornar mais comercial.
A Rua São João começa lá no pontilhão para Amandaba e termina na Rua que vai para o Cemitério local. Era considerada a rua mais longa, mas perdeu para a Rafael Pereira que acabou se emendando com a Vicinal para Lavínia.
Durante o dia, enquanto funciona o comércio, não há vaga para estacionar carros. Às vezes, até fico irritada porque tem gente que fecha a saída de minha garagem, impedindo-me de guardar ou sair com o carro, tal é o movimento nessa rua. É que a São João é paralela à rua Nove de Julho, que é totalmente comercial.
A vantagem de se morar nessa rua, entre a Praça Manoel Alves de Ataíde e o Clube Nipo é que dispomos de tudo à mão:  a Igreja, os Bancos, Farmácias, Mercearias, Mercados, Lojas de Calçados, de vestuários, de móveis, as Pernambucanas, os Escritórios e os Cartórios... Tudo pode ser alcançado indo a pé, sem precisar usar o carro. Mesmo porque está difícil achar uma vaga no horário comercial. Acho que hoje há dois carros para cada habitante local....
Mas, o que mais eu sinto é o silêncio nos fins de semana. Tudo quieto e silencioso. Às vezes, um cão que late, um carro que passa. E é só. A rua vazia, completamente vazia de carros e de gentes...
Então, para espantar o silêncio, vou ao piano e dedilho algumas valsas e sonatas. Acho que sou a única barulhenta do pedaço.
Mirandópolis, janeiro de 2019.
kimie oku in


     


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