Tokugawa Ieyasu
Aos dois anos de idade, perdeu a mãe que foi
devolvida à família de origem, por questões políticas... Nunca mais a teria
perto de si...
Com
seis anos ao ser encaminhado como refém da família Imagawa Yoshimoto, foi
raptado pela família de Oda Nobuhide... Nobuhide mandou uma mensagem ao pai Matsudaira
Hirotada, para se aliar a ele, e garantir a vida do garoto. E o pai respondeu
que era aliado da Família Imagawa e não se importava com o destino do
filho... Aos oito anos, seu pai faleceu... Dos 9 aos 15 anos ficou refém da
Família Imagawa...
Estava destinado a ser um homem revoltado,
porque não conhecera amor materno e nem paterno, fora moeda de troca de acordos
políticos e passara a infância só em companhia de um bando de Monges em
Monastérios... Mas Tokugawa Ieyasu, cujo primeiro nome fora Takechiyo tinha uma
força interior, e uma firmeza de caráter que o tornariam um dos homens mais
amados e poderosos do Japão. A moeda de troca que fora jogada pra lá e pra cá
se transformaria num guerreiro e governante insuperável.
Nos
dois anos que foi refém dos Oda, conheceu Nobunaga que tinha oito anos mais que
ele. E Nobunaga foi companheiro, amigo, orientador e treinador do garoto,
ensinando-lhe a nadar, a andar a cavalo e outras estratégias que lhe seriam
úteis pela vida afora. Nobunaga o tratou como a um irmãozinho e deve ter sido a
melhor fase da infância do Yeyasu. O mesmo Nobunaga que fora considerado o “tolo
de Owari” e que seria um dos mais poderosos Xoguns da História do Japão.
Era das Guerras. Quem podia mais tomava as terras dos que não podiam se
defender. E após muitas invasões, restavam umas dezenas de poderosos suseranos,
que mediam forças entre si. Todo o Japão convulsionado em
guerras sem fim...
Houve
um confronto entre as forças de Imagawa e Oda. As forças de Imagawa invadiram
uma das propriedades dos Oda. Essa propriedade era controlada pelo irmão mais
velho de Nobunaga, Oda Nobuhiro, que acabou se tornando refém deles. Em vias de
perder o Castelo, Nobunaga foi notificado por Imagawa Yoshimoto que se quisesse
salvar o irmão, devolvesse o Takechiyo ou Ieyasu. E esse deixou de ser refém
dos Oda e passou a ser refém dos Imagawa, dos nove aos quinze anos.
Aos quinze anos, Takechiyo proclamou sua maioridade com o genpuku. E recebeu a missão de combater o clã Oda. Ele teria que combater Nobunaga que tinha sido tão gentil em sua infância! Mas ordens são ordens, ainda mais para um refém... Para a felicidade de Ieyasu, Nobunaga se antecipou e matou o seu opressor Imagawa Yoshimoto.
Com
Yoshimoto morto, Ieyasu se libertou do cativeiro e se uniu a Nobunaga. Com ele
encetou a conquista de Feudos e Suseranos adversários e aos poucos acabaram
pacificando o país. Em 1567 mudou seu nome para Tokugawa Ieyasu e começou a sua
ascensão como um poderoso Suserano, respeitado até por Nobunaga.
Havia
um grupo de Monges guerreiros muito poderosos que possuíam Templos em todo o
Japão. Eram os Monges Militares de Mikawa Monto. Eles não se submetiam ao
Xogunato, e estavam sempre em guerrilhas contra os vizinhos. E Ieyasu foi
incumbido de combatê-los. E ele os venceu e destruiu seus Templos.
Em
seguida uniu-se ao poderoso exército de Takeda Shingen de Kai e foi pra cima
dos Imagawa, seus antigos opressores que se opunham ao Xogunato. Ele os
derrotou e acabou com seu reinado.
Mas
o poder e a fama de Ieyasu crescendo começou a incomodar Takeda Shingen, que se
aliou a Hojou Ujiyasu e atacaram territórios dos Tokugawa. Nobunaga mandou
reforços, mas foram derrotados. Ieyasu se retirou para se preparar melhor.
Nesse
ínterim, morre Takeda Shingen, o mais temido inimigo de Nobunaga e de Ieyasu. E
contrariando Shingen que, no leito da morte ordenara ao filho Katsuyori para
permanecer nos limites de seu território, o afoito jovem partiu para o ataque
ao Castelo de Nagashino em Mikawa, território dos Tokugawa. Ieyasu estava preparado
e Nobunaga se juntou a ele com trinta mil homens. Foi uma batalha terrível, em
que o chão ficou coalhado de sangue dos dois exércitos. Terminou com a derrota
dos Takeda, mas Katsuyori conseguiu fugir...
A esposa de Ieyasu e seu filho estavam incomodados
com o domínio de Nobunaga, e se aliaram a Takeda Katsuyori para conspirar a sua
morte. Ao descobrir isso, o Xogun exigiu que executasse ambos. E Ieyasu o
fez! A esposa foi executada e o filho teve que praticar o haraquiri. Missão
difícil, mas ele a cumpriu como prova de fidelidade a Nobunaga... Era matar ou
morrer...
O
fim dos conflitos só ocorreu em 1582 após a conquista do território de Kai
terra dos Takeda, pelos exércitos de Oda e Tokugawa. Katsuyori cometeu suicídio
por haraquiri e isso marcou o fim do Clã Takeda, tão invencível que marcou
época no Japão.
Tudo
estava indo conforme os planos de unificação do país de Nobunaga, com a derrota
e submissão dos mais poderosos suseranos. Mas de repente, Akechi Mitsuhide foi
ao Templo Honnou onde descansava Nobunaga, e o obrigou a praticar haraquiri...
Essa morte comoveu todo o Japão, porque Nobunaga estava acabando com a Era das
Guerras que havia assolado o país, e restituído a paz tão desejada pelos
japoneses. Todos temiam a volta das guerras.
Pela
importância e pela capacidade, Ieyasu seria o sucessor natural de Nobunaga.
Mas, havia um vassalo fidelíssimo ao Xogun, que se antecipou e saiu à caça de
Mitsuhide. Toyotomi Hideyoshi, que moveu céus e terras para vingar a morte de
Nobunaga. E acabou comandando o Feudo dos Oda. E Ieyasu perdeu a chance de ser
o próximo Xogun...
E
por questões de sucessão, o filho de Nobunaga recorreu a Ieyasu e declarou
guerra a Hideyoshi. Seis meses se confrontaram, mas como ambos os lados eram fortes
não houve vitória nem derrota. Hideyoshi percebeu que era melhor ter o Ieyasu
como aliado e não como inimigo. Então propôs um acordo de paz a Ieyasu, que
aceitou.
Então
Ieyasu e Hideyoshi somaram as forças.
Pouco
a pouco, Hideyoshi foi assumindo o papel de Xogun e dominando todos os Feudos
da região Sul e do Oeste. E determinou que Ieyasu controlasse o Leste e o
Nordeste.
Havia
um jovem que funcionava como um Tesoureiro, que era de total confiança do
Hideyoshi. Ishida Mitsunari, que tinha verdadeira devoção por Nobunaga e
Hideyoshi. Quando percebeu que o Ieyasu estava cada vez mais próximo de
Hideyoshi, começou a ficar muito incomodado. E na surdina começou a tramar
contra Ieyasu... E Ieyasu percebia as manobras do jovem e estava sempre de olho
nele, sem nada dizer... Só observando.
Esse
Mitsunari tinha forte ligação com uma das concubinas de Hideyoshi, que era
sobrinha do Xogun morto Nobunaga. E essa devoção o iria perder um dia...
Guindado a um posto de confiança por Hideyoshi como líder do Clã Toyotomi,
pretendeu um dia derrubar Hideyoshi, e se aliou a Ieyasu para conseguir esse
objetivo. Mas, Ieyasu era muito mais perspicaz... Ele apenas esperava o momento
de intervir.
Com
a morte de Nobunaga os mais fortes suseranos resolveram tomar as propriedades
do clã Oda. Houve um confronto entre Ieyasu e Hojou, que após algumas batalhas
indefinidas terminaram num acordo de paz. Enquanto isso, Hideyoshi estava
empenhado em vingar a morte de Nobunaga, mas Ieyasu não participou dessa guerra
contra Akechi Mitsuhide, que no final foi morto por um lavrador.
Hideyoshi
prejudicara os herdeiros de Nobunaga na partilha dos bens e na questão da
sucessão, então Ieyasu se aliou a Nobukatsu filho do Xogun morto e partiu para
o ataque. Após dois meses de enfrentamento, tudo terminou num acordo de paz.
Havia
ainda um Suserano resistindo; era o Hojou Ujiyasu, que não reconhecia Hideyoshi
como Xogun. Era um poderoso senhor de oito Províncias da região de Kanto (região
que abrange Tóquio atualmente). Ieyasu e
Hideyoshi partiram para o ataque aos vários castelos com duzentos mil homens.
Hojou derrotado e seus líderes se suicidaram. O Clã Hojou também fora
aniquilado.
E
de repente, Ieyasu se tornou o Senhor das oito Províncias ou Estados de Kanto
em troca de Kai, Suruga, Shinano, Totomi e Mikawa da região de Kansai. Transformou-se no segundo
homem mais influente do Japão. Controlou e pacificou os samurais de Hojou. E
modernizou a infraestrutura das Províncias, conquistando o respeito de seus
vassalos. A História considera que “Ieyasu ganhou o Império recuando”
Quando
Hideyoshi doente pressentiu o seu fim, nomeou um Conselho de Anciãos para
governar o país, no lugar de seu filho de seis anos. Era o Conselho de
Regentes, do qual Ieyasu foi escolhido como Conselheiro Mor. Além de Tokugawa
Ieyasu, participaram Maeda Toshie, Mori Terumoto, Ukita Hideye e Uesugi
Kagekatsu.
Como
Conselheiro Mor, Ieyasu estabeleceu alianças com os suseranos contrários a Hideyoshi
preparando o terreno para o seu Xogunato, que se estabeleceria aos poucos com a
morte de Hideyoshi. Dois anos depois, morre o Conselheiro mais idoso Maeda
Toshie.
Ieyasu
tomou o controle do Castelo de Osaka, onde residia o filho de Hideyoshi,
Hideyori e sua mãe. Que era uma das sobrinhas de Nobunaga. Isso despertou a ira
dos demais Conselheiros e de Ishida Mitsunari. Este planejou matar Ieyasu, mas foi perseguido pelos generais.
Tentou escapar vestido de mulher, porém foi protegido pelo próprio Ieyasu. E
ninguém entendeu a atitude de Ieyasu.
E
de repente, a Guerra!
De
um lado a Facção Oriental de Ieyasu.
E
do outro, a Facção Ocidental de Mitsunari.
A
Batalha de Sekigahara ocorreu nos campos de arroz de Gifu. Foi a mais
importante batalha da História do Japão. Duzentos mil homens se envolveram
nessa contenda. A Facção de Mitsunari tinha tudo para vencer com cento e
vinte mil homens. Mas, Ieyasu com a sua estratégia de parlamentar com adversários,
conseguiu que muitos importantes Suseranos passassem a lutar pela Facção Oriental. Kobayakawa e Mori Terumoto entre outros que ficaram famosos
pela traição a Mitsunari... Trinta mil soldados perderam suas vidas... A Facção Ocidental foi totalmente dizimada e
Mitsunari e seus líederes foram capturados e mortos.
E derrotado o último dos resistentes, Tokugawa Ieyasu se tornou de fato o Governante do Japão. E como tal, distribuiu as terras tomadas dos adversários entre os parceiros que lutaram com ele. Muitos suseranos foram executados, com exceção de Shimazu, que foi poupado e que teria papel importante na história do Xogunato. Hideyori teve permissão para ser um cidadão comum e continuou morando no Castelo de Osaka.
Como Xogun, construiu o Castelo de Edo/Tóquio, que seria o maior Castelo do Japão e hoje é o Palácio Imperial. Reformou os Castelos da Corte e promoveu a modernização dos Feudos conquistados, assegurando uma vida de paz para todos os vassalos.
Em 1611 acompanhado por um séquito de cinquenta mil homens foi a Kiyoto testemunhar a coroação do Imperador Go-Mizunoo. Após as cerimônias, ele ordenou a remodelação da Corte e dos edifícios imperiais. Forçou os Suseranos do Oeste que foram parceiros de Mitsunari a assinarem um Termo de Lealdade a ele. Compôs o Kuge Shohatto, documento que subordinou todos os nobres da Corte sob estrita supervisão sua, transformando-os em meras figuras cerimoniais. Isso deve ter sido uma grande humilhação para os arrogantes nobres, que se comportavam como se fossem tão nobres e inatingíveis como a Família Imperial. Promoveu a modernização dos Feudos conquistados, assegurando uma vida de paz para todos.
Entretanto, ele também baixou o Edito de
Expulsão Cristã, proibindo a divulgação da fé cristã no Japão. Estrangeiros
foram expulsos e os que resistiram foram mortos... E com exceção da Holanda,
navios de outros países ficaram proibidos de atracar nos portos japoneses. Isso
atrasou muito a modernização do Japão. Os japoneses conservadores temiam a
influência modernizadora dos estrangeiros, especialmente os seguidores do
Budismo e do Xintoísmo...
Após
superar Nobunaga e Hideyoshi, vencer Shingen, Mitsunari e Uesugi Kenshin,
solidificou o Xogunato Tokugawa, que governaria o Japão por 250 anos.
Dois
anos após ser nomeado Xogun, ele abdicou do título em favor do filho Hidetada. Por
ter assistido ao sofrimento de Hideyoshi. que morrera deixando indefeso um sucessor de apenas seis anos de idade, agiu de forma coerente para garantir a sucessão de forma tranquila e segura. Apesar de ter se aposentado, não deixou de
governar o país. Do Castelo de Sunpu, para onde se retirou continuou dando as
coordenadas de administração ao filho Xogun, até o fim. Ainda editou o Shohatto
Buke, que estabeleceu a forma administrativa do Xogunato Tokugawa, que passou
para a História como a “Idade da Paz Ininterrupta” que duraria duzentos e cinquenta anos.
Mas
Ieyasu não usufruiu da paz que veio em seguida. Um mês depois, veio a falecer
com setenta e três anos de idade.
Assim foi a vida do mais famoso Xogun do Japão. Sua vida foi permeada de sofrimentos atrozes, mas conseguiu superar tudo com infinita paciência e sabedoria. Matou familiares e pessoas próximas e isso soa estranho para nós agora em 2020, mas a época era de Guerras e convulsões no mundo inteiro. A ordem era Matar ou Morrer. E sobreviver era preciso. E ele sobreviveu para organizar o Estado Japonês. E os japoneses entenderam o seu sacrifício. E o reverenciam todos os anos no mês de abril em Okazaki, sua cidade natal em Aichi ken com o monumental Festival Ieyasu Gyoretsu, desfile de cavaleiros, guerreiros vestidos a caráter como nos tempos das guerras... Para ninguém se esquecer.
"A vida humana é um longo caminho que deve ser seguido carregando uma carga pesada: Não devemos nos apressar." Tokugawa Ieyasu - 1543/1616
Dentre os inúmeros pensamentos que deixou, esse define bem o caráter desse bravo samurai, que desde a primeira infância aprendeu que para viver era preciso paciência, muita paciência...
Mirandópolis, outubro de 2020.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
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