domingo, 27 de janeiro de 2019





            Idolatria


Toda vez que leio essa palavra, vem à minha mente a pintura de Rembrandt que mostra Jesus expulsando os vendilhões do Templo de Jerusalém.
Jesus foi ao Templo e vendo aquela feira armada na escadaria, se revoltou e pegando um chicote espantou os bois, os carneiros e as pombas que ali estavam, para serem vendidos pelos comerciantes locais.
E disse “A casa de meu Pai será a casa de oração e não um covil de mercadores.”
Sei que é esquisito associar idolatria à essa passagem da Bíblia. Mas para mim, Jesus estava revoltado com o apego ao materialismo, à moeda, que movia esse mercado improvisado. Todos estavam ali para negociar, para ganhar uns trocados, para encher os bolsos. E não para orar. Idolatria da moeda.
Antigamente, a humanidade movida pelo medo idolatrou fenômenos da natureza como o Sol, a Lua, o Trovão, a Chuva, a Terra, a Água... Depois, passou a idolatrar animais e mais tarde os humanos que se sobressaiam em suas tribos. Sempre houve necessidade de se eleger um Mito, um Ser que julgavam poderoso e que viria em seu socorro nas horas de perigo...
O Homem de hoje também tem necessidade de um modelo, de uma imagem que sirva de exemplo para copiar e não se perder nesse mundo.
E assim ao longo dos tempos os Xamãs, os Sacerdotes, os heróis locais passaram a ser os Mitos a serem copiados.
Na era moderna, muitos mitos foram criados e copiados. Atores de cinema, heróis de guerra, Reis e Rainhas, Santos da Igreja e Pensadores famosos. Assim Marilyn Monroe, Ayrton Sena, Santo  Agostinho, Papa João Paulo II, Tiradentes, Elvis Presley, Pelé, a Princesa Grace de Mônaco, Madre Teresa de Calcutá e John Lennon são alguns dos modelos adotados pela humanidade para serem copiados. Porque todos eles se sobressaíram de alguma forma em seu mister.
Ainda hoje na Índia, a vaca é considerada sagrada, e a respeitam como a um Deus. A vaca lá é intocável.
Desde sempre, o homem sentiu necessidade de um modelo, de um herói, para servir de exemplo em suas ações do cotidiano. Felizmente, sempre elegeram modelos bons e não os párias da sociedade.
Mas o tempo de idolatria já passou. E todo herói tem suas virtudes e seus defeitos. Nenhum mito é perfeito. Nenhum, porque todos são humanos e humanos erram em algum momento da vida. Mesmo que procurem a perfeição.
Então não entendo essa mania de idolatria que tomou posse de certos eleitores, que publicam tantas bobagens nas redes sociais. Postam fotos e atribuem falas não faladas por seus ídolos, como se fossem pessoas perfeitíssimas, que tudo vêm, que tudo podem, que tudo ouvem. Que vão fazer isso e aquilo... Que nunca passou pela imaginação deles. Como se eles fossem videntes que enxergam os passos que os próprios ditos heróis ignoram...
Ora, sabemos que os governantes por mais íntegros que sejam, são dolorosamente humanos e como tais podem cometer gafes, falar inconveniências, errar protocolos... Porque não são deuses, porque são humanos. Humanos. Apenas humanos, mesmo que firmemente bem intencionados.
Mas os idólatras querem endeusá-los e postam tantas inconveniências, que deixam com certeza as personagens citadas de saia justa. E isso é péssimo. Temos sempre que ter os pés no chão. E não criar fantasias e inventar expectativas que poderão nunca se realizar. Eleitores que assim agem, querem mandar nos seus eleitos para que seus sonhos se realizem. Isso demonstra falta de fé, de confiança. Porque os eleitos têm suas personalidades e acredito que tenham suas competências. Então é preciso acreditar. E confiar.
E não inventar um mundo de mentiras.
Porque isso só acirra mais a aversão dos adversários.
E isso é o que mais deploro no momento.
Porque agora é o momento de trabalho, de fé e de união.
Mirandópolis, janeiro de 2019.
kimie oku in


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