terça-feira, 24 de setembro de 2013

E tudo passa



                                               E tudo passa...

     Algumas vezes, passamos por momentos que parecem insuperáveis, que nos deixam sem chão e perdidos. Sem rumo na vida.
         Ninguém está livre disso. Todo mundo tem o seu quinhão. E sabe bem do que estou falando.
     De repente, os caminhos se fecham e a escuridão toma conta de tudo, deixando-nos sem opção. E a única e verdadeira companhia nessas horas é o desespero, a impotência. E só quem está passando por isso é capaz de avaliar a dor que enche a alma, que parece sufocar.
         É um filho querido que partiu, cheio de vida, carregando todos os sonhos dos pais que o criaram tão forte, tão belo para ser um vencedor...
        É um bebê que, tão pequenino nasceu só para pelejar contra as adversidades e o céu o arrebatou...
     É um pai, que acalentava tantos desejos para o futuro dos filhos, e pelejou tanto, que o coração não aguentou...
        A doce mãe, tão valente, tão generosa, que sucumbiu.
       Se, ao nascermos conhecêssemos o plano traçado para cada um de nós, talvez nossas ações tivessem um rumo diferente. Se soubéssemos que o nosso tempo é de apenas tantos anos, talvez fôssemos mais cuidadosos e não deixássemos escoar os minutos em vão.
       Mas, não! A gente tem ânsia de viver e não se preocupa muito com o depois. É o momento presente que importa, é preciso usufruir o máximo, curtir o melhor e viver na plenitude...
       Entretanto, o tempo passa e os problemas surgem. Do nada! Inicialmente, são pequenas dores, aborrecimentos esporádicos, alguns desentendimentos com os familiares, vizinhos e colegas de trabalho. Mas, como é preciso viver cada dia, a gente vai deixando tudo isso para resolver depois, para mais tarde repensar. Enquanto isso, a vida dá tantas voltas e um dia, aquele probleminha volta já transformado em doença incurável, em relação deteriorada para sempre, em inimizade total. E aí, é tarde demais.
      E nessa hora de desespero, de tristeza máxima a gente pensa que poderia ter sido diferente, se tivesse parado e analisado os pequenos sinais denunciadores... É tarde demais, porém.
      Sei de gente que está com problemas sérios de saúde, mas não sei por que razão, não procura ajuda de especialistas. Prioriza o trabalho, o bem estar dos filhos, a aquisição de um carro novo, a reforma da casa, a tranquilidade do esposo e vai levando. Capengando, sofrendo, carregando dores e dizendo a si mesma que, um dia vai procurar ajuda. Quando esse dia chegar será tarde demais. E aí, o bem estar dos filhos vai acabar de vez, não haverá dinheiro para resolver o problema e, seu marido deixará de estar tranquilo para ficar desesperado. Talvez, para sempre...
      A gente não sabe viver. Não sabe planejar. Não sabe priorizar o que  de fato é importante. Porque viver é um duro combate, que todos os dias exige decisões acertadas.
     E quando se nos deparam momentos cruéis, que parecem o fim do mundo, o medo do futuro toma-nos de assalto e nos deixa perdidos um bocado de tempo. Não há perspectiva de porvir. É um túnel sem luz, sem saída. Nessa hora nada nos consola.
       Qual um tornado que arrasa tudo que acha pela frente, esses duros momentos também vão destruindo a nossa fé, a esperança, o desejo de vencer... Tudo que, a gente construiu em termos de essência humana, parece perdido para sempre.   
    O tempo, porém passa e acomoda tudo. Assim como o que foi destruído é reconstruído, o homem vai se recompondo devagarzinho, colocando um remendo aqui, aplicando uma atadura ali, engolindo a saudade, a dor da ausência e retoma a vida. É verdade que nada será como antes. A dor será a companheira inseparável de todas as horas. E a consciência da transitoriedade das coisas estará sempre presente.
      Não tem como fugir desse destino cruel, porque o homem é apenas humano. Mesmo tendo herdado de Deus o espírito, ele age como uma formiguinha frágil, carente de sabedoria e pronta para errar, errar e aprender. E muitas vezes, errar de novo sem aprender nada.
      Se visitarmos as campas onde repousam as almas queridas, veremos tanta gente formosa, poderosa e sábia que teve o mesmo fim. E todas elas também amargaram um bocado seus problemas e suas dores, antes de cumprirem o ato final de partir.
       O sofrimento parece ser o quinhão de juros que, Deus reservou para todos que foram abençoados pela ventura de nascer. Não há como fugir dele. E ninguém está isento dele. Cedo ou tarde, a dor vem e demora para ir embora.
       Mas, tudo passa. Assim, como a alegria rara de momentos compartilhados com amigos acaba passando, os momentos mais dolorosos também passam. Muitas vezes deixam-nos tão devastados, sem força para retomar a vida. Sem vontade até de viver.
        Mas, o sol volta a brilhar, a luz obriga a enxergar em volta, os amigos dão um abraço aqui, um sorriso ali, uma palavra amiga de fortaleza e pouco a pouco, a dor vai diminuindo. A dor não vai embora, fica meio camuflada, e volta a latejar quando se está sozinho e as lembranças buscam o passado. E nesse sofrimento de repassar pelas dores antigas, parece haver um consolo porque não deixa esquecer. Quem tem saudades é porque já viveu bons momentos, que não quer esquecer.
         A vida é dura?
         Sim! Já dizia o poeta Gonçalves Dias na Canção do Tamoio:

         “A vida é combate,
         que aos fracos abate,
         que aos fortes, aos bravos
         Só pode exaltar.”

      Então, vamos viver com coragem, enfrentando as dores de cada dia, sem reclamar, porque todos têm a sua parcela, é o ônus de ter nascido. E não existe ventura maior que viver.
         E assim, como a chuva mansa, como a tempestade arrasadora, como o manso regato, tudo passa. Passam os momentos felizes, as alegrias inesperadas, os intermináveis aborrecimentos, os choros, os gritos, as manifestações de felicidade.
         Tudo passa, essa é a inexorável verdade.
         E nós passaremos também.
         Então, viver é preciso!
         Carpe diem!

         Mirandópolis, setembro de 2013.
         Kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/





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