Necessidades de um idoso
Ontem,
andando pela cidade encontrei amigos que me pararam para conversar. E conversar
é ótimo!
Primeiro
foi o Serafim, o catador de recicláveis. Magrinho e sempre quietinho, parece
que sua figura nunca muda. Empurrando o carrinho de papelões que cata pela
cidade. Perguntei-lhe dos dois filhos, que levava à Escola Ebe Aurora,
segurando-os pelas mãos... Disse que estão casados, trabalhando e dando conta
de suas vidas. Disse ainda que tem dez netos e bisnetos. Serafim criou os
filhos sozinho, acho que era viúvo... Nunca vi sua mulher... Ainda falou que
mesmo aposentado, gosta de recolher os recicláveis para conseguir uns trocados,
porque não consegue ficar parado. Está com 78 anos de idade e continua andando
com o corpo ereto, sem capengar. É uma figura que vejo sempre circulando pela
cidade. Comentei que me lembrava dos tempos da Escola Ebe Aurora e ele sorriu
pensando nos meninos ainda pequenos. Sua vida deve ter sido muito difícil, mas
parece que não lhe deixou traumas... Foi muito bom falar com ele. Serafim...
Depois,
encontrei a querida Neyde Pavesi, que é uma das maiores benfeitoras que conheci
aqui na cidade. Toda vez que a encontro ambas ficamos felizes, porque a nossa
conversa não tem fim. Acho que ela é quem mais fala. Fala dos filhos, da glória
de um neto de 17 anos enfrentando o Vestibular, do bisneto pequenino querendo
ajudá-la na faxina de casa... Da saúde sempre levando-a aos limites, com dores,
com sofrimentos atrozes, com dedos se travando... Que tudo de muito ruim ataca
seu corpo volta e meia, como a Herpes Zoster... Mas, que não desiste nunca de
pelejar para vencer esses “presentes” que Deus lhe manda... Neyde Pavesi, uma
mulher valente e generosa como ninguém!
E perto
do Foto Celso, encontrei a Célia Rufo. Magrinha e bonita, sempre igual, andando
célere atrás de seus compromissos. Mas sempre dá uma paradinha para perguntar
de minha irmã Akemi de quem é muito amiga e de quem nunca se esquece. Que na
véspera, ela e o Rufo estavam comentando que a minha querida irmã está acamada
há muito tempo, que fará cinco anos em 15 de março vindouro... Informei que ela
está hospitalizada, com todos os cuidados necessários no São Luís em São Paulo.
Que está com os cabelos brancos, brancos com pele boa e que tem lances muito
breves de consciência, como derramou uma lágrima ao conhecer a netinha, que
sempre desejou... Que felizmente, não está se atrofiando como sói acontecer em casos de
longa permanência na cama. Que não consegue se comunicar, o que é doloroso
demais para os familiares... Célia.
E à
tardezinha, estava caminhando no meu quintal e a Ester Pandin, amiga de longa
data chegou pra um papinho... Fazia muito tempo que não a via. Perguntou-me da
Akemi, com quem trabalhou no SESI, dei-lhe todas as informações... Falou-me de
sua vida de aposentada, que não consegue ficar parada, então se uniu ao grupo
de defesa do Pelotão Animal, e por esse motivo estava ali em frente à minha
casa, porque havia trazido um cachorro para ser atendido pela Camila,
Veterinária do Hara’s Pet. Disse ainda que participa de alguns grupos de
aposentados e gostaria de me ajudar na Ciranda. Ester...
E aí
percebi que, todos nós idosos aposentados não gostamos de viver inutilmente, sem nada
fazer, sem servir ao próximo, sem estender a mão a alguém para dar sentido à
vida. Aposentar-se e ficar esperando a morte? Isso é muito triste.
Porque o homem
é um ser caminhante. Se parar, ele trava e seu corpo entra em declínio como uma
máquina, cujas engrenagens começam a se enferrujar por falta de uso. Muita
gente ainda não atentou para isso. Homens na meia idade se aposentam e passam a
vida diante da tevê e do computador, como se nada mais importasse nesse mundo. Só
que o corpo começa a cobrar a inatividade, os nervos se retraem, os músculos
ficam meio dormentes... E quando o cidadão precisa caminhar para ir ao
banheiro, as dores se manifestam. E se nada fizer, as dores serão a companheira
de todos os dias para essa pessoa. Então, caminhar é preciso, alongar é
preciso, porque o nosso corpo é vivo e precisa de estímulos.
As
mulheres em sua maioria já perceberam que é preciso se cuidar. E fazem
caminhadas, hidroginástica, academia... E acabam vivendo mais que os homens.
Não acreditam? Pensem no número de viúvas que vocês conhecem...
Felizmente,
os amigos aqui citados estão levando a sério a necessidade de caminhar, de se
exercitar, de fazer algo por alguém, de recolher o lixo que outros jogam... Mesmo
sem cultura, e meio alienado o Serafim executa uma tarefa importante para a
sociedade. Manter o ambiente livre de papelões que a sociedade produz...
A Célia
sempre ativa correndo pra lá, pra cá cuidando dos familiares... A Ester
procurando ser útil defendendo animais e a Neyde, bom a Neyde sempre generosa, sempre
atenta para socorrer quem precisa de ajuda. Mesmo nos momentos de muita dor,
ela não abre mão de atender a quem precisa. Nem que seja apenas um abraço.
Abraço que abençoa o premiado.
E eu que
vou pelejando com a minha Ciranda, para diminuir a solidão dos idosos que
conheço.
Nós os
cinco, Serafim, Neyde, Célia, Ester e eu não estamos esperando nosso funeral...
Enquanto houver um tico de vida estaremos pelejando, dando tudo de nós para
viver intensamente. Em gratidão a Deus pela vida que nos foi concedida.
E quando chegar a
hora, seremos resgatados por Deus em plena ação!
Mirandópolis,
08 de dezembro de 2017.
kimie
oku in
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