segunda-feira, 2 de abril de 2012


           Oásis no deserto

   Sempre ouvi dizer o quanto significa um oásis no deserto, para o beduíno, que empreende longas viagens sobre camelos, por aqueles caminhos áridos sem fim.
     Nunca estive num deserto, mas as imagens estão por toda a parte. E concluí que lá, só há areia e um sol ardente que não perdoa. A vida é terrivelmente dura, desconfortável e triste.
     Ora, sabemos que esses desertos não foram formados pelo homem. No princípio, aquelas terras secas estavam inundadas pelo mar, que deixou como testemunhos de sua existência, vestígios de sal e fósseis de animais marinhos.  A própria natureza, impedindo a passagem das correntes úmidas de ar, impediu precipitações de chuvas, secando ao longo dos milênios, a região e transformando-a em desertos.
     É difícil acreditar que já houve água na região. E água em abundância. Como aconteceu secar toda aquela vastidão de terras? Por certo, havia também florestas verdejantes, e fontes de águas doces, como comprovam os lençóis freáticos subterrâneos.
     Mas, como ocorreu essa mudança?
  Sabemos que os animais não destroem sua moradia natural. Pelo contrário, eles defendem seus territórios com toda a garra. A ação do vento conjugada com a falta de chuvas, foi ao longo dos milênios, solapando a superfície, eliminando o solo, com seus nutrientes para alimentar a vegetação. E tudo parou de nascer e se multiplicar. E tudo secou. E virou deserto, ou sabaku, como dizem os japoneses.
     É terrível empreender jornadas por aquelas terras, que mais parecem de outro planeta. Sem uma campina, sem uma árvore, sem uma sombra, sem um regato, sem um animal à vista. Sem moradias, sem gente  circulando. Sem a presença de vida.
   Fico imaginando que no ritmo em que caminham as devastações, o planeta todo em algumas centenas de anos, se tornará um imenso deserto. O homem só faz  derrubar, destruir, queimar. Ele não pensa em recompor, em recuperar, em reconstruir. Só pensa no lucro imediato. Estamos cercados de canaviais por todos os lados. Canaviais que substituíram de vez, as nossas roças e as belas matas, onde morava a rica fauna brasileira.
     Infelizmente, tenho ouvido sobre máquinas que, na calada da noite, vão às áreas onde ainda restam árvores, e as derrubam e enterram em imensas valetas, para esconderem os sinais do crime. E as autoridades se fazem de cegos, como se fosse natural, da noite para o dia, desaparecerem centenas de árvores que, levaram décadas para se formarem. Será que, os responsáveis pela vigilância estão sendo comprados, para tirarem os óculos, para não verem? Não há outra explicação.
     Como pode uma paisagem cheia de árvores, de repente, se transformar em terra deserta, sem a ajuda das máquinas?  Onde estão os fiscais? Para que existe o IBAMA? Só prá constar, pois não podemos nem dizer que é só prá inglês ver?
     Enquanto os plantadores de cana devastam as áreas de nosso município, há outros cidadãos preocupados com o futuro do planeta, e plantam árvores e árvores. Vemos no meio dos canaviais, ou nos desertos que se formam em virtude de sua plantação, verdadeiros oásis, cheios de árvores frutíferas, silvestres e madeiras de lei. E conversando com esses cidadãos, soube que os bichos estão voltando. São os animais silvestres, como macacos, tucanos, araras, gralhas, garças... Por falta de florestas, estão procurando esses oásis, para se alimentarem de ingás, de bananas, de mamões, de jacas, de jabuticabas, de pitangas, de amoras, de ciriguelas, de goiabas, de figos e de milho.
     É interessante notar que, ninguém sabe onde moram esses bichos. Eles vêm de repente, se alimentam fartamente e, depois desaparecem. Os bandos de macacos, às vezes, chegam de dezena, os tucanos também são numerosos, assim como as araras e as gralhas de peito amarelo. Como deve ser difícil viver assim, ao Deus dará, sem uma mata, que lhes forneça abrigo e comida o ano todo, principalmente para alimentar os filhotes.
     Felizmente, ainda há gente consciente, que tenta reparar o estrago feito pelo homem, procurando devolver aos seres vivos, o que lhes pertencia desde o princípio.
     Onde existem esses oásis, ainda há água em abundância, nos córregos, nas minas, nos açudes, provando com certeza, a insubstituível ação das árvores no processo de circulação da água entre o céu e a terra.
     O homem precisa acordar.
     Hoje são os bichos, que procuram esses oásis, que são raros. Amanhã, serão os seres humanos, que tendo destruído até o último recanto habitável da Terra, sairão em demanda desses oásis. E essa busca terminará em guerras de vida e morte, por causa da sobrevivência.
   Quando o dinheiro que vem da venda do álcool não puder comprar a água, que deixará de existir em breve,
  Quando esse dinheiro sobrar, mas não puder comprar um ar mais respirável,
   Quando houver tanto dinheiro no bolso, mas não existir mais laranjas, bananas e melancias para comprar,
    Quando o arroz e o feijão passarem a ser produtos raros, por falta de terras cultiváveis,
    Quando a fome assolar o mundo, e não houver comida para alimentar os seres humanos,
    Só então, a Humanidade despertará.
    E aí, será tarde demais.

     Mirandópolis, 23 de março de 2012.
      kimie oku (cronicasdekimie.blogspot.com)

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