terça-feira, 1 de outubro de 2013

É Primavera

   


                               É Primavera!
    A Primavera é a única estação do ano que nós brasileiros sentimos na pele. As demais estações são indefiníveis, porque tardam a chegar e, às vezes demoram para ir embora, como o Inverno deste ano que, se arranchou por aqui e se esqueceu de procurar outras paragens. Quando julgamos que o frio havia partido e guardamos as cobertas, lá vem ele de novo, com os ventos do sul. Invadindo sem cerimônia o tempo de Primavera.
          Mesmo o Verão chega rapidamente e, invade os meses reservados para o Outono, e o povo sofre com o calor e o suadouro, que, deixa todo mundo desconfortável. Parece até que o sol quer nos cozinhar! Verão por aqui é terrível. Quente demais!
         Com a Primavera é diferente. Os dias ficam luminosos, as tardes ficam longas como as sombras das árvores. E o perfume das flores invade casas e nossas narinas. Tudo fica florido, até os matinhos que teimam em nascer nas frestas das calçadas.

         Gosto de reparar como a natureza é insistente. Por mais que você tente arrancar os matinhos, quando chove os brotinhos verdes despontam nas brechas dos muros, nas fendas das calçadas, e um belo dia, lá estão florindo timidamente e, ostentando a beleza de suas flores, que ninguém repara... Assim acontece também com as ervas daninhas, como o picão, carrapicho e outras plantinhas que classificamos de daninhas, só porque possuem armas poderosas para se proliferarem em qualquer ambiente. Sim, porque o picão e o carrapicho se agarram nas roupas dos humanos, e nos pelos dos animais para se disseminarem, para garantirem a continuidade da espécie. É uma forma inteligente da Mãe Natureza. Mas incomodam os seres que tocam neles, porque pinicam e irritam a pele.
         Mas, voltando à Primavera, é um tempo de dias luminosos e tardes preguiçosas, cheios de chilreio de pássaros, de alados cruzando os ares e de cantorias sem fim. É tempo de acasalamento, de disputas das fêmeas disponíveis e machos brigando entre si. Também os humanos se rendem ao amor, e não raro cruzamos com jovens tão apaixonados, que não conseguem ver o que se passa em volta. Se perdem em abraços intermináveis e longos beijos, como se estivessem sorvendo o soro da vida. Esquecem-se de deveres, da família, de se alimentar direito, dos amigos, porque a vida se resume só naquela cara metade, que tem o poder de transformar o seu mundo num paraíso, só com um sorriso.
         Mistérios insondáveis do Amor.

       De setembro a dezembro curtimos um tempo agradável, nem muito quente, nem muito frio, com o sol aquecendo o solo e provocando o desabrochar de flores em todos os cantos. As borboletas coloridas não param de voar, executando um bailado sem fim sobre as ramagens floridas. Os arapuás ficam enlouquecidos com a fartura do mel.     Sobre os muros debruçam-se pendões de primaveras, num despropósito de beleza em cores. As acácias soltam os cachos de ouro como se fossem arandelas perfumadas, enfeitando ruas e jardins graciosamente. O mundo todo se veste de cores, cores quentes que atraem as abelhas, os beija-flores e as formigas sugadoras de mel.
         E quando vem a chuva mansa, o ar fica translúcido e se enche de perfume, mas não enfastia ninguém, porque a natureza é sábia e os perfumes são sempre suaves. As folhas perdem a opacidade provocada pela poeira, que se dissolve na chuva. As árvores ficam brilhantes, como se exibissem um traje de gala.
     Nessa época é impossível percorrer uns dez minutos sem topar com uma flor. Flor azul, rosa, vermelha, branca, amarela... Enfim flores de todas as cores do arco-íris. E a cada descoberta é um encantamento. Pelas cores, pelos perfumes, pelas delicadezas que elas exibem ao ar, sem nenhum pudor. Elas enfeitam o mundo de forma deslumbrante, de tal forma que é impossível deixar de pensar no Criador. Deus criou toda essa beleza.
        Toda vez que penso em criatura e Criador, lembro-me de uma história contada nas aulas de Catecismo. “Jesus Menino brincava com outras crianças. E brincavam com barro, moldando objetos. Então, Jesus fez uma borboleta de barro. Aí um garotinho disse: Também sei fazer isso! E fez uma borboleta igualzinha. Mas, Jesus soprou na sua obra e ela criou vida e saiu voando. E o menino soprou em vão na sua borboleta, e viu que havia algo misterioso aí.”    
         E assim é com todas as coisas criadas. O homem aperfeiçoa tudo e chega aos limites inimagináveis da criação, mas não consegue passar o sopro da vida. Faz robôs que substituem o homem em diversas tarefas, mas não consegue dar-lhes vida.
         Hoje, o interior das casas, das lojas e até o s cemitérios e igrejas estão enfeitados com vasos de flores lindíssimas, mas são todas artificiais. Não têm vida própria. Não germinaram, não nasceram, não cresceram, não se alimentaram de adubos e água e não passaram pela fotossíntese. São lindas, mas sem vida. Sem a essência do existir.
         Então, ao curtirmos esse tempo tão agradável de Primavera, vamos apreciar as flores, que são umas das mais perfeitas criações de Deus. E cultivá-las, se possível.
        
         Mirandópolis, setembro de 2013.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com


         

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