quarta-feira, 25 de abril de 2012


A Rua São João
     Muitas vezes moramos num determinado lugar, sem conhecer nada  do que ocorreu anteriormente, nesse lugar.
         Tive recentemente, uma experiência inusitada, a partir de uma foto publicada no facebook. A foto era da primeira Cadeia Pública de nossa cidade. Era uma construção rústica, numa esquina e que aparentava realmente, ter sido um lugar triste.
   Ora, como soubera anteriormente que, a 1ª Cadeia da cidade se localizava no pedaço onde moro, comecei a pedir informações sobre a localização exata, época da instalação etc.
       E aí começou uma interminável novela, de internautas postando informações.
      Com isso descobri que a construção ficava quase em frente à minha residência; mais tarde ali moraram o Prof. Moacir Benetti e sua família.  A Delegacia ficava ao lado da minha casa, onde morou a família do senhor Idanir Momesso e recentemente, os Fioravanti.  Anos depois, tanto a Cadeia como a Delegacia foram transferidas para outros locais, mas inicialmente estavam instaladas aqui perto.
     A rua era de terra batida, e amigos meus moraram nas proximidades, e forneceram informações interessantíssimas sobre a vida da época. Disseram que, os presos que ficavam no “xilindró” eram só os bebuns da cidade, e que passavam a noite gritando da janelinha gradeada, porque apanhavam dos guardas. Pobrezinhos...
     Que a Rua do lado se chamava Aguapeí, e não Dr. Edgar Raimundo da Costa, como é chamada hoje.
   Que nesse quarteirão havia feira livre semanal, e como os feirantes vinham muito cedo, instalaram umas lâmpadas para iluminar as bancas, onde expunham seus produtos para vender. E os meninos da época, hoje senhores sessentões e meus informantes virtuais, descobriram o segredo da caixa para acender as lâmpadas, e passaram horas jogando pelada na rua, sob uma “quadra iluminada” de graça. Moleques... moleques...
   Que onde está instalada a atual Biblioteca Municipal, e foi a sede da Torrefação de Café Santo Antonio, foi antes a  residência do senhor João Teixeira Mendes.
   Que a Cadeia foi transferida para uma casa quase no fim do quarteirão, na mesma calçada de origem, onde morou o Coqueirão, jogador de baralho profissional. Ele não saia do Bandeirantes Atlético Clube, que ficava em frente às Lojas Marajá, clube que foi mais tarde a Loja Vigorelli. E nesse mesmo lugar onde morou o Coqueirão, morou a Profª Nilda Victória Bini.
     Que o Delegado nomeado foi o senhor Orlando Marques.
   Que no local onde resido, morou o Pi e os pais seu Valentim e dona Amélia. Mas a casa que moro, foi construída por seu Marcos da Costa Nogueira e sua esposa Mirian Azevedo Nogueira, Profª de Geografia no C.E.N.E. “Noêmia Dias Perotti”.
   Que anos mais tarde, a Delegacia e a Cadeia foram transferidas para o outro lado da Ferrovia N.O.B., perto da Casa da Lavoura, e depois para o local onde está agora a Delegacia de Polícia Civil, à Rua Primo Antonio Marchetti.
   Então, quando julgava completas as recordações desses meninões, passaram a postar informações sobre a rua de baixo, a Senador Rodolfo Miranda, onde morava o “véio Vicente” que tinha um pomar, e eles iam lá afanar as frutas... Sempre com medo dos tiros de espingarda de pressão do "véio", que alguém chegou a tomar...
      Daí, pularam para o bananal de uma senhora japonesa, que  se localizava lá pros lados do atual Estádio. Eles colhiam os cachos de banana, os enterravam e esperavam madurar... (que delícia!)
   A espingarda de pressão os levou ao sítio do senhor Kazama, que plantava melancias. Os meninos matavam aulas e iam armados de sacos de estopa, para furtar melancias. (Os pais confiantes, pensando que os meninos estavam estudando). Para os menores destinavam melancias pequenas, e os grandes que eram os mais espertos, levavam as maiores. E o seu Kazama os esperava com a espingarda de pressão, para lhes dar tiros de sal... (tal qual a história do Chico Bento, de Maurício de Souza) Inacreditável!
      Um desses larápios ouviu certa vez, o seu Kazama dizer a seu pai, que ia desistir de plantar melancias, porque quando as frutas estavam verdes, alguém ia lá e as furava para ver se estavam maduras... E quando estavam maduras, comiam a metade e largavam a outra metade... Prejuízo... O pior de tudo é que parece que até hoje, eles não se esqueceram do sabor da melancia roubada. (Hum! Que delícia!) Santinhos...
     Hoje, já homens feitos, aposentados, e brincando na Internet para matar o tempo, sentem saudades da Rua São João, onde aprontaram tantas... E têm saudades do seu Kazama. E me sugeriram que lhe conte quem eram os anjinhos, que sumiam com as suas preciosas melancias... E que seria muito engraçado se ele me mostrasse a famosa espingarda, que dava tiros de sal...
    Os heróis desta novela são: Anacleto, Bispo, Canário e Dinho. (para vingar os prejudicados)

        Mirandópolis, 21 de abril de 2012.
                   kimie oku  in “cronicasdekimie.blogspot.com”
         

5 comentários:

  1. Esta crônica foi elaborada a partir de troca de informações com os internautas Anacleto, Ademar Bispo, Osvaldo Resler e Ulisses Silva Lacerda.
    Descobri com isso, que a Rua São João é rica de lembranças de gente que morou aqui e já está longe. As pessoas vão embora e levam consigo, belas recordações que gostam de rememorar.

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  2. Kimie, enquanto nossa colaboração servir, estaremos subsidiando-a com fotos, passagens pitorescas e histórias verídicas de um saudoso tempo, o de nossa inesquecível e gostosa infância bem vivida na cidade de Mirandópolis.
    Obrigado e parabéns pela sua sensibilidade em juntar as peças e mostrar a atual geração, o que fomos, o que realizamos e o quão rica é a histórica de nossa cidade.

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  3. Mesmo as histórias desta crônica são o registro de uma vida simples,tranquila, inocente que passou. Se todo mundo tivesse a oportunidade de viver de forma tão bela, acho que a humanidade não estaria tão perdida. E todos seriam mais felizes e menos materialistas.

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  4. As ruas e ainda os dois lados da cidade,de certa forma naquela época tinha uma certa rivalidade entre os dois lado, o da frente da estação, onde está atualmente a Delegacia de Policia, Casa de Lavoura etc, e outro que é hoje considerado a area central da cidade. As mulecadas tinha uma certa rivalidade de território, todos sabiam quem morava e de que lado, houve na época até guerra de rojões ( busca pé), mas eram coisas inocentes e todos eram felizes. O grande momento era brincar na linha de trem da esplanada da estação, nos vagões, subindo em cima deles e ver embarcar e desembarcar o gado dos vagões que deixavam na mangueira feita de ferro de trilhos de linha, logo alí na travessia da linha em frente da maquina de café dos Wada, hoje é uma Igreja Evangelica. Vimos muitas coisas na estação de trem da N.O.B. que tenho saudade do trem passageiro, era o point da época. Lembranças de nossos amigos que se foram para outra dimensão e para outros lugares em moradia e que nunca se esquecem de nossa Mirandópolis., cidade pequena e ordeira. Abraços meus amigos. Dinho.

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  5. São esses comentários que vão enriquecendo a memória da cidade. Muito bom o seu depoimento, Dinho. Como sou de Lavinia, nunca soube dessa rivalidade e da vida da molecada nos trilhos da ferrovia. Lendo o seu texto percebi que antigamente, os meninos eram realmente tão inocentes. Nenhum garoto daquela época pensava em machucar, magoar, lesar e muito menos em matar pessoas. Hoje isso se tornou rotina. É assustador.

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