quarta-feira, 6 de novembro de 2013



                               Vestibular: a difícil escolha

     A sociedade moderna estabeleceu algumas regras, que não dão margem a alternativas.
        O Vestibular para Cursos Universitários é uma delas. Nessa época do ano, os jovens adolescentes, que frequentam o terceiro ano do Segundo Grau ou o antigo Colegial, ficam meio alucinados à procura de Universidades, que ofereçam Cursos que atendam às suas aspirações. E tudo gira em torno de Universidades Federais, Estaduais, Unicamp, Uel, Unesp, porque oferecem Cursos gratuitos.
         Mas, conseguir uma vaga nessas escolas é concorrer com milhares de outros jovens com os mesmos sonhos e objetivos. E as vagas são mínimas para tanta gente. Então, o jeito é apelar para Cursos particulares mais baratos e mais acessíveis. E assim de um jeito ou outro, os jovens acabam se encaixando em Faculdades mais próximas, ou que ofereçam transporte via Prefeitura.
         Em geral, a escolha é equivocada. Mas, o jovem não percebe, porque é imaturo ainda, e não atinou que está escolhendo um trabalho para o resto de seus dias. Às vezes, foi na onda por influência de colegas, por mensalidades menores, por achar chic ser isso ou aquilo, porque ouviu seu ídolo comentar que gostaria de ter sido tal profissional. O jovem tem as antenas ligadas no mundo, mas se esquece de ouvir a voz do seu coração. E acaba fazendo escolhas erradas. E se transformam em profissionais medíocres,
         As mulheres de minha geração não tiveram escolha: ou seriam Domésticas ou Domésticas. Mas, graças à instalação da Escola Normal em Mirandópolis, tivemos a oportunidade de conseguir uma profissão, que nos encaminhou para a educação de crianças e jovens. E eu fui extremamente privilegiada, porque ser Professora era a minha aspiração maior. Mas, sei de gente que optou pela profissão por não haver alternativa, e nunca gostou do que fez durante os vinte e cinco anos de sua vida, E amargou a vida toda, reclamando dos alunos, dos Diretores, do salário, dos Governantes, dos Cursos de Atualização e pior que tudo isso, despejando seu mau humor nos alunos, que não conseguiam acompanhar suas lições.
         Registro isso aqui como um lamento, porque assisti a muitas cenas tristes de professores, que não deveriam ser professores. Foram anos de acompanhamento e observação ao longo do tempo, que atuei como Coordenadora Pedagógica e como Supervisora de Ensino. Era um círculo vicioso sem saída, onde quem mais sofria eram os alunos. Tive muitas vezes, imensa vontade de pedir ao professor que deixasse a profissão e, fosse vender sorvete na esquina. Em defesa dele próprio e do aluno.... Mas, nunca fiz isso.

   É verdade que encontrei muitos Professores fantásticos que, se transformavam em artistas para entender os alunos, e sentiam aquela empatia, sem a qual ninguém é capaz de entender alguém. Tive um colega de trabalho que, numa sexta-feira às vinte e três horas da noite era capaz de dizer aos alunos: “Meus jovens, vocês são os heróis do pedaço! Enquanto lá fora o povo dá essas gargalhadas no circo (havia Circo em frente à Escola!), vocês estão aqui nesse calorão, tentando construir o seu futuro! E tenham certeza que irão vencer, porque o estudo é o caminho!” E todos se tornaram bons cidadãos. E esse Professor hoje é respeitado por todos que tiveram o privilégio de tê-lo como Mestre.
         E outras Professoras alfabetizadoras, que condoídas com as dificuldades de alguns alunos, lhes proporcionavam aulas particulares em casa, sem cobrar nada! E muitos deles conseguiram vencer!  E outras que, usavam parte do salário para comprar material para os alunos carentes, que a Secretaria da Educação não oferecia recursos ainda.  Festas para as Mães, para os Pais, para as Crianças,  mimos para a Páscoa, para o Natal eram feitos com carinho, sem onerar as famílias. E ganhavam bem? Não, nunca o Professor foi bem pago, nunca a remuneração lhe proporcionou uma vida confortável. E não havia gratificações, nem horas-atividades pagas para trabalhos extracurriculares
         Meus amigos, me perdoem, acho que extrapolei. É que são lembranças que vão se desenrolando como os fios de um antigo novelo, guardado num cantinho da memória.  Um novelo que machuca muito só de tocar...
         Por que vim tocar nesse assunto? Ah! Em razão dos Vestibulares, que os jovens estão enfrentando.
         Mas, o que tem a ver a ver a escolha dos jovens profissionais do futuro com a minhas reminiscências dolorosas?
         Tem muito!
      Os jovens de dezessete, vinte, vinte e dois, até trinta anos  são pessoas na flor da idade, ávidos por conhecer o mundo, que não perceberam ainda a importância do trabalho para o homem. Estão descobrindo como é interessante a relação humana, o convívio com pessoas de outro sexo, as diversões que rondam dia e noite, tentando-os, sem tréguas... E eles vivem eufóricos, pois o mundo lhes oferece tanta coisa interessante. Diante dessas tentações, não sabem e nem conseguem discernir o que é fundamental e prioritário.
         E justamente nessa fase louca eles têm que fazer uma escolha. Escolha que os afetará para sempre. Têm que optar, têm que decidir com que se ocuparão nesse mundo de Deus.  Ser Astronauta? Cientista? Físico? Professor? Funcionário Público? Arquiteto? Guia Turístico? Farmacêutico? Químico? Jornalista? Hakker? Ator de novelas? Criador de gado? Político? Diplomata? Trabalhador braçal? Agente Penitenciário? Fisioterapeuta? Cabeleireiro? Cozinheiro?......

     Há tantas profissões e profissões. Só de olhar a lista dá um nó na cabeça. E o duro é que muitos pais por acharem os filhos imaturos, escolhem por eles e determinam o que serão: “Seja advogado, que ganha bastante dinheiro!” "Não seja Professor, que o governo não valoriza!”  “Seja Médico! É uma profissão respeitada!” “Você  gosta de falar muito, seja jornalista, que aparece na mídia!”  e por aí vai.... Tudo errado!
        Tenho experiência na família. Nenhum de meus filhos seguiu a profissão que escolheram, mesmo tendo sido escolha própria, sem influência dos pais. Estão atuando em áreas completamente diversas dos Cursos que fizeram. É certo que o Curso Superior lhes deu base e requisitos para o trabalho alternativo. Mas, se tivessem frequentado os Cursos adequados, os anos de Universidade teriam sido menos extenuantes e tristes. Muito sofrimento para escolhas erradas. Acharam o seu caminho após muita busca e peleja.
         Há outros exemplos de jovens desistindo dos Cursos escolhidos pelos pais, no meio da jornada universitária e que não estudaram mais nada. Enjoaram da vida acadêmica e carregam suas frustrações até hoje...
         E é por isso que hoje, vendo os jovens correrem de um lado para outro tentando se descobrir, fico penalizada imaginando quanto terão que sofrer ainda, para acharem o seu lugar certo nesse mundo.
           Porque uma escolha precipitada e mal feita tem como resultado maus profissionais, que só prestam desserviços à comunidade.
          Resulta em engenheiros que constroem pontes e casas que desabam antes de serem concluídas. Resulta em médicos que só atendem pacientes montados em grana, e mais ainda em cirurgias equivocadas, e mortes de gente que confiou neles... Resulta em professores sem a mínima vocação para ensinar, que maldizem o seu dia a dia, por odiarem o que fazem. Resulta em advogados que só pensam em depenar o cliente. Resulta em jornalistas de baixa categoria. Todos profissionais frustrados que, estão gastando seus dias fazendo o que mais odeiam fazer, e maltratando a humanidade e a si mesmos, diariamente, até o fim.
      Mal sabem eles que, estamos nesse mundo numa grande roda, numa Mandala onde todos são importantes. Cada membro contribui com o que de melhor possui ou sabe fazer, para em troca receber o melhor de outros. Que seria da fome de comida se não houvesse quem plantasse?  Que seria dos doentes se não houvesse médicos? Que seria dos desamparados se não houvesse assistência social? Que seria dos ignorantes se não houvesse professores?        
        Mas, para a roda girar direitinho é preciso que os membros sejam imbuídos das melhores intenções. Você oferece um ótimo serviço à humanidade e ela deve lhe retribuir com a mesma qualidade, senão a engrenagem emperra e a roda para de girar. Enfim, todos os profissionais são muito importantes e, cada um deve oferecer o melhor, para que haja uniformidade nesse gira mundo.
Para se evitar esses equívocos e desencontros seria necessário mudar o sistema. A Educação Universitária poderia oferecer um Curso Básico para a área de Humanas, outra para a área de Médicas, e uma outra para as Exatas. O jovem optaria por uma das áreas e  ao longo do Curso iria descobrindo suas aptidões, seus gostos e seus interesses. Após descobrir o seu verdadeiro caminho, cursaria Magistério, Engenharia, Medicina, Jornalismo, Diplomacia, Advocacia, Designer, Fisioterapia, e se especializaria na profissão enquanto faria estágios de prática.
    Assim com certeza, reduziria muito o número de maus profissionais e, principalmente os maus atendimentos.
         E bom vestibular para a moçada!

         Mirandópolis, novembro de 2013.
         kimie oku in
             

   http://cronicasdekimie.blogspot.com.br//


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