quarta-feira, 4 de setembro de 2013



                              Meiwaku

          
         De tanto estudar a língua japonesa, eu me surpreendo de vez em quando pensando em japonês.
         De repente, me ocorrem palavras que definem exatamente o instante que estou vivendo.  E o interessante é que a língua japonesa possui expressões, que caem como luvas em certas ocasiões. Muitas vezes, uma única palavra define a situação, que em nossa língua teria que ser explicada com uma frase inteira.
         Percebi isso há pouco tempo, quando fui dar ré no carro numa esquina qualquer. À frente não havia espaço e, eu teria que afastar um tanto o veículo para pode sair.
         Aconteceu, porém que havia uns capiaus conversando justamente ali, com crianças encostadas no meu carro. Estavam no leito da rua, e me impediam de manobrar o carro. E eles estavam tão entretidos na conversa que nem perceberam o meu problema. Tive que descer do carro e pedir aos cidadãos que subissem na calçada para eu poder sair. E uma das mulheres me olhou atravessado, como se eu estivesse errada.
         E aí me ocorreu: “Meiwaku!”.
     Não é palavrão, nem xingamento, é apenas uma expressão que define bem a situação. Explico: É uma expressão formada por duas palavras – mei que significa perdido, confuso e waku que significa perplexidade.
     Na verdade, usa-se essa palavra quando deparamos com situações que nos aborrecem, que deixam as pessoas confusas. Foi o que senti, e além de pensar “Meiwaku!” pensei “Não acredito!”.
         Já deparei com outras situações que me deixaram bastante atrapalhada, porque as pessoas não têm senso do que é correto e  assumem atitudes um tanto desagradáveis.
         Sinto isso, sempre que ando pelas calçadas de minha cidade, e deparo com pessoas conversando em grupos, contando histórias e rindo como se estivessem na sua sala de visitas. Os pedestres, que precisam usar a calçada para transitar, têm que descer para a rua, e correm o risco de serem atropelados.  E isso, sem falar nas pessoas com dificuldades para caminhar, que usam bengalas ou arrastam uma das pernas, que precisam desviar-se do grupo para poder passar. Isso é deveras um enorme meiwaku!
       Outra situação comum ocorre dentro dos mercados e shoppings, onde alguns clientes deixam seus carrinhos justamente no corredor, onde passam as demais pessoas, atravancando o caminho. E quando crianças pegam carrinhos de compras, e rodam de graça pelo mercado inteiro, atropelando os outros? Olha, é um risco cruzar com esses garotos, que estão lá para se divertirem e os pais fazem cara de paisagem, porque assim eles não ficam pedindo: “Pai compra isso, compra aquilo!”.
         Às vezes, me ocorre de estar super atarefada em casa, lidando com panelas e toca o telefone. Esbaforida, vou atender, e é uma dessas ligações oferecendo seguros, cartões de crédito, financiamentos, férias não sei aonde e outros que tais. Puxa! Que coisa mais chata! E a menina do outro lado da linha fala como um robô, para não dar espaço para a gente recusar. Ou, às vezes é uma gravação mesmo! Que fazer? Simplesmente desligar, porque ninguém oferece dinheiro gratuitamente. Quando a interlocutora é educada, só digo que minha panela vai queimar...
       Chato mesmo é quando você está com pressa e quer ser atendida logo, e a pessoa que deveria fazê-lo, está ao telefone passando receitas de bolo, comentando a última festa de peão, ou falando sobre o final da novela! E se você faz algum gesto, passa por chato e ignorante... Puxa! Como tem gente idiota, que não desconfia que está lá para trabalhar, e não para fazer fuxico. Isso ocorre com frequência nas repartições públicas, infelizmente.
      Agora, com relação ao cigarro não há meiwaku maior do que uma mulher (geralmente é mulher!) que fuma perto de um grupo de pessoas, que estão numa sala de espera. Quando o ambiente é aberto, a fumante se afasta um pouco e fica tirando suas baforadas, enquanto todos os demais sofrem com o cheiro e a fumaça, afogando-os e provocando tosse. Pelo simples fato de ter se afastado uns metros, ela acha que está respeitando os outros. Mas, não é assim. Às vezes, quando estou com a janela aberta de minha sala que dá para a rua, e passa alguém fumando na calçada, fico asfixiada pela fumaça que sobra no ar. E preciso ligar o ventilador para despoluir a casa toda, que fica realmente malcheirosa. E a minha casa é recuada alguns metros da calçada.
        Inconvenientes também são as pessoas que não sabem ouvir. Se há alguém falando, declamando, passando um aviso, o correto é ficar quieto para que a informação chegue para todos. Mas, sempre há aquela pessoa chata, que começa um zum-zum com um vizinho, para comentar alguma coisa que lhe ocorreu. Ela é incapaz de aguardar o fim do comunicado para trocar figurinhas com o parceiro do lado. E isso incomoda prá caramba. Meiwaku!
       Outra coisa muito, muito desagradável é estar numa reunião com amigos, que não se desligam do celular. Quando não estão falando, estão jogando. E nem adianta você tentar um diálogo, pois logo é interrompido por alguém que liga para ele.  Tem gente que deveria nascer com o celular já colado na orelha, como se fosse uma extensão do próprio corpo. Quem sabe, num futuro próximo...
       Falando em celular, já passei por situações muito estressantes dentro de ônibus, com os passageiros atendendo ao celular em altos brados. Olha, isso é o fim da picada! E falam como se estivessem sozinhos, passando receitas de peixe assado, discutindo com parentes, comentando o andamento de processos dos Tribunais... Eu não quero saber de receitas de nada, não quero saber de encrencas de famílias, e muito menos quero saber como andam os processos judiciais alheios (até advogados!). Você está num ônibus e só quer chegar ao seu destino em paz, sem se estressar. E no mesmo veículo vão esses idiotas, que não sabem respeitar a privacidade de cada um e nem a própria!
         Meiwaku! Meiwaku! Meiwaku!
      E o pior de tudo isso é que esses cidadãos nunca irão perceber que são de fato, pessoas inconvenientes, que só aborrecem os que os cercam. São desagradabilíssimas e nunca irão mudar.
         Ops! Será que esse texto é também um meiwaku?

         Mirandópolis, agosto de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com


6 comentários:

  1. Eu sabia que bateria com o seu modo de pensar. Há coisas que a gente percebe sem que ninguém nos ensine. Mas, também há gente que não aprende de jeito nenhum, né? E como tem gente desse tipo que são meiwaku para a sociedade.

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  2. Meiwaku...estou aqui aprendendo...
    aprendendo a pronuncia
    aprendendo a nunca causar um "Meiwaku"

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  3. Como dizia o Capitão Rio do Exército Brasileiro: " Aprenda com o erro dos outros. Não é preciso você errar também!" Acho que você , Ana é incapaz de causar meiwaku a quem quer que seja.

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  4. Muito interessante , Kimie..... Me coloquei a pensar nos fatos que voce citou para ver se algum dia alguém poderia ter olhado pra mim e pensado "Meiwaku". Tomara que não.

    Adorei o texto !!!

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  5. Acho que você não provocaria meiwaku, Regina. Mas,
    também deve ter passado por situações de meiwaku que a deixaram muito aborrecida, não?

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