É Primavera!
A Primavera é a única estação do ano
que nós brasileiros sentimos na pele. As demais estações são indefiníveis,
porque tardam a chegar e, às vezes demoram para ir embora, como o Inverno deste
ano que, se arranchou por aqui e se esqueceu de procurar outras paragens.
Quando julgamos que o frio havia partido e guardamos as cobertas, lá vem ele de
novo, com os ventos do sul. Invadindo sem cerimônia o tempo de Primavera.
Mesmo o Verão chega rapidamente e, invade os
meses reservados para o Outono, e o povo sofre com o calor e o suadouro, que,
deixa todo mundo desconfortável. Parece até que o sol quer nos cozinhar! Verão
por aqui é terrível. Quente demais!
Com a Primavera
é diferente. Os dias ficam luminosos, as tardes ficam longas como as sombras
das árvores. E o perfume das flores invade casas e nossas narinas. Tudo fica
florido, até os matinhos que teimam em nascer nas frestas das calçadas.
Gosto de
reparar como a natureza é insistente. Por mais que você tente arrancar os
matinhos, quando chove os brotinhos verdes despontam nas brechas dos muros, nas
fendas das calçadas, e um belo dia, lá estão florindo timidamente e, ostentando
a beleza de suas flores, que ninguém repara... Assim acontece também com as
ervas daninhas, como o picão, carrapicho e outras plantinhas que classificamos
de daninhas, só porque possuem armas poderosas para se proliferarem em qualquer
ambiente. Sim, porque o picão e o carrapicho se agarram nas roupas dos humanos,
e nos pelos dos animais para se disseminarem, para garantirem a continuidade da
espécie. É uma forma inteligente da Mãe Natureza. Mas incomodam os seres que
tocam neles, porque pinicam e irritam a pele.
Mas,
voltando à Primavera, é um tempo de dias luminosos e tardes preguiçosas, cheios
de chilreio de pássaros, de alados cruzando os ares e de cantorias sem fim. É
tempo de acasalamento, de disputas das fêmeas disponíveis e machos brigando
entre si. Também os humanos se rendem ao amor, e não raro cruzamos com jovens
tão apaixonados, que não conseguem ver o que se passa em volta. Se perdem em
abraços intermináveis e longos beijos, como se estivessem sorvendo o soro da
vida. Esquecem-se de deveres, da família, de se alimentar direito, dos amigos,
porque a vida se resume só naquela cara metade, que tem o poder de transformar
o seu mundo num paraíso, só com um sorriso.
Mistérios
insondáveis do Amor.
De setembro a
dezembro curtimos um tempo agradável, nem muito quente, nem muito frio, com o sol
aquecendo o solo e provocando o desabrochar de flores em todos os cantos. As
borboletas coloridas não param de voar, executando um bailado sem fim sobre as
ramagens floridas. Os arapuás ficam enlouquecidos com a fartura do mel. Sobre os muros debruçam-se pendões de
primaveras, num despropósito de beleza em cores. As acácias soltam os cachos de
ouro como se fossem arandelas perfumadas, enfeitando ruas e jardins graciosamente. O mundo
todo se veste de cores, cores quentes que atraem as abelhas, os beija-flores e
as formigas sugadoras de mel.
E quando vem
a chuva mansa, o ar fica translúcido e se enche de perfume, mas não enfastia
ninguém, porque a natureza é sábia e os perfumes são sempre suaves. As folhas
perdem a opacidade provocada pela poeira, que se dissolve na chuva. As árvores
ficam brilhantes, como se exibissem um traje de gala.
Nessa
época é impossível percorrer uns dez minutos sem topar com uma flor. Flor azul,
rosa, vermelha, branca, amarela... Enfim flores de todas as cores do arco-íris.
E a cada descoberta é um encantamento. Pelas cores, pelos perfumes, pelas
delicadezas que elas exibem ao ar, sem nenhum pudor. Elas enfeitam o mundo de
forma deslumbrante, de tal forma que é impossível deixar de pensar no Criador.
Deus criou toda essa beleza.
Toda vez que penso em
criatura e Criador, lembro-me de uma história contada nas aulas de Catecismo.
“Jesus Menino brincava com outras crianças. E brincavam com barro, moldando
objetos. Então, Jesus fez uma borboleta de barro. Aí um garotinho disse: Também
sei fazer isso! E fez uma borboleta igualzinha. Mas, Jesus soprou na sua obra e
ela criou vida e saiu voando. E o menino soprou em vão na sua borboleta, e viu
que havia algo misterioso aí.”
E assim é com
todas as coisas criadas. O homem aperfeiçoa tudo e chega aos limites
inimagináveis da criação, mas não consegue passar o sopro da vida. Faz robôs
que substituem o homem em diversas tarefas, mas não consegue dar-lhes vida.
Hoje,
o interior das casas, das lojas e até o s cemitérios e igrejas estão enfeitados
com vasos de flores lindíssimas, mas são todas artificiais. Não têm vida
própria. Não germinaram, não nasceram, não cresceram, não se alimentaram de
adubos e água e não passaram pela fotossíntese. São lindas, mas sem vida. Sem a
essência do existir.
Então, ao
curtirmos esse tempo tão agradável de Primavera, vamos apreciar as flores, que
são umas das mais perfeitas criações de Deus. E cultivá-las, se possível.
Mirandópolis,
setembro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário