2 História de
Mirandópolis
dos anos 40/50
Relato de Elídio Ramires
CAPÍTULO II - Como era
Mirandópolis em 1942
Quando chegamos de
mudança em 42, Mirandópolis, mesmo possuindo uma estação ferroviária desde 36,
era ainda uma pequena cidade, carente do mínimo de conforto e condições
necessárias para se viver.

Evidentemente, não era deficiência
exclusiva da pequena cidade que nascia. Como todos os Patrimônios recém
fundados, era um pequeno vilarejo de ruas nuas e descuidadas, sem calçadas, sem
guias de sarjetas, com muita poeira nos dias de sol e muito barro em tempos de
chuva. Não dispunha de energia elétrica
e as indústrias funcionavam com a força do vapor-caldeira, e o Cinema e as
casas comerciais que dependiam de energia usavam geradores movidos a gasolina
ou óleo diesel. Apenas uma pequena parcela das residências dispunha de precária
iluminação no período noturno, fornecida por um gerador movido por vapor à
lenha, pelo fundador Ataíde, mas que deixou de funcionar em 1946. Não havia nem
telefone, nem assistência social.
Se bem me lembro, quando chegamos, havia
apenas a Farmácia do senhor Delfino Silveira Pinto; como médicos Dr. Edgar
Raimundo da Costa, Dr. Olímpio de Macedo e o médico dos ferroviários, Dr.
Hermes Bruzadin; como Dentistas o Dr. Alcides Falleiros e o Dr. Caio de Macedo.
Nenhum Posto Médico ou Hospitalar.
Os recursos no campo da Saúde se faziam mais
prementes, porque na época, na região grassavam muitas moléstias tropicais por
causa da densa floresta e por falta de saneamento básico. Doenças como maleita,
paratifo, catapora, varicela, ferida brava, a chamada “úlcera de Bauru”, além
de picadas de cobras venenosas e doenças de olhos eram muito comuns. O Distrito
estava incrustado no meio da selva, e dia e noite respirava-se a fumaça das
queimadas das árvores derrubadas, para preparar os terrenos para o plantio. A
fumaça causava muita ardência nos olhos.

As toras de madeira das árvores
derrubadas eram trazidas por caminhões apropriados e, depositadas na faixa de
terreno entre a ferrovia e a Avenida Internacional, que chamávamos de Esplanada. Dali, eram embarcadas junto com as
madeiras em pranchas, tábuas, vigotas e caibros, produzidos pela Serrarias, em
gôndolas especiais da NOB, que ficavam num desvio da linha. Eram despachados
para diversos destinos, para São Paulo principalmente. Nessa chamada Esplanada,
onde brinquei quando criança e em outros terrenos baldios, era comum ver
animais pastando, mas sempre amarrados, face ao perigo dos trens. Um pouco
acima dos trilhos, à esquerda da passagem de nível, havia outro desvio e um
piquete, onde se colocava o gado, que seria despachado para os frigoríficos da
região, para abate.
O progresso rápido e
principais diversões
A cidade, porém,
progredia rapidamente. A cada dia aparecia uma nova casa. Hoje comparando, me
faz lembrar o progresso de Marília cognominada “A cidade das mil e uma noites”.
Em 1946, já se instalara na cidade a
Rede Telefônica, com aparelhos movidos à bateria, e ligações à manivela, com
intervenção de telefonista, pela Companhia Telefônica de Araçatuba, que mesmo
precária, funcionou até 1949. A partir daí, vieram os telefones automáticos
pela companhia Telefônica de São José do Rio Preto, que conforme foi comentado,
foi uma das instalações pioneiras no país.

Quanto a diversões, a situação melhorou
com a construção pelo senhor Ferratone de um novo Cinema, com aparelhos mais
modernos, palco para apresentação de shows e teatro; e com a instalação do
Serviço de Alto Falante Marajá, tendo como locutor o senhor Décio Quírico, que
animava o quarteirão da Rua do Comércio, em frente ao Cinema, com as melhores
músicas nacionais da época. As músicas eram gravadas em pequenos discos de
acetato pelos cantores em evidência, como Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves,
Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Orlando silva, Luiz Gonzaga, Ângela Maria, Ivon
Cury e outros. Na rua diante do cinema, se instalou o “footing” dos jovens da
cidade – os moços bem vestidos de paletó e gravata, como era costume na época,
apesar do calor, ficavam plantados nas
laterais da rua, flertando as moças, que desfilavam pelo centro. Geralmente era
ali que se iniciava um namoro, que muitas vezes acabava em casamento.
Outra forma de distração era ouvir
durante a semana, novelas transmitidas pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. E
aos domingos, os programas mais famosos eram do cantor Francisco Alves ás 12
horas em ponto, à tarde era “A Hora do Pato”, com o apresentador Jorge Cury, e
à noite “Balança, mas não cai”, com destaque para o quadro “ Primo Rico” com
Paulo Gracindo e Brandão Filho. Também tinham boa audiência os programas dos
animadores César de Alencar e Chacrinha. As cantoras mais famosas, pela
rivalidade estabelecida, eram Emilinha Borba e Marlene, que apresentavam muitos
shows musicais através do rádio.
O noticiário mais ouvido era o “Repórter
Esso”, também pela Rádio Nacional, apresentado por Heron Domingues, que se
gabava de nunca ter cometido um erro durante as locuções, que duravam apenas
cinco minutos, e que dizia ser o “Primeiro a dar as Últimas”.
Havia também os
jogos de futebol, para os apreciadores desse esporte, e o campo situava-se onde
hoje está instalada a Cadeia Pública da cidade. As festas promovidas pela
Colônia Japonesa aconteciam em campo especial de sua sede, que possuía próximo
ao Hospital das Clínicas. Essas festas duravam o dia todo, e as pessoas que
assistiam acomodavam-se em barracas improvisadas, onde faziam suas refeições
assistindo às partidas de beisebol ou competições esportivas.
Os meios de Transporte

A locomoção para lugares mais distantes dentro do Distrito,
assim como para embarque e desembarque dos trens, apesar de haver dois ou três
automóveis de aluguel, se fazia de longa data através de charretes, com ponto
na própria estação e em mais dois ou três locais, na Avenida Internacional.
Os moradores da zona rural geralmente vinham para a cidade
aos sábados, em carroças ou a cavalo, que amarravam diante dos
estabelecimentos, em que faziam as compras dos produtos básicos para o consumo
da semana. Os sábados eram os dias mais movimentados no comércio da cidade, que
vivia seus melhores dias nas safras agrícolas, uma vez que a agricultura era o único meio gerador de riqueza.

Impressionante ler essas Histórias, a realidade do nosso sertão, tudo era difícil até um medicamento tinha que buscar de avião, mas era um desbravamento de uma terra de matas virgens e todo mundo era pessoas cheias de vitalidade. Meus pais vieram bem antes da familia Ramires, onde minha mãe que está viva lembra perfeitamente da mãe deles. Meu pai chegou antes do ano 1935 e instalaram no bairro Mont Serrat que levou esse nome devido a 2ª grande guerra onde meu avô formou uma fazenda de café e que a cidade só tinha a estação, eles faziam compra no bairro de Machado de Mello e ajudaram a tirar tormentos de madeira para a continuação da ferrovia em direção à mato grosso que transportavem em carroças de burro. Meu pai pegou maleita e era muito difícil, mudaram-se para a cidade onde adquiriram a chacara bela vista, hoje Santa Rosa e formaram cafesais nesta propriedade, isso no ano de 1946.Ajudaram na construção da Igreja Matriz da cidade com doações de café e gado. Minha familia foram pioneiras disso tudo. Minha mãe casou-se em 1945 na igrejinha de madeira.Morava visinha da fazenda do meu avô onde conheceu meu pai.Muitas histórias tem que ser contadas. Parabens pelo relato.
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