Minimalismo
Quando minha neta tinha uns dez anos de idade queria, porque
queria uma touca para secar os cabelos pós banho. Olhou nos catálogos e
percebeu que era muito cara... Mas queria a touca. E a mãe disse que não ia
comprar.
Ela ficou olhando aquela touca bonita com um
botão de lado, e uma tira... E me pediu uma toalha velha. Eu lhe perguntei pra
quê. Ela disse que ia tentar fazer algo com a tolha branca de rosto... Depois
ela me pediu umas linhas coloridas de crochê... um botão e um pedacinho de
pano...
Passados uns dias ela veio mostrar a obra.
Uma touca para seus cabelos! Como não sabia costurar, fez tudo à mão,
crochetando com pontos grandes e unindo as partes. Com linha verde e rosa.
Caseou toda a volta das partes abertas. O botão estava lá para prender na
tirinha e fechar a touca sob o queixo.
Ficamos todos admirados pela capacidade da
menina ter sido tão criativa... Tinha uns dez aninhos só!
Na época não pensei muito na ocorrência. Mas
agora após ver o documentário Minimalismo, minha memória resgatou essa façanha
da minha neta e pensei que, qualquer pessoa diante de um desafio peleja para
conseguir o que quer. Até uma criança!
Mas o que é mesmo Minimalismo?
É uma maneira de simplificar as artes, as
casas, as falas, a vida enfim. É despojar-se do que é descartável, para abrir
mais espaço no armário, na sala, na cozinha, na despensa, no banheiro, na parede,
na crônica, na vida... Você já pensou em quanta coisa inútil a gente guarda em
casa? Coisas que nunca vamos usar ou precisar. Aquelas roupas antigas que a
gente guarda porque foram caras, aquela par de tênis que aperta o dedão, aquela
coberta pesada que a máquina não aguenta... E os penduricalhos? Enfeites de
parede ganhos de alguém, bijuterias que já passaram da moda... Cintas, colares,
lenços de seda... Vidros vazios de perfume importado... E livros, e revistas e
cadernos, e apostilas, e fitas de vídeo, DVDs, CDs... E aparelhos de telefone ultrapassados...
Mas, o que tem a ver a história de minha neta
com essa mania de colecionar coisas? Tem que nos ensinaram a adquirir coisas
desde o momento em que nascemos até morrermos. Transformaram-nos em acumuladores
de roupas, calçados, óculos, panelas,(hoje a moda é colecionar panelas
elétricas) celulares.
A minha neta também foi vítima dessa onda de
consumismo, que nós ensinamos. A tecnologia do Capitalismo transformou-nos em monstros
que só desejam consumir, sem nunca pensar que isso é uma febre, uma doença, que
tem que ser curada. Um filósofo afirmou
que a Civilização trouxe muitos benefícios... Mas não trouxe felicidade. E é
verdade! Quantos homens e mulheres que tudo possuem e são infelizes,
insatisfeitos... A cultura moderna do Capitalismo é adquirir coisas. Pra isso
há os meios de convencimento, que é a Mídia totalmente voltada para o
consumidor, dia e noite empurrando as novidades... E ninguém resiste.
Mas, ainda você não entendeu a relação da minha
neta com esse Minimalismo?
Estou tentando mostrar que hoje não há mais
desafios. Tudo está pronto, basta ir lá na loja e comprar. Tendo Money, tudo
está ao nosso alcance. Mas, aí é que está a questão, se não houver grana, a
pessoa inteligente procura um meio de obter a coisa desejada, mesmo que tenha
que fabricá-la. Foi o que minha neta fez! Ela produziu a coisa que queria,
porque se viu desafiada pelo desejo de possui-la.
Infelizmente, hoje não há mais desafios!
A tecnologia acabou com eles. Ninguém precisa
esquentar a moringa para conseguir as coisas. Elas são vendidas em suaves
prestações, que na soma final equivale ao dobro ou ao triplo do custo real! E ninguém
está incomodado com isso.
Os cidadãos caem no conto da Mídia que é
preciso trocar o carro todo final de ano. Porque o novo modelo tem um sensor,
que apita quando você deixa de cumprir algumas regras do bem dirigir... Porque
as linhas são mais aerodinâmicas, que o porta malas é mais espaçoso, que as
lanternas têm outro visual. E o cidadão já iludido passa o carro perfeito que
está na garagem para fazer o gosto do Vendedor, da Fábrica, da Mídia... O
comprador é apenas mais uma vítima do Capitalismo moderno... Ele participa do
jogo de quem pode mais e nem percebe que foi enganado.
Minimalismo é ficar satisfeito com pouco e ser
feliz. Conheço tanta gente que mora numa casinha simples, tem o mínimo
necessário e não tem a ambição de querer ultrapassar o vizinho da frente que
tem tudo. E não raro essas pessoas simples são mais felizes, porque não sofrem
querendo o que é dispensável.
Nós também não temos essa paixão por carros novos, por casas que parecem de cinema. Não sei se isso é minimalismo mas, só gostamos das coisas simples do campo, das flores que desabrocham exalando perfumes, dos passarinhos contentes que esperam a migalhas de pão todos os dias, das galinhas que arrebanham os pintinhos e ficam desconfiadas quando chegamos perto.
Só sei
que não temos mais ambições, só queremos nos despojar das coisas que atravancam
nossas vidas e viver em paz.
Apenas isso.
Vamos praticar o Minimalismo?
Ou você prefere continuar sendo Maximalista?
Mirandópolis, outubro de 2020.
kimie oku in
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