sexta-feira, 16 de outubro de 2020

 

                                                 Minimalismo

    Quando minha neta tinha uns dez anos de idade queria, porque queria uma touca para secar os cabelos pós banho. Olhou nos catálogos e percebeu que era muito cara... Mas queria a touca. E a mãe disse que não ia comprar.

Ela ficou olhando aquela touca bonita com um botão de lado, e uma tira... E me pediu uma toalha velha. Eu lhe perguntei pra quê. Ela disse que ia tentar fazer algo com a tolha branca de rosto... Depois ela me pediu umas linhas coloridas de crochê... um botão e um pedacinho de pano...

Passados uns dias ela veio mostrar a obra. Uma touca para seus cabelos! Como não sabia costurar, fez tudo à mão, crochetando com pontos grandes e unindo as partes. Com linha verde e rosa. Caseou toda a volta das partes abertas. O botão estava lá para prender na tirinha e fechar a touca sob o queixo.

Ficamos todos admirados pela capacidade da menina ter sido tão criativa... Tinha uns dez aninhos só!

Na época não pensei muito na ocorrência. Mas agora após ver o documentário Minimalismo, minha memória resgatou essa façanha da minha neta e pensei que, qualquer pessoa diante de um desafio peleja para conseguir o que quer. Até uma criança!

Mas o que é mesmo Minimalismo?

É uma maneira de simplificar as artes, as casas, as falas, a vida enfim. É despojar-se do que é descartável, para abrir mais espaço no armário, na sala, na cozinha, na despensa, no banheiro, na parede, na crônica, na vida... Você já pensou em quanta coisa inútil a gente guarda em casa? Coisas que nunca vamos usar ou precisar. Aquelas roupas antigas que a gente guarda porque foram caras, aquela par de tênis que aperta o dedão, aquela coberta pesada que a máquina não aguenta... E os penduricalhos? Enfeites de parede ganhos de alguém, bijuterias que já passaram da moda... Cintas, colares, lenços de seda... Vidros vazios de perfume importado... E livros, e revistas e cadernos, e apostilas, e fitas de vídeo, DVDs, CDs... E aparelhos de telefone ultrapassados...

Mas, o que tem a ver a história de minha neta com essa mania de colecionar coisas? Tem que nos ensinaram a adquirir coisas desde o momento em que nascemos até morrermos. Transformaram-nos em acumuladores de roupas, calçados, óculos, panelas,(hoje a moda é colecionar panelas elétricas) celulares.

A minha neta também foi vítima dessa onda de consumismo, que nós ensinamos. A tecnologia do Capitalismo transformou-nos em monstros que só desejam consumir, sem nunca pensar que isso é uma febre, uma doença, que tem que ser curada. Um filósofo  afirmou que a Civilização trouxe muitos benefícios... Mas não trouxe felicidade. E é verdade! Quantos homens e mulheres que tudo possuem e são infelizes, insatisfeitos... A cultura moderna do Capitalismo é adquirir coisas. Pra isso há os meios de convencimento, que é a Mídia totalmente voltada para o consumidor, dia e noite empurrando as novidades... E ninguém resiste.

Mas, ainda você não entendeu a relação da minha neta com esse Minimalismo? 

Estou tentando mostrar que hoje não há mais desafios. Tudo está pronto, basta ir lá na loja e comprar. Tendo Money, tudo está ao nosso alcance. Mas, aí é que está a questão, se não houver grana, a pessoa inteligente procura um meio de obter a coisa desejada, mesmo que tenha que fabricá-la. Foi o que minha neta fez! Ela produziu a coisa que queria, porque se viu desafiada pelo desejo de possui-la.

Infelizmente, hoje não há mais desafios!

A tecnologia acabou com eles. Ninguém precisa esquentar a moringa para conseguir as coisas. Elas são vendidas em suaves prestações, que na soma final equivale ao dobro ou ao triplo do custo real! E ninguém está incomodado com isso.

Os cidadãos caem no conto da Mídia que é preciso trocar o carro todo final de ano. Porque o novo modelo tem um sensor, que apita quando você deixa de cumprir algumas regras do bem dirigir... Porque as linhas são mais aerodinâmicas, que o porta malas é mais espaçoso, que as lanternas têm outro visual. E o cidadão já iludido passa o carro perfeito que está na garagem para fazer o gosto do Vendedor, da Fábrica, da Mídia... O comprador é apenas mais uma vítima do Capitalismo moderno... Ele participa do jogo de quem pode mais e nem percebe que foi enganado.

Minimalismo é ficar satisfeito com pouco e ser feliz. Conheço tanta gente que mora numa casinha simples, tem o mínimo necessário e não tem a ambição de querer ultrapassar o vizinho da frente que tem tudo. E não raro essas pessoas simples são mais felizes, porque não sofrem querendo o que é dispensável.

Nós também não temos essa paixão por carros novos, por casas que parecem de cinema. Não sei se isso é minimalismo mas, só gostamos das coisas simples do campo, das flores que desabrocham exalando perfumes, dos passarinhos contentes que esperam a migalhas de pão todos os dias, das galinhas que arrebanham os pintinhos e ficam desconfiadas quando chegamos perto.

 Só sei que não temos mais ambições, só queremos nos despojar das coisas que atravancam nossas vidas e viver em paz.

Apenas isso.

Vamos praticar o Minimalismo?

Ou você prefere continuar sendo Maximalista?

Mirandópolis, outubro de 2020.

kimie oku  in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

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