Mistério inexplicável
Desde que minha mãe faleceu, tenho um
cantinho onde presto culto aos meus antepassados com uma vela de sete dias, que
mantenho acesa sempre.... É o altar de casa, onde peço a Deus que ilumine os
caminhos dos que já partiram, e estes por sua vez protejam os que ficaram...
Ao longo desses doze anos, a vela me
revelou coisas extraordinárias. E volta e meia levo um susto porque ela
prenuncia fatos inexplicáveis. Eu sei que vela é vela mas o fogo é que me
impressiona. As labaredas parecem ter vida própria. Ela se apaga quando há uma corrente
de ar, e se queima naturalmente quando tudo está em ordem.
Mas, percebi que as chamas falam comigo.
Incrível, não é?
Sei que não sou uma pessoa
espiritualista com dom especial e muito menos entendo de bruxaria... Mas, já
ocorreram fatos inacreditáveis, que só posso atribuir ao Divino, que ouve
minhas preces.
Quando a família está em crise, com
problemas que parecem insolúveis, a vela não queima certinha. Ela se derrama
dos lados e fica toda borrada... Ou pega fogo no papel que a envolve e levanta
labaredas que parecem incendiar a casa. O Nori diz nessas horas que a qualquer
hora vou botar fogo na casa... Outras vezes, a vela se apaga sem mais nem
menos, mesmo protegida das correntes de ar. E lá vou eu acendê-la de novo. E de
novo ela se apaga. E assim fico teimando por uns dias, até ela se firmar...
Mas, esta semana aconteceu um fato que realmente me marcou. A vela estava protegida e queimando certinha. E de
repente, levantou uma labareda muito alta sem nenhuma razão. Apaguei e cortei o
envoltório de papel, para evitar que acontecesse de novo e a acendi... Daí a
pouco, nova labareda se formou e derreteu toda a vela como se fosse uma massa
compacta, sem ter chegado até o fim. Ficou de um jeito que não poderei
aproveitar o protetor, porque o vidro ficou bem trincado ...
E o inacreditável foi que ocorreu logo
em seguida um problema muito grave que poderia
acabar com a Ciranda... Passei três dias desnorteada, sem conseguir pensar
direito... Entretanto, nesses momentos é que mais precisamos orar e assim fiz.
Pedi ajuda dos céus... E graças aos bons espíritos e a ajuda de cirandeiros
mais sábios conseguimos superar a crise, e realizamos a última ciranda do ano.
E tudo correu bem, e estamos
reprogramando as atividades do ano que vem, com o apoio de todos, porque
ninguém quer acabar com o nosso grupo. Já se tornou indispensável para muitos.
Acabar a Ciranda? Nem pensar!
O que ocorreu foi muito triste e deprimente,
mas só balançou um pouco o grupo. E penso até que foi um teste, porque todos saímos
mais fortalecidos dessa crise. E mais unidos do que nunca. A Ciranda
tem que ser União, compreensão e companheirismo. Sem isso, não há
Ciranda.
Entretanto, estou escrevendo isso porque
há alguma coisa inexplicável nas chamas de uma vela, quando prenunciam
acontecimentos futuros. Quando a vela queima certinha, tudo corre bem. Mas,
quando ela se borra toda ou levanta labaredas já sei que algo extraordinário vai
ocorrer... e isso é assustador.
Por que ocorre isso?
Alguém pode me explicar isso?
Mirandópolis, 06 de dezembro de 2017.
kimie oku in
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