terça-feira, 7 de agosto de 2012




               História de Mirandópolis
dos anos 40/50

        Há um tempo atrás, fiz contatos com alguns ex- moradores de nossa cidade, ao empreender uma pesquisa a respeito de “Uma foto histórica de Mirandópolis”, cuja crônica publiquei em maio deste ano no Diário de Fato.
        O propósito da pesquisa era descobrir quem era quem na foto  e no final constatei ter sido tirada em 1950, na despedida do Professor Júlio Mazzei, que mais tarde seria famoso como Treinador do Palmeiras e do Santos Futebol Clube. Sua passagem por Mirandópolis foi como Professor de Educação Física, do antigo Ginásio.
      Conversando com o senhor Hélio Ramirez, de Pirapozinho obtive informações preciosas, que publiquei. E conversando com o seu irmão Elídio Ramires de 81 anos, de Valinhos, percebi que tinha muitas lembranças de como era Mirandópolis daqueles tempos heróicos.  Solicitei, pois, ao senhor Elídio que, fizesse um relato pessoal de tudo que vivenciou na época.
     E recentemente, recebi esse Relato, que considero de grande valor histórico, pois nele há detalhes que a maioria da população desconhece, e que merecem ser preservadas para as gerações futuras. Com a anuência do seu Elídio resolvi publicá-lo, mas como é muito extenso, vou fazê-lo em capítulos.
                Mirandópolis, agosto de 2012.    Kimie oku
        A seguir, então, o Relato.


              Relato de Elídio Ramires


        Capítulo I – Saudades de Mirandópolis

    Tenho muitas saudades de Mirandópolis, onde vivi parte de minha infância e minha juventude. Onde moldei a minha personalidade, convivendo com os melhores amigos, com pessoas honestas e trabalhadoras e participando durante os 18 anos de minha vida na cidade, de intensa atividade social e no desempenho de diversos cargos em entidades e agremiações, por puro idealismo e solidariedade ao seu povo acolhedor e amigo.
      Lembro-me, como se fosse hoje do dia 2 de setembro de 1942, em que aportamos em Mirandópolis com minha família, meus pais e mais 9 irmãos, vindos do pequeno município de Paraíso, perto de Catanduva, onde nasci, e onde tínhamos uma pequena chácara. Eu tinha na época, 11 anos de idade e estava no 4º ano primário, que terminei em Mirandópolis no recém inaugurado Grupo Escolar, construído a expensas do povo.

      
        Mirandópolis, uma escolha por acaso


  Atraído pela fama que corria sobre o progresso e o desenvolvimento, que estava ocorrendo na zona oeste do Estado, em função do avanço da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, rumo a Mato Grosso, meu pai, no afã  de conseguir meios seguros, para o futuro da família e trabalho para todos, em viagem que empreendeu à Região da Alta Noroeste, visitando Vários lugarejos, desembarcou em Mirandópolis, por ter sido informado que na cidade  existia uma padaria à venda, que era exatamente o que estava procurando. O estabelecimento era do senhor Antonio Cruz Sobrinho, uma pequena Padaria já em funcionamento, situada na Avenida Internacional, depois denominada Avenida Rafael Pereira, em homenagem ao pracinha mirandopolense, morto na 2ª Guerra, na Itália.
Meu pai batizou a Padaria de São João e, segundo consta, existe até hoje, mas com o nome de Padaria do Antonio.
       O nome Mirandópolis do então pequeno lugarejo, ainda Distrito de Araçatuba, criado em 1937, segundo histórico da cidade, foi dado pela Diretoria da Estrada de Ferro, quando foi inaugurada a Estação em 1936, em homenagem ao Senador Rodolfo Miranda, então colonizador e proprietário por posse concedida pelo Governo do Estado, de extensa gleba de terras na região.

      Lances de uma mudança rumo ao sertão

    Nossa mudança foi uma jornada de aventura para o desconhecido, com muito cansaço e desconforto. Com todos empoleirados, inclusive o padeiro, meu cunhado, em cima das tralhas de mudança na carroceria de um velho caminhão pertencente a um tio, pousamos em Penápolis e amanhecemos em Araçatuba, onde fizemos um lanche. A partir daí, enfrentamos as piores estradas municipais, esburacadas e cheias de curvas, subidas e descidas, que pareciam trilhas, cercadas em todo o trajeto de mata virgem, até chegarmos a Mirandópolis, na tarde do 2º dia.
        O vilarejo na época, mesmo com Estação Ferroviária desde 1936, e já Distrito de Valparaíso, era a configuração típica de uma cidade no meio da selva. A conotação parece exagerada, mas não é minha. O escritor norte-americano Desmond Hodridge num artigo publicado em “Seleções Biográficas” da Revista “Readers Digest”, ao descrever o nascimento de Andradina, que intitulou de ANDRADINA, A CIDADE NA SELVA, escreveu: “Um pequeno grupo de homens plantou uma cruz de madeira na terra vermelha e fecunda de uma clareira, numa das vastas florestas do Brasil e ali ficou de pé, em atitude reverente, enquanto um padre  invocava as bênçãos de Deus, para a Colônia que acabava de ser fundada. Porque aquele empreendimento fora o sonho  de um homem chamado Antonio J. de Moura Andrade, o lugar recebeu o nome de ANDRADINA”
A cena certamente parece ficção da imaginação do escritor, mas a história é verdadeira, e tem muito a ver com as demais cidades que nasceram na região, como Mirandópolis. Manoel Alves de Ataíde, seu fundador também ergueu uma cruz de madeira, em frente à pequena capela de tábuas, que construiu no terreno que adquirira, com o mesmo sonho de Moura Andrade, batizando-o     de “PATRIMÕNIO SÃO JOÃO DA SAUDADE”. Igrejinha, aliás, que freqüentei quando menino, antes da construção da atual Igreja- Matriz.
Sobre a região, escreveu ainda o escritor no mesmo artigo: “Aquelas terras do interior do Estado de São Paulo eram verdadeiro mar de vegetação hostil e ininterrupta, há poucos anos. Por mais de cem quilômetros em torno da cruz ali erguida, havia menos de mil seres humanos. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil atravessava o verde da selva, sem uma só parada”.

O Desbravamento das Cidades na Selva

De fato, a epopéia do desbravamento do sertão da zona noroeste do Estado não foi ficção. A História de Mirandópolis se escreve com as mesmas tintas fortes e arrojadas com que se escreveram as páginas da história da implantação de tantos outros núcleos de colonização desta região, nas quais se sobressaíram a coragem e a tenacidade de pioneiros denodados como Moura Andrade e Manoel Ataíde e seus abnegados companheiros. Estiveram expostos aos animais selvagens, incluindo onças, e peçonhentos de toda espécie, mas abriram clareiras na densa floresta para fundar as cidades de seus sonhos.
Muitos mirandopolenses que chegaram  à pequena cidade  a partir de 1940, por certo devem se lembrar com emoção como eu, dos primeiros  passos na conquista  deste solo, das dificuldades vencidas,  do trabalho estafante, da luta incessante de um povo laborioso na busca de um futuro melhor. ( continua na próxima semana)

2 comentários:

  1. Parabens Kimie pelo esforço que você tem feito em noticiar a história de Mirandópolis, procurando pessoas que ainda está no meio de nós para descrever em detalhes o panorama da cidade e da região, se contar para nossos filhos eles não vão acreditar que isso outrora foi uma mata intensa e que tudo se acabou, isso é progresso e nem temos conta de impedir, mas trás uma nostalgia para nossas mentes, viajamos no passado pelas letras do presente. Historia essa que deve ser preservada, você terá um vasto de informações para elaborar um livro que será a memória da cidade. Conte comigo pela inciativa. Abraços. Dinho.

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  2. Muito bom sou de Andradina e sempre gostei de Mirandopolis.
    Admiro a cultura japonesa e o que trouxeram de bom para a região noroeste.

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