terça-feira, 21 de janeiro de 2014



                               Por que FEMPO?

         Há muitos anos atrás, trabalhando numa escola do município, o colega Professor Gabriel falou-me da intenção de organizar um pequeno festival de canção popular brasileira em Mirandópolis, para estimular os compositores e cantores anônimos da região.
        À época, até foi comentado que a sigla do festival poderia ser FEMPOM – Festival de Música Popular de Mirandópolis, mas que o efeito sonoro obrigou-o a reduzir para FEMPO. Era apenas uma ideia que estava na cabeça do Professor Gabriel e do seu amigo Jenner  Vieira de Faria. A ideia era tímida, mas muito boa e teve de imediato, o aval do prefeito do momento, Osvaldo Mendes.
        Foi uma felicidade. Começou acanhado e sem pretensões, mas a equipe se esmerou em fazer um trabalho de primeira qualidade. Pessoas da cidade que apreciavam a M.P.B. foram convidadas a auxiliar no trabalho de organização e seleção de músicas: Professor Hamilton Rodrigues, Professora Rachel Sperandio, o poeta Milton Lima, a Professora de Piano Izaura Montanaro, os Bancários Edson de Oliveira e Márcio Granja, o jovem Ronaldo Marconato, o Dr. Jenner Vieira de Faria, Gilberto Grassi e tantas outras pessoas que não me vem à memória.
         Pela quadra do C.A.M. passaram pessoas simples e corajosas defendendo suas músicas. Passaram pessoas fantásticas que, hoje são destaques no cenário musical do país. Gente que vende discos, faz shows e se firma definitivamente no mercado, como o Sérgio Augusto, Miltinho Edilberto, João Eudes, André Gonçalves Mello, Pedro Moreno e tantos outros. Gente de todos os recantos do país – de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Por três dias e três noites, Mirandópolis se transforma numa feira, onde a pedra de toque é a música. Tipos estranhos com sotaques nordestinos, sulistas, goianos, cariocas, todos com uma viola, uma guitarra, um atabaque, uma guitarra circulam pela cidade numa harmonia, numa confraternização tão bonita.
        Mas, por que um Festival?
        Para que premiar pessoas de outros pedaços, de outras Alagoas? Para que, se a crise nos judia tanto? Não seria um luxo para o momento que vivemos?
        É porque o homem tem corpo e alma. Enquanto o corpo clama por ar, água e alimento, a alma exige outras necessidades. Necessidades culturais como a dança, a música, a poesia, a canção. É isso que diferencia o homem da fera.
        Há que se promover o lado do espírito, do sentimento, do sonho, do sentido da vida que não se resume em comer, trabalhar e procriar-se. Se a vida se reduzisse a isso apenas, o homem estaria se abdicando do espírito e igualando-se a um animal qualquer.
        Mais que nunca, há que se cultivar o lado espiritual da humanidade, quando as coisas materiais começam a ir mal. Porque as pessoas precisam transcender-se do plano terrestre para suportar a vida. Porque é uma chance para o menestrel do povo expandir seus sentimentos, suas alegrias, suas mágoas, sua dor.
        E sabemos o quanto o nosso povo está necessitado dessa explosão.

                                                                        Kimie Oku

           Post scriptum: Texto publicado no jornalzinho  V Feira de Música Popular em setembro de 1992

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