A minha
Rua São João
O
amigo Ademar Bispo postou uma crônica no meu face em que a figura central é uma
jaqueira. Sim, uma jaqueira que dá aqueles frutos enormes e espinhudos, que
alguns amam e devoram e, outros não lhes suportam o cheiro adocicado e enjoativo,
que atrai abelhas e moscas.
A
jaqueira existiu há décadas nessa mesma rua que moro, a famosa Rua São João,
que foi o play ground da molecada nos anos 50/60. Essa rua já teve outras
crônicas, que a descreveram como a Rua da Delegacia de Polícia, a Rua da Feira
de domingo em que se vendiam frutas e verduras. Foi a rua onde os moleques
jogavam bola de tardezinha, em que se reuniam os companheiros do Bispo e do
Ulisses Silva Lacerda planejando assaltos aos pomares vizinhos, para roubar
bananas, laranjas e melancias...
Naquela
época era uma rua de terra batida, cheia de buracos, sem guia, sem calçada e
sem iluminação. Mas, com a urbanização, o aspecto foi melhorando e além das
calçadas e do asfalto, ganhou algumas árvores, cujas sombras são disputadíssimas
o ano inteiro, porque aqui sempre é Verão. Mas, jaqueira não há. Há
sibipirunas, uma das quais bem em frente à minha casa, que produz uma sombra
maravilhosa, que se eu cobrasse R$5.00 de cada carro que aproveita sua sombra,
hoje estaria rica de verdade. Mas, há coqueiros, chapéu de sol, patas de vaca e
algumas outras árvores.
O
que chama atenção na minha rua São João de agora é a população que aqui mora.
Daquela molecada de cinquenta, sessenta anos atrás, não resta ninguém. A
maioria das construções sofreu reformas e o aspecto geral mudou bastante. Ficou
com um aspecto mais urbano. E todo mundo que mora aqui tem mais de mais de
sessenta, setenta anos. Alguns com mais de oitenta. Todos idosos e aposentados...
Em geral cada casa abriga um casal apenas e, em algumas mora apenas uma pessoa.
A população envelheceu e muitos já partiram para o céu... Não há crianças na
minha rua! Só gente idosa. Então é uma rua silenciosa e muito parada. Aqui no
meu pedaço felizmente há uma jovem adolescente, a Bruna. É a única. Que dá um
toque primaveril ao local.
Outro
detalhe: a Rua está se tornando comercial. Nas cinco quadras pra cima e pra
baixo instalaram-se bares, oficinas mecânicas, Sapataria do Zagato (desde
outras eras), uma loja de produtos para a Agropecuária, Salões de
Cabeleireiras, Pet Shops ou Veterinárias, Clínicas Médicas, Odontológicas,
Psicológicas, Escritórios de Advocacia, Empresa de ônibus, Loja de roupas e
calçados, além de uma Loja de materiais de construção. Devagarinho está
perdendo o aspecto de moradia para se tornar mais comercial.
A
Rua São João começa lá no pontilhão para Amandaba e termina na Rua que vai para
o Cemitério local. Era considerada a rua mais longa, mas perdeu para a Rafael
Pereira que acabou se emendando com a Vicinal para Lavínia.
Durante
o dia, enquanto funciona o comércio, não há vaga para estacionar carros. Às
vezes, até fico irritada porque tem gente que fecha a saída de minha garagem,
impedindo-me de guardar ou sair com o carro, tal é o movimento nessa rua. É que
a São João é paralela à rua Nove de Julho, que é totalmente comercial.
A
vantagem de se morar nessa rua, entre a Praça Manoel Alves de Ataíde e o Clube
Nipo é que dispomos de tudo à mão: a
Igreja, os Bancos, Farmácias, Mercearias, Mercados, Lojas de Calçados, de
vestuários, de móveis, as Pernambucanas, os Escritórios e os Cartórios... Tudo
pode ser alcançado indo a pé, sem precisar usar o carro. Mesmo porque está difícil
achar uma vaga no horário comercial. Acho que hoje há dois carros para cada
habitante local....
Mas,
o que mais eu sinto é o silêncio nos fins de semana. Tudo quieto e silencioso.
Às vezes, um cão que late, um carro que passa. E é só. A rua vazia,
completamente vazia de carros e de gentes...
Então,
para espantar o silêncio, vou ao piano e dedilho algumas valsas e sonatas. Acho
que sou a única barulhenta do pedaço.
Mirandópolis,
janeiro de 2019.
kimie
oku in
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