terça-feira, 28 de maio de 2013



                Lojas de roupas e calçados
    
         Antigamente, as roupas eram todas confeccionadas em casa,  ou pelas costureiras e pelos alfaiates.
         Em nossa cidade, os tecidos eram vendidos na Casa Moreira e na Casa Santa Glória. Mais tarde, as Casas Pernambucanas passaram a fazer parte do cenário também. Depois, veio a loja do seu Bizaio, a Tecidos Mirandópolis, que está há tanto tempo no comércio local. O tecido era vendido em metros, e o comprador devia pedir a metragem certa para se fazer um vestido, uma saia, uma camisa ou calças. No começo, usou-se muito a sarja e a chita, um tecido barato e todo estampado, que logo se estragava, porque a trama era rala e grosseira. E as cores se desbotavam com o uso contínuo. As estampas eram imensas e coloridas.
         Os tecidos podem ser feitos de fios naturais retirados do algodão e do linho. Há também os fios de origem animal, retirados da lã e o fio de seda retirado do casulo, confeccionado para sua hibernação por uma lagarta que come folhas de amora.
         No Brasil, houve época de cotonicultura, quando as terras eram adequadas para o cultivo do algodoeiro. Também houve fase de criação do bicho da seda, que deu o sustento a muita gente.
         Quando a nossa região produzia muito algodão, foi instalada na cidade a Firma Esteves e Cia, que comprava toda a safra de algodão, e a revendia para as fábricas de fios e tecidos lá na capital.


         E quando a seda estava em alta, as Indústrias Matarazzo se instalaram aqui para comprar os casulos de seda, que eram exportados para os grandes centros, onde eram transformados em linhas e tecidos de seda.
         Quando as Pernambucanas se firmaram na cidade, passaram a vender tecidos que não desbotavam e a propaganda dizia sempre em “cores firmes”. O tecido mais comum era de algodão, que era colhido em larga escala na região. Mais tarde apareceram as sedas, sedas finas e delicadas, que custavam os olhos da cara. Diziam que era seda do Japão, porque aqui não se produzia ainda.
Recentemente, com a falta de matéria prima, como o algodão e o fio de seda, surgiram os tecidos sintéticos, que utilizam material proveniente do petróleo. São o acetato, o rayon, o poliéster, o elastano, a viscose e outras variedades mais, que fazem o mundo da moda funcionar. Esses sintéticos não amarrotam, duram mais e caem bem no corpo, mas são tecidos que não deixam a pele respirar, então são desconfortáveis. É verdade que há uma variação enorme, e alguns deles são melhores que outros, mas ainda os tecidos de algodão são mais adequados como vestimenta. Um amigo meu, que é químico disse que, os tecidos de algodão protegem a nossa pele da radiação solar, e os sintéticos não. (Tenho alergia à radiação solar)
Com o advento do prêt-à-porter, isto é roupa pronta para vestir, houve uma revolução no mundo da moda. As lojas de tecidos tiveram que fechar as portas, porque todas as pessoas passaram a comprar roupas prontas. Inicialmente, ainda vendiam tecidos e roupas confeccionadas, mas hoje são raras as lojas que ainda continuam comercializando tecidos, para as costureiras e para os alfaiates.
E o que mais me espanta na atualidade é o número de lojas de roupas e calçados, que são inauguradas todos os dias na cidade. Há lojas para todos os gostos, desde roupas de dez reais até as de preços astronômicos. E há lojas se enfileirando, umas atrás das outras, usando a mesma calçada.
Mas, tudo começou quando Adão e Eva desobedeceram a Deus no Paraíso. Após cometerem o pecado, tomaram consciência de sua nudez e foram se cobrir com folhas de plantas. Assim, a humanidade passou a vestir-se, diferenciando dos animais que usam a própria pele como vestimenta natural.
E dali pra cá, muita coisa aconteceu: peles de animais foram as primeiras roupas utilizadas, até descobrirem a tecelagem com lã de carneiro e fios de algodão. Tudo foi sendo aprimorado, e hoje poucas pessoas mandam confeccionar suas roupas, com exceção de trajes para cerimônias especiais, como casamentos e festas sociais. Até para isso existem lojas aqui, que vendem e alugam esse tipo de trajes. Ainda há na cidade dois alfaiates, que confeccionam ternos sob medida, um luxo para poucos.
Para tantas lojas sobreviverem em meio à concorrência geral, é necessário faturar alto. E acho que vendem muito mesmo, porque  nos últimos tempos, as pessoas vivem de aparência. Cuidam e investem mais no visual, esquecendo-se muitas vezes de crescer internamente. Infelizmente.
E muitas vezes, as pessoas usam as roupas para disfarçar suas protuberâncias, formadas por excesso de comida. Mas os tecidos sintéticos de hoje grudam no corpo como uma segunda pele e não disfarçam nada. Pelo contrário, põem-nas em evidência.
Infelizmente, percebo que a humanidade vive mais para comer e para se enfeitar. E o mais deprimente é constatar que, tem gente que insiste em estar na moda, usando as últimas invenções, que muitas vezes tornam a figura ridícula dentro delas. Senhoras imensas usando roupas que “derramam” os seios e os pneus fora da roupa, é   extremamente desagradável mirá-las. (Os homens discretos ficam bastante incomodados, sem ter onde parar o olhar.) Penso sempre que as pobres não devem ter espelhos em casa,  desventuradas... Outras que usam saltos tão altos, que parecem que estão no quinto andar de um prédio, e andam desequilibradas, como se fossem desabar à primeira lufada de vento, ou levantar voo... Mas, gosto é gosto e vamos deixar pra lá.
Essa história de investir só na aparência está bem de acordo com o momento que vivemos. As pessoas fazem de tudo para aparecer, seja nos grupos sociais, seja para estar na “onda”. O sucesso do programa Big Brother diz tudo, e há tantos discípulos dessas aberrações que a tevê faz questão de pregar.
Percebo que a cultura brasileira está cada dia mais pobre, sem ídolos para seguir. Tudo que o povo faz e quer é o imediato, a vantagem instantânea, o lucro. Infelizmente é ínfima a parcela de nossos brasileiros que investem em si próprios, para crescer culturalmente.
O povo vive de disfarces. Pobres disfarces.
O conteúdo é mais pobre ainda.

Mirandópolis, maio de 2013.

kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com

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