Idolatria
Toda vez que leio essa
palavra, vem à minha mente a pintura de Rembrandt que mostra Jesus expulsando os
vendilhões do Templo de Jerusalém.
Jesus foi ao Templo e
vendo aquela feira armada na escadaria, se revoltou e pegando um chicote
espantou os bois, os carneiros e as pombas que ali estavam, para serem vendidos
pelos comerciantes locais.
E disse “A casa de
meu Pai será a casa de oração e não um covil de mercadores.”
Sei que é esquisito
associar idolatria à essa passagem da Bíblia. Mas para mim, Jesus estava
revoltado com o apego ao materialismo, à moeda, que movia esse mercado
improvisado. Todos estavam ali para negociar, para ganhar uns trocados, para
encher os bolsos. E não para orar. Idolatria da moeda.
Antigamente, a
humanidade movida pelo medo idolatrou fenômenos da natureza como o Sol, a Lua,
o Trovão, a Chuva, a Terra, a Água... Depois, passou a idolatrar animais e mais
tarde os humanos que se sobressaiam em suas tribos. Sempre houve necessidade de
se eleger um Mito, um Ser que julgavam poderoso e que viria em seu socorro nas
horas de perigo...
O Homem de hoje também
tem necessidade de um modelo, de uma imagem que sirva de exemplo para copiar e
não se perder nesse mundo.
E assim ao longo dos
tempos os Xamãs, os Sacerdotes, os heróis locais passaram a ser os Mitos a serem
copiados.
Na era moderna, muitos
mitos foram criados e copiados. Atores de cinema, heróis de guerra, Reis e
Rainhas, Santos da Igreja e Pensadores famosos. Assim Marilyn Monroe, Ayrton
Sena, Santo Agostinho, Papa João Paulo
II, Tiradentes, Elvis Presley, Pelé, a Princesa Grace de Mônaco, Madre Teresa
de Calcutá e John Lennon são alguns dos modelos adotados pela humanidade para
serem copiados. Porque todos eles se sobressaíram de alguma forma em seu mister.
Ainda hoje na Índia, a
vaca é considerada sagrada, e a respeitam como a um Deus. A vaca lá é
intocável.
Desde sempre, o homem
sentiu necessidade de um modelo, de um herói, para servir de exemplo em suas
ações do cotidiano. Felizmente, sempre elegeram modelos bons e não os párias da
sociedade.
Mas o tempo de
idolatria já passou. E todo herói tem suas virtudes e seus defeitos. Nenhum
mito é perfeito. Nenhum, porque todos são humanos e humanos erram em algum
momento da vida. Mesmo que procurem a perfeição.
Então não entendo essa
mania de idolatria que tomou posse de certos eleitores, que publicam tantas
bobagens nas redes sociais. Postam fotos e atribuem falas não faladas por seus
ídolos, como se fossem pessoas perfeitíssimas, que tudo vêm, que tudo podem,
que tudo ouvem. Que vão fazer isso e aquilo... Que nunca passou pela imaginação
deles. Como se eles fossem videntes que enxergam os passos que os próprios
ditos heróis ignoram...
Ora, sabemos que os
governantes por mais íntegros que sejam, são dolorosamente humanos e como tais
podem cometer gafes, falar inconveniências, errar protocolos... Porque não são
deuses, porque são humanos. Humanos. Apenas humanos, mesmo que firmemente bem
intencionados.
Mas os idólatras
querem endeusá-los e postam tantas inconveniências, que deixam com certeza as
personagens citadas de saia justa. E isso é péssimo. Temos sempre que ter os
pés no chão. E não criar fantasias e inventar expectativas que poderão nunca se
realizar. Eleitores que assim agem, querem mandar nos seus eleitos para que
seus sonhos se realizem. Isso demonstra falta de fé, de confiança. Porque os
eleitos têm suas personalidades e acredito que tenham suas competências. Então
é preciso acreditar. E confiar.
E não inventar um
mundo de mentiras.
Porque isso só acirra
mais a aversão dos adversários.
E isso é o que mais
deploro no momento.
Porque agora é o
momento de trabalho, de fé e de união.
Mirandópolis, janeiro
de 2019.
kimie
oku in
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