Os chapéus da Rosa
Tenho uma amiga, que não conheço pessoalmente, que não mora
aqui, que ama a Literatura, que escreve poemas, que vive cercada de amigos e
admiradores e que aprecio muito.
É uma mulher equilibrada, tem senso de humor, e além do mais é
bonita e elegante. Nunca me encontrei com ela, mas é como se tivéssemos
estudado juntas e percorrido vários caminhos em companhia uma da outra... De
origem libanesa tão diferente de mim, que tenho ascendência japonesa, comungamos muitos ideais em relação à família, à sociedade, à própria vida. E
para completar tem o nome da rainha das flores, Rosa. Rosa Chimoni, poeta, que
valoriza o trabalho dos professores e tem uma paixão especial pela lua.
Como nos tornamos amigas? Por intermédio de um amigo comum de
Mirandópolis, o Guto. Já ganhei um
presente seu “Transversais, livro em que contou a história de bravos professores
que se dedicaram de corpo e alma à missão de ensinar os jovens. Valorizando a
nossa classe tão desprestigiada pela
sociedade.
Pois bem. Essa Rosa tem mania de chapéus. Volta e meia me
aparece no face com um chapéu diferente. De abas largas para preservar sua pele
branca do sol inclemente, de abas estreitas para emoldurar seus cabelos loiros,
de outros modelos para destacar seus olhos...
E vendo sua imagem diversificada eu me lembrei de uma cena do
livro “O castelo do homem sem alma” de Archibaldi Joseph Cronin escrito em
1930, que narrou a história de um chapeleiro, que lavava e engomava os chapéus
de seus clientes. Esse homem exerceu um terrível controle sobre sua família,
para que se destacasse na sociedade, e chegasse aos píncaros da glória. A
família constituída de um filho e duas filhas jovens além da esposa viveu sob
seu jugo com medo, diria até terror porque o homem era um verdadeiro carrasco. Depois
de estabelecer regras próprias de um regime militar, ele conseguiu destruir totalmente
a própria família e terminar a vida sem nada e sem ninguém... E na última cena
do livro, ele joga todos os chapéus que havia na sua Chapelaria. Visualizei o
chão da rua lotado de chapéus de todos os tamanhos e modelos, como objetos sem serventia...
Sempre soube que os chapéus fazem parte da vestimenta de um
homem ou de uma mulher. Inicialmente, o chapéu tinha a função única de proteger
o cocoruto do indivíduo, mas ao longo dos tempos e da variação da moda se
transformou em adereço de requinte e luxo. Hoje há chapéus para todos os
gostos. Chapéus de caubói, que são sucesso nas festas sertanejas; chapéus de
madames, que complementam seus trajes de luxo em casamentos e outros eventos
sociais; chapéus de lavradores, que hoje possuem abas largas e uma proteção
para o pescoço contra o sol de verão; chapéus de boêmios, que geralmente usam
para esconder suas carecas; chapéus de religiosos, que destacam o grau de ascendência
sobre a comunidade; chapéus de esportistas, e chapéus de uso diário do cidadão comum para
se proteger do frio e do sol, enfim chapéus para todos os gostos e usos...
Mas, o que tem a Rosa com os chapéus? A Rosa Chimoni usa chapéus
e a admiro, porque nem todo mundo fica bonito com eles. Ela fica naturalmente
bonita... E eu comecei a usar chapéu também por causa dela. Aqui onde moro, o
sol é muito ardido, chega a queimar a pele e os cabelos... Nem sempre é
possível usar sombrinha, porque atrapalha, além de ser um objeto que costumamos
esquecer nas lojas, nos Bancos... E o chapéu a gente coloca na cabeça e lá
fica.
A primeira vez que usei um chapéu, todos me olharam como se eu
fosse uma extraterrestre e fiquei muito envergonhada. Mas hoje não estou nem aí
para os olhares esquisitos... O que importa é me proteger.
Que tal você também adotar o chapéu?
Mirandópolis, março de 2018.
kimie oku in
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