sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018


                     Velhice

De repente, percebi que a velhice se apossou de mim. E foi devastador o momento em que tomei consciência disso.
        Estou devagar em tudo. Em andar, em pensar, em entender o que me falam... Ao ver filmes, tenho que voltar várias vezes para entender a trama da história, principalmente se é legendado, ou quando as personagens falam muito depressa... Ao fazer compras, preciso de uma listinha, senão esqueço tudo ou pelo menos alguns itens... Mesmo assim, vou às compras, porque isso me mantém mais ativa e participativa. E ao sair do Mercado, às vezes não me lembro onde deixei o carro... Ainda bem que não esqueci a direção do carro, porque é meio automático.
        O grande esquecimento de 2017 foi não ter lembrado de recadastrar-me no Banco, para continuar recebendo os proventos. E isso pela terceira vez. E olhe que anoto tudo na Agenda... Mas esqueço de olhar nele...
        Como é triste a velhice!  Muitas vezes, encontro pessoas queridas, que me abraçam fazendo a maior festa e eu...nem lhes sei o nome! Depois que me despeço, a memória vem! Que coisa!
        O pior de tudo é quando me perguntam sobre algum fato que relatei. A pessoa fica atarantada quando digo que nunca comentei tal coisa!  Aí, fico duvidando de mim mesma!
        Mas, o mais triste é perder as coisas. Chaves, cartões, documentos, bolsa, óculos... Por isso tenho óculos na bolsa, na escrivaninha, no criado mudo... Outro dia, perdi a Carteira de Motorista! Estava com ela na mão e no segundo seguinte não sabia onde a colocara. Só horas mais tarde, a descobri caída no chão... Quando perco as coisas, a casa fica em polvorosa.        Meu esposo sai procurando, revirando as coisas e me perguntando onde eu estava, o que fazia, com quem falava... E isso me deixa mais irritada... A empregada também quer ajudar e refaz mil vezes os meus passos, os meus atos, e isso me deixa louca. Então, procuro não alardear quando perco as coisas... Mas eles percebem... E a tortura recomeça.
        Engraçado é que não me esqueço de preparar as refeições, de planejar o que cozinhar no dia seguinte... Já imaginaram se me esquecesse de pilotar o fogão?
        Também não esqueço os meus crochês, os meus bordados, os tricôs, o piano, a leitura de livros japoneses, de escrever...
        E não esqueço de fazer as visitas às pessoas queridas e a Ciranda...
        Mas, já percebi que pouco a pouco devo delegar certas atribuições da Ciranda a outros participantes, porque percebo que não estou dando conta de tudo. (Tenho que anotar isso na Agenda da Ciranda!)
        Só pra enfeitar, alguém disse que essa fase que estou passando é a melhor idade. Melhor idade? Apelido mais inconveniente e fora de propósito.
        Melhor idade é a juventude, é a maturidade, quando tudo ainda está funcionando. E a gente ainda dá conta de tudo e está na plenitude para trabalhar, para vencer os obstáculos.
        Não estou na melhor idade, estou na velhice.
        A velhice é triste, porque vamos ficando cada vez mais incapazes para atuar neste mundo. Mesmo não querendo, acabamos nos transformando em fetos, para voltar ao útero da Terra.
        Apesar disso, sou grata por estar na velhice.
        Porque mesmo na velhice há muita coisa boa também. Um dia, vou escrever sobre elas...
        Se eu não me esquecer.
        Mirandópolis, 09 de fevereiro de 2018.
kimie oku in


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