Meiwaku
De tanto estudar a língua japonesa, eu
me surpreendo de vez em quando pensando em japonês.
De repente, me ocorrem palavras que
definem exatamente o instante que estou vivendo. E o interessante é que a língua japonesa
possui expressões, que caem como luvas em certas ocasiões. Muitas vezes, uma
única palavra define a situação, que em nossa língua teria que ser explicada
com uma frase inteira.
Percebi isso há pouco tempo, quando fui
dar ré no carro numa esquina qualquer. À frente não havia espaço e, eu teria
que afastar um tanto o veículo para pode sair.
Aconteceu, porém que havia uns capiaus
conversando justamente ali, com crianças encostadas no meu carro. Estavam no
leito da rua, e me impediam de manobrar o carro. E eles estavam tão entretidos
na conversa que nem perceberam o meu problema. Tive que descer do carro e pedir
aos cidadãos que subissem na calçada para eu poder sair. E uma das mulheres me
olhou atravessado, como se eu estivesse errada.
E aí me ocorreu: “Meiwaku!”.
Não é palavrão, nem xingamento, é
apenas uma expressão que define bem a situação. Explico: É uma expressão
formada por duas palavras – mei que significa perdido, confuso e waku que
significa perplexidade.
Na verdade, usa-se essa palavra quando
deparamos com situações que nos aborrecem, que deixam as pessoas confusas. Foi
o que senti, e além de pensar “Meiwaku!” pensei “Não acredito!”.
Já deparei com outras situações que me
deixaram bastante atrapalhada, porque as pessoas não têm senso do que é correto
e assumem atitudes um tanto
desagradáveis.
Sinto isso, sempre que ando pelas
calçadas de minha cidade, e deparo com pessoas conversando em grupos, contando
histórias e rindo como se estivessem na sua sala de visitas. Os pedestres, que
precisam usar a calçada para transitar, têm que descer para a rua, e correm o
risco de serem atropelados. E isso, sem
falar nas pessoas com dificuldades para caminhar, que usam bengalas ou arrastam
uma das pernas, que precisam desviar-se do grupo para poder passar. Isso é
deveras um enorme meiwaku!
Outra situação comum ocorre dentro dos
mercados e shoppings, onde alguns clientes deixam seus carrinhos justamente no
corredor, onde passam as demais pessoas, atravancando o caminho. E quando
crianças pegam carrinhos de compras, e rodam de graça pelo mercado inteiro,
atropelando os outros? Olha, é um risco cruzar com esses garotos, que estão lá
para se divertirem e os pais fazem cara de paisagem, porque assim eles não
ficam pedindo: “Pai compra isso, compra aquilo!”.
Às vezes, me ocorre de estar super atarefada
em casa, lidando com panelas e toca o telefone. Esbaforida, vou atender, e é
uma dessas ligações oferecendo seguros, cartões de crédito, financiamentos,
férias não sei aonde e outros que tais. Puxa! Que coisa mais chata! E a menina
do outro lado da linha fala como um robô, para não dar espaço para a gente
recusar. Ou, às vezes é uma gravação mesmo! Que fazer? Simplesmente desligar,
porque ninguém oferece dinheiro gratuitamente. Quando a interlocutora é
educada, só digo que minha panela vai queimar...
Chato mesmo é quando você está com
pressa e quer ser atendida logo, e a pessoa que deveria fazê-lo, está ao
telefone passando receitas de bolo, comentando a última festa de peão, ou
falando sobre o final da novela! E se você faz algum gesto, passa por chato e
ignorante... Puxa! Como tem gente idiota, que não desconfia que está lá para
trabalhar, e não para fazer fuxico. Isso ocorre com frequência nas repartições
públicas, infelizmente.
Agora, com relação ao cigarro não há
meiwaku maior do que uma mulher (geralmente é mulher!) que fuma perto de um
grupo de pessoas, que estão numa sala de espera. Quando o ambiente é aberto, a
fumante se afasta um pouco e fica tirando suas baforadas, enquanto todos os
demais sofrem com o cheiro e a fumaça, afogando-os e provocando tosse. Pelo
simples fato de ter se afastado uns metros, ela acha que está respeitando os
outros. Mas, não é assim. Às vezes, quando estou com a janela aberta de minha
sala que dá para a rua, e passa alguém fumando na calçada, fico asfixiada pela
fumaça que sobra no ar. E preciso ligar o ventilador para despoluir a casa
toda, que fica realmente malcheirosa. E a minha casa é recuada alguns metros da
calçada.
Inconvenientes também são as pessoas
que não sabem ouvir. Se há alguém falando, declamando, passando um aviso, o
correto é ficar quieto para que a informação chegue para todos. Mas, sempre há
aquela pessoa chata, que começa um zum-zum com um vizinho, para comentar alguma
coisa que lhe ocorreu. Ela é incapaz de aguardar o fim do comunicado para trocar
figurinhas com o parceiro do lado. E isso incomoda prá caramba. Meiwaku!
Outra coisa muito, muito desagradável é
estar numa reunião com amigos, que não se desligam do celular. Quando não estão
falando, estão jogando. E nem adianta você tentar um diálogo, pois logo é
interrompido por alguém que liga para ele. Tem gente que deveria nascer com o celular já
colado na orelha, como se fosse uma extensão do próprio corpo. Quem sabe, num
futuro próximo...
Falando em celular, já passei por
situações muito estressantes dentro de ônibus, com os passageiros atendendo ao
celular em altos brados. Olha, isso é o fim da picada! E falam como se
estivessem sozinhos, passando receitas de peixe assado, discutindo com
parentes, comentando o andamento de processos dos Tribunais... Eu não quero
saber de receitas de nada, não quero saber de encrencas de famílias, e muito
menos quero saber como andam os processos judiciais alheios (até advogados!).
Você está num ônibus e só quer chegar ao seu destino em paz, sem se estressar.
E no mesmo veículo vão esses idiotas, que não sabem respeitar a privacidade de
cada um e nem a própria!
Meiwaku! Meiwaku! Meiwaku!
E o pior de tudo isso é que esses cidadãos
nunca irão perceber que são de fato, pessoas inconvenientes, que só aborrecem
os que os cercam. São desagradabilíssimas e nunca irão mudar.
Ops! Será que esse texto é também um
meiwaku?
Mirandópolis, agosto de 2013.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
Ótima!Bom senso é fundamental!
ResponderExcluirEu sabia que bateria com o seu modo de pensar. Há coisas que a gente percebe sem que ninguém nos ensine. Mas, também há gente que não aprende de jeito nenhum, né? E como tem gente desse tipo que são meiwaku para a sociedade.
ResponderExcluirMeiwaku...estou aqui aprendendo...
ResponderExcluiraprendendo a pronuncia
aprendendo a nunca causar um "Meiwaku"
Como dizia o Capitão Rio do Exército Brasileiro: " Aprenda com o erro dos outros. Não é preciso você errar também!" Acho que você , Ana é incapaz de causar meiwaku a quem quer que seja.
ResponderExcluirMuito interessante , Kimie..... Me coloquei a pensar nos fatos que voce citou para ver se algum dia alguém poderia ter olhado pra mim e pensado "Meiwaku". Tomara que não.
ResponderExcluirAdorei o texto !!!
Acho que você não provocaria meiwaku, Regina. Mas,
ResponderExcluirtambém deve ter passado por situações de meiwaku que a deixaram muito aborrecida, não?