quarta-feira, 31 de julho de 2013




         O peregrino da paz
    Tanto auê para um Papa tão simples deve tê-lo incomodado bastante. Não deve ser nada fácil ser o Chefe maior da Igreja Católica.
         Mas, a humanidade precisa desses anjos para amenizar o sofrimento de tanta gente, que não encontra consolo em nada. Com o mundo tomado por computadores, as pessoas ficaram individualistas, autossuficientes, mais distantes e frias.
         Em razão da violência que impera no dia a dia, nas ruas e até nas casas, as pessoas camuflam seus sentimentos e se tornam distantes, procurando não se envolver com os desconhecidos que até precisam de ajuda. Num dia desses, vi uma jovem pegando carona na estrada e comentei com meu filho: “Que coragem pegar carona!” E ele me respondeu prontamente: “Coragem é do motorista que lhe deu carona! Sabe lá do que é capaz uma mulher a quem se dá carona!”
         É. O mundo se tornou cruel, desumano, porque ninguém confia em ninguém.
        Mas, no meu tempo de mocidade não era assim. Desconfiança, medo, discriminação eram sentimentos desconhecidos. Ninguém sequestrava crianças nem jovens. As pessoas não portavam armas de fogo. E não existia a maldita da droga, que essa sim, pôs o mundo a se perder de vez. A gente pegava carona, e batia um papo com o motorista e sempre era muito edificante. Quando professora, peguei carona até em caminhão boiadeiro. Nunca ninguém foi atrevido ou agressivo.  Havia uma coisa que se chama confiança mútua, e era a mais valiosa moeda de troca.
         Era uma época boa. Todo mundo confiava em todo mundo. E ninguém tentava passar a perna no outro. Havia respeito.
         Mas, as coisas mudaram, os costumes são outros. As pessoas só pensam no lucro, no proveito. “Dar carona pra quê, se não traz nenhuma vantagem?” E pensamos também na segurança própria:  “E se esse caronista estiver mal intencionado?”  “Vale a pena arriscar?”
       E com essas desculpas, a gente foi ficando cada vez mais desumana, fria, sem solidariedade, sem sentimentos. Ficamos racionais demais.
       E é por isso tudo que, o mundo se espanta de ver a simplicidade do Papa Francisco, que aparentemente não foi atingido ainda por essa frieza, essa indiferença, que é o mal desses tempos.
         Eu pessoalmente não sou fanática pela Igreja nem pelos Papas, pois conheço muitas barbaridades cometidas em nome de Deus, que nem Deus aprovaria. Como dizia José Saramago, Deus está inocente desses crimes cometidos em seu nome. E ele não acreditava na existência de Deus.
         No entanto, o Papa Francisco tem um carisma diferente dos pop stars. Ele não veio para acontecer, aparecer e ser idolatrado pelas multidões. Veio para dar seu testemunho de fé em Deus e na bondade humana. Veio para despertar os bons sentimentos dos brasileiros, que estavam esquecidos, porque os nossos corações estavam tomados pela indignação, pela revolta, pelo ressentimento contra os governantes.
         Já chegou dizendo que não tem ouro nem prata, mas Cristo no coração. Que essas palavras tenham atingido os corações dos nossos gananciosos políticos, que se fingindo de cordeirinhos fizeram tantos salamaleques ao santo homem.
         Não distribuiu bolsas disso e daquilo, mas atraiu multidões que só queriam um olhar, uma palavra, um aperto de mão, como se o simples toque dele curasse todas as mágoas.
         A fala dele que mais me tocou foi sobre os homossexuais. “Se um homossexual procura Deus, quem sou eu para condená-lo?” Isso é sabedoria e humildade. Não agiu como Juiz, mas como uma simples criatura de Deus, não se antepondo a Deus, mesmo sendo considerado representante dele. Que a Igreja do Brasil leve a sério essa frase, porque tenho percebido quantos católicos fervorosos condenam os homossexuais, que nasceram diferentes e nem culpa têm disso. Gostaria de saber, como um pai ou uma mãe que tanto criticam os homos, agiriam se tivessem um filho ou neto assim. Ninguém está isento. Não está na hora de aprender a respeitar os diferentes?
         Mas, o que me deixou feliz é ouvi-lo dizer que quer os padres, os religiosos nas ruas , trabalhando, cuidando dos pobres de Deus. Isso me fez lembrar de Madre Tereza de Calcutá, que essa sim praticou a caridade enquanto viveu. Ela ia às ruas, socorria os feridos de guerra, os mendigos que estavam esfomeados nas calçadas, os aidéticos abandonados. E era uma senhorinha pequena,   magrinha,  mas de uma fortaleza sem igual. Essa foi a religiosa na essência da palavra e deixou exemplos que jamais serão esquecidos.
         Em oposição a tudo isso, não vemos mais os padres e outros religiosos nas ruas. Estão em suas moradias, fechados com seus computadores, usufruindo do conforto e das benesses que sua posição na sociedade proporciona. Mas, padre não está a serviço de Deus? Não é para estar junto do povo que precisa de seus conselhos, de sua orientação?
         Com palavras suaves e doces, o Papa Francisco deu um puxão de orelhas nos padres, cobrando ação, atitudes, trabalho em benefício dos necessitados. Não sei de padres que visitam casas de pobres e necessitados, levando-lhes consolo e bênção como fez o Papa. Será que é tão difícil para os nossos pastores visitar um bairro por semana e conhecer a realidade de suas ovelhas? Uma visita, uma palavra de ânimo seria uma bênção para tanta gente, que leva uma vida dura, sem esperanças...
         Ou será que a missão do padre é só pregar do alto do púlpito e condenar os pecadores? O Papa Francisco deu outra visão da missão de um Apóstolo de Cristo.
         Acho que é preciso repensar tudo isso.

         Mirandópolis, julho de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com

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