terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


    
 Réquiem para uma Casa de Saúde



Há 46 anos, num dia quente de verão nasceu meu primogênito na Casa de Saúde e Maternidade São José. O médico seria o Dr. Francisco Theotônio Pardo, mas na sua ausência, fui assistida pelo Dr. Jenner Vieira dos Santos. E fui muito bem assistida.  E o meu filho está por aí pelejando, já nos seus 45 anos de vida.
Dois anos depois, viria a filha, pelas mãos de Dr. Pardo. Este era uma espécie de “Pai de todos”, sempre gentil e bondoso, atendendo com a mesma simplicidade, sem nenhuma discriminação. Inspirava segurança e confiança. Era um homem bonito, bom e cheiroso.
Já quando tive o terceiro filho, precisei recorrer à Santa Casa de Araçatuba, porque era uma gravidez de risco, pela minha idade e por ser portadora de hipertensão arterial.
Entretanto, por dezenas de vezes, precisei dos serviços de profissionais dessa Casa e sempre fui muito bem atendida.
É verdade que o Convênio-Saúde que eu utilizava era bom, e cobria todos os procedimentos, que se faziam necessários. E os médicos estavam satisfeitos, com os retornos desse Convênio. Mas, de uns anos pra cá, as Empresas de Seguro-Saúde começaram a restringir os pagamentos e as coberturas, visando um lucro maior e, os clientes e médicos passaram a ter perdas.
Acredito que, esse fato deve ter afetado seriamente as finanças dos médicos e hospitais, pois muitos dos profissionais dispensaram os acordos com essa e outras Seguradoras.
O ser humano precisa amiúde dos serviços médicos ao nascer e, durante o seu desenvolvimento. Depois, quando atinge a plenitude, passa uma fase sem precisar desses serviços. Isso só volta a ocorrer, quando o cidadão já está na terceira ou quarta idade. É a fase em que começam a aparecer as dores, quais sejam, dores nas pernas, nos joelhos, na coluna vertebral, nos ombros, e por aí vai.
E naturalmente, a gente volta a procurar médicos, clínicas e hospitais. Ninguém aceita viver com dor. E foi o que me ocorreu. Voltei à antiga Casa de Saúde para resolver uns problemas de dor, reflexos de sete décadas de existência.

E aí descobri que, a Casa de Saúde estava encerrando suas  atividades. Fiquei estarrecida. Não sabia o que estava ocorrendo, e não cabia na minha cabeça que aquela famosa Casa/Hospital  deixaria de servir à Comunidade.
Tirei a foto do aviso que estava afixado à porta e publiquei no face book, para levar ao conhecimento de amigos. Todos tiveram reações semelhantes à minha.
E agora, estamos travados e impotentes, diante da realidade que se consumou. A Maternidade cerrou suas portas e a vida vai continuando... Entretanto...
Como será daqui prá frente, com os profissionais sem um local para atender seus clientes? Onde irão realizar os procedimentos cirúrgicos, como necessárias intervenções?  E agora, onde serão feitos os serviços de parto?
Tá certo, eles têm suas clínicas, mas nas clínicas não dispõem de sala própria para as cirurgias. Parto será em domicílios??????......
Por outro lado, temos um grande Hospital do Estado,  graças a Deus. Que isso é uma bênção, que só existe em nossa cidade. Mas, o Hospital por ser Regional, atende a pacientes de toda a redondeza, e está sempre superlotado. Não tem como absorver a mais essa parcela, que recorria à Maternidade.
De acordo com o depoimento da Doutora Marcela Orsi Francisco, há quatro anos que o nosocômio vinha lutando para sobreviver. Convênios que não cobriam as despesas, falta de dinheiro, caixa em vermelho sempre... necessidade de reformas, mas sem verbas... tudo isso foi paralisando os serviços. Os médicos tinham que pagar os funcionários com verba própria, porque a Casa não estava dando renda mais...
E parece que há também uma questão trabalhista em demanda... conforme ouvi dizer.
Normalmente, os usuários como eu não sabem o que se passa nos corredores de um Hospital. E como cidadãos, gostariam que tudo fluísse bem, funcionando regularmente, com bom atendimento à população, como vinha ocorrendo há décadas.
A Casa de Saúde e Maternidade tem uma história.
Ela foi construída e instalada por Dr. Aldo Genovês Gilberti, que inicialmente clinicou em Machado de Mello, hoje Amandaba. Transferiu-se para Mirandópolis em 1946, e empregando todas as suas economias construiu a Casa de Saúde e Maternidade São José, que foi inaugurada em janeiro de 1954. Quem veio fortalecer o seu empreendimento foi o Dr. Oscar Luiz Gurjão Cotrim, que se associou ao Dr. Aldo, e por mais de cinco anos, esses dois notáveis médicos administraram a Casa com muita competência, tornando-a uma ótima prestadora de serviços para a comunidade e região.
De lá pra cá, os proprietários foram se alternando, e houve fases boas e ruins. Tenho na lembrança que nos anos setenta e oitenta, o Hospital funcionava bem, com boa clientela, e era sempre ali que buscávamos ajuda em nossas dificuldades de saúde. Ultimamente, com os investimentos do governo no Hospital do Estado, e os serviços do SUS, a afluência a esta unidade fez decrescer a da Casa de Saúde.
Na época áurea, poderiam ter investido em equipamentos e numa Unidade de Tratamento Intensivo. Não o fizeram, e acho que foi o maior pecado da administração. O Hospital estagnou-se, não acompanhou as mudanças que estavam ocorrendo no mundo.
Mais tarde, com pouca clientela e sem recursos, a Direção não conseguiu instalar os aparelhos, que se faziam necessários para um melhor atendimento, como os de Raio-X, Mamografia, Ressonância... E como os clientes precisavam desses exames, a tendência foi procurar outros hospitais e laboratórios da região, o que só fez diminuir e paralisar de vez os atendimentos.
E deu no que deu. Infelizmente.
Agora, vendo as portas cerradas, não é hora de culpar estes ou aqueles, mas de tentar resgatar essa Casa, para que a história dela não fique truncada.
Acho que é hora de conclamar a população para procurar uma solução viável. A Maternidade precisa continuar existindo, para servir à comunidade. Toda a cidade precisa de seus serviços.
Onde nascerão os bebês das atuais parturientes?
E qual será o destino dos obstetras?



Mirandópolis, fevereiro de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com





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