quinta-feira, 19 de outubro de 2017

             Tomando chá
   
     Sempre que o frio chega, não resisto à tentação de fazer um chá para aquecer o corpo. Chá quentinho com sabor de maçã e canela é uma delícia, quando estamos meio travadas com as mãos e os pés gelados. Aliás, não é estranho a gente congelar nas extremidades do corpo, quando chegamos à  velhice? Acredito que o sangue não circule direito, quando as artérias ficam encolhidas com o frio. E aí, os pés e as mãos   ficam parecendo blocos de gelo...
     O chá é uma bebida universal. E creio que deve ter sido a primeira bebida experimentada pelo homem. Parece que um monge foi aquecer uma cuia de água na brasa e, acidentalmente caiu uma folha de erva, que deu um sabor especial à água. Daí, todo mundo o adotou, mais ainda quando a mistura resolvia problemas intestinais e ou renais...
        Quando eu era criança, o único chá que havia no armazém dos pobres era o mate Leão, que vinha num saquinho a granel...  O saquinho vinha numa caixa laranja com o desenho de um Leão, e eu ficava matutando qual era o significado desse animal com relação ao chá. Talvez quisessem passar a ideia de quem tomava o chá ficasse forte como o leão... Mamãe fazia o chá e temperava com açúcar e limão. E podia consumir várias xícaras, que nunca fez mal para ninguém, Hoje o chá vem acondicionado em sachês individuais e é tão prático prepará-lo.  Tem chás para todos os gostos, de variados sabores... Tem os requintados e caríssimos chineses, os ingleses... Mas, nós aqui nessa terra tupiniquim ficamos satisfeitos com os chás produzidos no Vale do Ribeira, que são muito saborosos.
        Os países orientais têm a tradição de servir o chá em qualquer ocasião. Antigamente, no Japão anterior à Guerra, havia nas casas por mais pobres que fossem, um fogareiro cavado no chão da cozinha. Era o “irori” onde o fogo permanecia aceso dia e noite, e sempre havia uma chaleira com água quente, com que se faziam as sopas e os chás. Qualquer visita era brindada com uma taça de chá. É que lá faz muito frio e esse costume já está arraigado no povo.
        Nos países europeus era o máximo de requinte ir tomar chá num bar/café ou nos bistrôs. E isso era invariavelmente lá pelas cinco horas da tarde. Junto com o chá, as madames elegantes da cidade apreciavam os doces, os bolos, as madeleines...
        No Japão, há um ritual para a cerimônia do chá. Nas casas abastadas há uma casa ou um estúdio especial para essas cerimônias... Os caminhos que conduzem a essa casa são decorados com plantas e pedras especiais. O estúdio é pequeno e tem uma decoração refinada com quadros e um vaso com ikebana. No chão, o tatame e os utensílios de cerâmica e bambu para a cerimônia, que segue um ritual milenar. Tudo é calculado metodicamente. O chá é o “matcha”, chá verde em pó, que no início era servido apenas aos sacerdotes zen budistas e aos nobres samurais... Esse ritual é conhecido como “Chanoyu” e tinha na sua origem o propósito de purificar a alma. Toda a cerimônia prima pela reverência. Um dos maiores apreciadores dessa cerimônia foi o famoso Xogum Toyotomi Hideyoshi, um dos construtores do Japão Moderno, que mandou construir um gabinete todo decorado de ouro... Hideyoshi apreciava muito o chá. E não perdia uma ocasião para reunir convidados especiais para o chá.
        E no Brasil, há uma cidade fronteiriça que surgiu na rota do chá. É a cidade de Ponta Porã ligada à vizinha paraguaia Pedro Juan Caballero, pela Avenida Internacional.  Ponta Porã está ligada historicamente à origem da erva mate, que é a base do chimarrão e do terere. Um dia vi a história contada em baixo relevo num mural do Hotel Barcelona. Muitas cidades surgiram na rota do chá no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. Região que continua produzindo chá.
        Embora o chá seja apenas uma bebida bem simples deu origem a eventos sociais como Chá de Bebê, Chá de Panela, Chá de Casa Nova... A intenção é apenas ajudar a futura mamãe com pequenos presentes para o bebê que vai nascer, ou presentear os noivos para mobiliar sua casa.
   Ultimamente, o comércio de bebidas está oferecendo chá engarrafado geladinho pronto para o consumo. Chá verde, chá com limão, com pêssego são opções para quem está sedento e encalorado. É uma bebida mais saudável e não faz mal pra ninguém. Prefiro tomar chá do que refrigerante.
        O chá combina com qualquer refeição. Nós de origem japonesa apreciamos um chá verde sem adoçante, para acompanhar um almoço ou um jantar. Para acompanhar lanches e bolos, um chá geladinho vai bem, principalmente para quem não toma café.
        E a moda generalizada hoje é tomar   chás de ervas naturais para emagrecer, para combater pedras nos rins, para controlar diabetes, artrite e enxaquecas. Eu tomo chá de salsinha para limpar os rins, e de graviola para controlar a hipertensão. Chá de graviola tem sido muito consumido para combater catarro e tumores. Porque já está comprovado que os medicamentos feitos em laboratórios podem curar certas doenças, mas trazem efeitos colaterais nocivos.
Então, a opção é o chá. Com moderação, é claro.
Então vamos plantar ervas medicinais!



       Mirandópolis, outubro de 2017.
 kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



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