sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



CIRANDANDO  COM  A  MORTE

   A única certeza que herdamos ao nascer, é a certeza absoluta e inevitável da morte.
   Mas, ninguém gosta de pensar nela, considerando-a uma inimiga, sempre à espreita, querendo roubar o único bem, 
que herdamos de Deus.
   Entretanto,  ela virá um dia, uma hora, em algum momento, porque cada um de nós tem um tempo predeterminado, cuja duração ninguém sabe.
Gosto de pensar em “shukumei”, ou predestinação, ou missão, que nós temos que cumprir. 
E não adianta tentar esquivar-se, fugir dele, mudar o rumo 
da vida, 
que o shukumei
nos alcançará, e fará que se cumpra o que foi determinado.
   À primeira vista, parece desalentador pensar assim,  porque  faz-nos sentir como robôs teleguiados, por uma força poderosa, que não respeita a nossa  vontade e rouba de nós, 
livre arbítrio.
Mas isso faz aceitar o destino, de algumas pessoas queridas, que de repente partem, sem mais nem menos. Porque, nunca é fácil o contato com a morte.
Por mais realista que a pessoa seja, a morte é um choque, que nos faz pensar numa força poderosa,  fora de nosso alcance, de nosso poder, até de 
nossa inteligência... 
Faz-nos pensar em criaturas celestes, que pairam sobre nossas cabeças, elegendo quem deve partir desse planeta. Faz-nos pensar em Buda, Kamissamá, Tupã, 
 Jeová, Alá, Jesus , 
Deus... aquele Ser Supremo,
 que tem o poder 
de vida e morte sobre
 todas as criaturas. 
Poder absoluto.
E não adianta implorar para prorrogar o tempo a  nós destinado, nem solicitar a chegada  imediata da inexorável visita, porque  o que está determinado 
se cumprirá, 
no devido momento.
Ultimamente, temos perdido amigos tão repentinamente, que deixaram incrédulos todos, que tomaram ciência dos  fatos. 
E assustados.
Tenho um amigo que, nessas horas costuma dizer : “Olha, o companheiro que estava bem à minha frente na fila, 
se foi...”
É apenas uma frase, um chiste, mas contém uma verdade, que não dá para ignorar.  “Alguém partiu, eu fiquei, 
o próximo poderá 
ser eu...”
Quando perdemos o cirandeiro Egídio Vicente, um amigo me ligou perguntando, que homenagem a Ciranda lhe prestaria       
 no seu funeral. 
Homenagem? Para alguém que partiu? Que não pode mais se comunicar com 
a gente que restou?
Fiquei pensando no assunto e  concluí que, nós devemos prestar todas as homenagens,
 em vida.
 Que essa de levar coroas maravilhosas, para enfeitar salas de velórios e túmulos, nada  significam. 
Talvez sirvam de consolo para quem 
as oferece. 
Talvez  tenham um significado para a sociedade...  “O cidadão era muito benquisto e respeitado, porque havia 
 trocentas coroas...”  
Mas, um bilhão de coroas de flores não devolverão a vida de quem se foi... Então,
 para que servem?
Aí, percebi que nós da Ciranda, vamos ter que lidar com a morte, constantemente. 
É que todos nós, já passamos de sessenta anos e estamos na descida da ladeira, com alguns amigos que, já viveram 
 mais de oitenta anos.
 E pela ordem natural das coisas, os mais idosos irão primeiro, salvo algumas exceções. Então, que homenagens lhes prestaremos?
As homenagens da Ciranda são os 
encontros mensais, 
as rodas de amigos cantando velhas canções, brincando , orando, declamando, brincando de ciranda mesmo.
Existe homenagem melhor e 
mais bela?
Mesmo o nosso querido 
Egídio Vicente  era contrário a homenagens pós-morte. 
Dizia que, queria tudo que merecia receber, em vida. 
E de alguma forma, lhe proporcionamos momentos de lazer, com nossos encontros, em que ele cantou, riu muito, discursou, brincou e só não dançou
 porque a perna mecânica 
não lhe permitiu... 
E temos absoluta certeza, que foi muito feliz, nesse último
 ano de sua vida, 
na Ciranda.
E tudo isso, me fez pensar como é importante a Ciranda,
 porque os encontros mensais proporcionam momentos de felicidade, 
às pessoas solitárias.
 E quando chega o momento de partir, a pessoa que viveu bem, foi feliz, irá contente  por ter curtido tudo que 
tinha direito.
Então, é preciso viver o momento, que Deus está nos concedendo ainda, 
aproveitar o tempo, 
“carpe diem” 
como dizia Horácio, 
na Roma  antiga.
   E a Ciranda vai continuar com as tardes de lazer, para que  os cirandeiros aproveitem o tempo, que lhes resta,
 brincando e cantando. 
Celebrando a própria vida.
   Existe homenagem 
mais bela?
   Homenagem em vida.

Mirandópolis, 06 de janeiro de 2012.
                        kimieoku@hotmail.com)
(cronicasdekimie.blogspot.


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