Ceia de Natal
Nos anos 80, participei de uma
Ceia de Natal, que me deixou desolada.
Eram os anos de ouro do Banco do
Brasil, havia dezenas de funcionários e festas eram em todos os finais de
semana. Churrasco já era carne de vaca.
Pois bem, naquele ano alguém teve a idéia de
fazer uma Ceia de Natal.
Como muitos dos funcionários iriam viajar para
ver seus parentes, só uma dúzia de famílias aderiu à idéia. E aí, foi uma
azáfama para organizar o jantar.
Depois de muito discutir,
resolveram fazer a reunião na casa de um dos amigos que tinha um quintal
grande, para se organizar a mesa para todos se assentarem. E os homens fizeram
as compras: uma dúzia de frangos, um peru imenso, uma leitoa e bebida farta. E
as habilidades culinárias das mulheres entraram em ação: fazendo farofa salgada
e doce, o molho, os cremes, o arroz de festa, a salada de legumes com molho de
maionese (era moda comer salada de maionese). Tudo feito em casa, que naqueles
tempos era assim que se fazia.
E o pessoal da decoração houve por
bem determinar que os pratos deveriam ser de Nadir Figueiredo, que havia
lançado naquela época os pratos de vidro temperado, da cor de mel.
Chegando o dia, todas as famílias
participantes foram à casa do amigo. Ajudamos a organizar tudo, a mesa, as
toalhas brancas, os pratos todos iguais, os talheres que cada grupo levou, as
guarnições da ceia.
E alguém chegou e colocou música
natalina no aparelho de som. E o dingobells e a noite feliz tocaram até a gente
ficar enjoada.
Quando a mesa estava pronta, mas
sem as carnes, que só chegariam mais tarde da padaria, onde estavam sendo
assadas, o chefe da festa chegou e começou a comandar todo mundo. Disse que a
ceia seria exatamente à meia noite, e ainda faltavam duas horas. Duas horas!
Havia seguramente umas quarenta crianças, pois
cada família tinha de três a quatro crianças de cinco a doze anos. Enquanto
havia pique, os meninos correram e suaram tudo que tinham direito. Depois, o
sono veio chegando junto com a fome. E o organizador fazendo discursos...
Aí, alguém teve a idéia de ligar a
tevê. Era show de fim de ano do Roberto Carlos. Um de meus filhos gostava de
ver esse programa, mas nessa noite nem o Roberto conseguiu despertar os meninos
do sono, do cansaço e da fome. Uns e outros se recostaram no sofá ou no chão
mesmo, e dormiram. Dormiram a sono solto, por mais de uma hora...
Nessa altura do campeonato, meus
filhos queriam ir embora: “Vam’bora, mãe! Tou com sono! Vam’bora, pai! Tou com
fome!”
E aí, o chefe nos convocou para a
ceia. Todos saíram meio cambaleando de sono e de fome.
Quando todo mundo pensava em
destrinchar os frangos, os perus e a leitoa, que estavam dourados no centro da
mesa, o homem resolveu ler a Bíblia. Não me lembro do texto que leu, e das
orações que fez, mas foi chato prá caramba, porque naquele momento não cabia
mais nada. A paciência já era.
Enfim, quando deram o sinal de
atacar, os meninos pegaram cada um uma coxa de frango e saíram comendo.
Aí, eu senti o cheiro. Cheiro de
coisa podre. Dei o alerta.
Cada mãe começou, num frenesi, a tomar os
pratos dos filhos e conferir as carnes. Os frangos estavam estragados e
cheirando mal. Os meninos com tanta fome nem perceberam nada. Foi simplesmente
desagradável. Doze frangos crocantes estragados,
que foram pro lixo...
Por sorte, o peru estava normal
assim como a leitoa. Mas, a maioria nem conseguiu comer carnes depois da cena
dos frangos. O cheiro ficou no ar.
Por que se estragaram os frangos?
É que ninguém possuía freezer, e
os frangos temperados de véspera ficaram azedando nas temperaturas altíssimas
do verão de dezembro. Fora da geladeira...
Depois disso, nunca mais
participei de Ceias de Natal.
Ficou na minha lembrança, a imagem
confusa dos meninos sonolentos e famintos, misturada à imagem de um homem
obsessivo que, insistia em fazer uma pregação no meio da noite, quando todos só
queriam ir para casa dormir.
Foi a Ceia de Natal mais
deprimente que participei.
E nunca mais caí em outra.
Mirandópolis, dezembro de 2012.
Kimie oku in
“cronicasdekimie.blogspot.com”
Muitas coisas acontecem em reuniões de festas, as vezes saem até brigas e uma falação, eu também prefiro um belo jantar na sua casa e junto com sua familia que se aturaram o ano todo, tem mais que ficar juntos nesse dia e principalmente na virada do ano.Ainda bem que perceberam em tempo o risco que poderia ter todo mundo, graças a Deus que nada ocorreu, só foi a raiva e o cansaço. Paz no Natal e Próspero ano NOVO. Felicidades
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