Assuntando...

Ontem fomos à Fazenda da dona Zilda cirandar um pouquinho.

E percebi como as pessoas mais idosas estão ansiosas para viver.

Confinamento forçado as deixou assim...

Todos querem sair, ver amigos, tomar café com alguém...

É que para as pessoas idosas o tempo é muito precioso.

É preciso viver hoje!

Amanhã, quem sabe o que acontecerá?

Levamos umas amigas que se viram forçadas a permanecer em casa, o tempo todo.

Forçadas pelos familiares preocupados.

E elas andavam tristonhas, cabisbaixas, sem alento.

Mas lá na Fazenda, elas andaram, falaram, comeram, apreciaram flores, viram as pastagens secas, os animais,  admiraram a bela fazenda, a moradia inusitada, os móveis antigos e bem preservados, as fotos de família, brincaram e deram muita risada!

Felizes, muito felizes!

Você meu amigo, você minha amiga e eu saímos para as compras, e nos distraímos vendo gente por aí...

Dirigimos nossos carros bem ou mal, e temos a liberdade de ir buscar tudo de que precisamos em casa.

Mas, os mais idosos não!

Estão de castigo desde fevereiro! A vida parou...

Por ordem estrita da família, para preservar suas vidas...

E toda compra é feita pelos filhos, pelos auxiliares...

E nunca mais viram as comadres, os compadres...

E nem os netos...

Viver assim não é viver.

É um suplício!

Eu entendo que isso não faz bem para a saúde.

O homem e a mulher são gregários.

Gregários significa que não conseguem viver sós.

Até um cachorrinho chora quando deixado sozinho.

Porque ninguém nos ensinou a viver sozinhos.

A solidão é uma coisa dolorosa.

A solidão é pesada e deprimente.

Amigo, amiga, levem seus idosos a dar uma volta de carro.

Mesmo que não desçam em lugar algum, eles se distrairão.

Vendo gentes, carros e ambulantes.

Vendo o jacarandá todo florido lá na esquina.

Vendo as filas nas Lotéricas e nos Correios...

Vendo as coloridas roupas de verão nas vitrines.

Vendo gente comprando, gente apressada.

Vendo os moto taxistas sempre acelerados...

A ordem sanitária é para amordaçar a boca e o nariz.

Nunca foi para vedar olhos e ouvidos.

Mirandópolis, setembro de 2020.

kimie oku in

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