Tomando
chá
Sempre que o frio chega, não resisto à tentação de fazer um chá para aquecer o corpo. Chá quentinho com sabor de maçã e canela é uma delícia, quando estamos meio travadas com as mãos e os pés gelados. Aliás, não é estranho a gente congelar nas extremidades do corpo, quando chegamos à velhice? Acredito que o sangue não circule direito, quando as artérias ficam encolhidas com o frio. E aí, os pés e as mãos ficam parecendo blocos de gelo...
O chá é uma bebida universal. E creio
que deve ter sido a primeira bebida experimentada pelo homem. Parece que um
monge foi aquecer uma cuia de água na brasa e, acidentalmente caiu uma folha de
erva, que deu um sabor especial à água. Daí, todo mundo o adotou, mais ainda
quando a mistura resolvia problemas intestinais e ou renais...
Quando eu era criança, o único chá que
havia no armazém dos pobres era o mate Leão, que vinha num saquinho a granel...
O saquinho vinha numa caixa laranja com
o desenho de um Leão, e eu ficava matutando qual era o significado desse animal
com relação ao chá. Talvez quisessem passar a ideia de quem tomava o chá ficasse forte como o leão... Mamãe fazia o chá e temperava com açúcar e limão. E podia
consumir várias xícaras, que nunca fez mal para ninguém, Hoje o chá vem acondicionado
em sachês individuais e é tão prático prepará-lo. Tem chás para todos os gostos, de variados
sabores... Tem os requintados e caríssimos chineses, os ingleses... Mas, nós
aqui nessa terra tupiniquim ficamos satisfeitos com os chás produzidos no Vale
do Ribeira, que são muito saborosos.
Os países orientais têm a tradição de
servir o chá em qualquer ocasião. Antigamente, no Japão anterior à Guerra,
havia nas casas por mais pobres que fossem, um fogareiro cavado no chão da
cozinha. Era o “irori” onde o fogo permanecia aceso dia e noite, e sempre havia
uma chaleira com água quente, com que se faziam as sopas e os chás. Qualquer
visita era brindada com uma taça de chá. É que lá faz muito frio e esse costume
já está arraigado no povo.
Nos países europeus era o máximo de
requinte ir tomar chá num bar/café ou nos bistrôs. E isso era invariavelmente
lá pelas cinco horas da tarde. Junto com o chá, as madames elegantes da cidade
apreciavam os doces, os bolos, as madeleines...
No Japão, há um ritual para a cerimônia
do chá. Nas casas abastadas há uma casa ou um estúdio especial para essas
cerimônias... Os caminhos que conduzem a essa casa são decorados com plantas e
pedras especiais. O estúdio é pequeno e tem uma decoração refinada com quadros
e um vaso com ikebana. No chão, o tatame e os utensílios de cerâmica e bambu
para a cerimônia, que segue um ritual milenar. Tudo é calculado metodicamente.
O chá é o “matcha”, chá verde em pó, que no início era servido apenas aos
sacerdotes zen budistas e aos nobres samurais... Esse ritual é conhecido como “Chanoyu”
e tinha na sua origem o propósito de purificar a alma. Toda a cerimônia prima
pela reverência. Um dos maiores apreciadores dessa cerimônia foi o famoso Xogum
Toyotomi Hideyoshi, um dos construtores do Japão Moderno, que mandou construir
um gabinete todo decorado de ouro... Hideyoshi apreciava muito o chá. E não
perdia uma ocasião para reunir convidados especiais para o chá.
E no Brasil, há uma cidade fronteiriça
que surgiu na rota do chá. É a cidade de Ponta Porã ligada à vizinha paraguaia Pedro
Juan Caballero, pela Avenida Internacional. Ponta Porã está ligada historicamente à origem
da erva mate, que é a base do chimarrão e do terere. Um dia vi a história contada
em baixo relevo num mural do Hotel Barcelona. Muitas cidades surgiram na rota
do chá no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. Região que continua
produzindo chá.
Embora o chá seja apenas uma bebida bem
simples deu origem a eventos sociais como Chá de Bebê, Chá de Panela, Chá de
Casa Nova... A intenção é apenas ajudar a futura mamãe com pequenos presentes
para o bebê que vai nascer, ou presentear os noivos para mobiliar sua casa.
Ultimamente, o comércio de bebidas está
oferecendo chá engarrafado geladinho pronto para o consumo. Chá verde, chá com limão,
com pêssego são opções para quem está sedento e encalorado. É uma bebida mais
saudável e não faz mal pra ninguém. Prefiro tomar chá do que refrigerante.
O chá combina com qualquer refeição. Nós
de origem japonesa apreciamos um chá verde sem adoçante, para acompanhar um
almoço ou um jantar. Para acompanhar lanches e bolos, um chá geladinho vai bem,
principalmente para quem não toma café.
E a moda generalizada hoje é tomar chás de ervas naturais para emagrecer, para
combater pedras nos rins, para controlar diabetes, artrite e enxaquecas. Eu
tomo chá de salsinha para limpar os rins, e de graviola para controlar a
hipertensão. Chá de graviola tem sido muito consumido para combater catarro e
tumores. Porque já está comprovado que os medicamentos feitos em laboratórios
podem curar certas doenças, mas trazem efeitos colaterais nocivos.
Então, a opção é o chá. Com moderação, é claro.
Mirandópolis, outubro de 2017.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
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