sexta-feira, 14 de setembro de 2012





6.  História de Mirandópolis
dos anos 40/50
Relato de Elídio Ramires

CAPÍTULO VI – Minhas novas atividades na cidade

Paralelamente às minhas incursões no campo literário e jornalístico, continuava trabalhando nas Indústrias Mizikami.  Mas, em 1952, a péssima situação econômica do país, com a volta de Getúlio ao poder, causou retração nas vendas e da pesada dívida assumida, a situação da firma entrou em colapso, sendo forçada a cessar atividades e vender seu patrimônio, quando então me desliguei da empresa.


Como tinha um bom valor em crédito de salários a receber, somado a um empréstimo, que minha família havia feito à firma, negociei com o Jonas a aquisição da Casa de Móveis Cristal e respectivo estoque, que a empresa possuía na Rua do Comércio 510, em pagamento da dívida associando-me em seguida com José Crevelaro, então gerente da marcenaria, para tocarmos o ramo do negócio, com o objetivo de montar inclusive uma oficina de marcenaria no terreno ao lado da loja. A transação se concretizou com a fundação da firma: Ramires & Crevelaro Ltda, com o capital inicial de 20 mil cruzeiros, sendo os 10 mil da parte do Crevelaro representados por um lote de terreno que possuía em Andradina.
Inicialmente, apenas o Crevelaro, que já morava com a família na parte residencial da loja, ficou cuidando da mesma. Eu apenas cuidava da parte administrativa e como principal atividade, além de continuar como redator do jornal, adquiri a Escola de Datilografia do Prof. Ayres Monteiro. A escola possuía 5 máquinas de escrever e respectivos móveis, que instalei em pequena casa construída pela minha mãe, nos fundos da padaria, onde também minha irmã Elza montou um curso de preparatório para o ginásio.
Para legalizar a Escola, prestei exames de comprovação de capacidade técnica, no Departamento de Ensino Profissional, em São Paulo, que me conferiu o certificado de registro da Escola.
A iniciativa, entretanto, durou pouco tempo. Alguns meses depois, logo que eu e meu sócio Crevelaro terminamos de montar a fábrica de móveis e esquadrias com maquinário que compramos em Monte Alto vendi a Escola para o Prof. Pedro Paulo Guizelini, para agrega-la à Escola de Comércio que  ele estava montando na cidade, e passei a administrar em tempo integral nosso empreendimento comercial, que passara a ser também industrial e que felizmente, ia muito bem.
O trabalho em tempo integral na loja, porém, não me impediu de continuar respondendo pela redação do jornal, escrevendo os artigos oportunos e as notícias da semana, inclusive comparecendo todo sábado para revisar as provas de teste de impressão.
Minhas atividades em Mirandópolis, todavia, não se limitaram apenas à redação do jornal “A CIDADE” e à Casa de Móveis Cristal. Entrementes, tentei realizar o sonho de ter uma livraria e entusiasmado, montei a LIVRARIA DOS ESTUDANTES em um pequeno salão alugado na rua Araçatuba, hoje  segundo consta, rua Gentil Moreira, colocando meu  irmão Osvaldo para tomar conta. O negócio, porém não foi bem e acabei vendendo-a à Dinorá Correa, que a transferiu para o outro lado da rua em um salão maior e ampliou o seu estoque, conseguindo maior sucesso.
A par de tudo, continuei escrevendo crônicas e poesias, que além de publicar na “A CIDADE”, continuava como antes enviando para outros jornais da região.
Atividades sociais e Institucionais
Além de exercer através do jornal “A CIDADE” e das notícias que enviava à FOLHA DA MANHÃ, um trabalho que a meu ver, importante para a cidade, ainda tive a honra de participar de várias entidades sociais, culturais e institucionais em Mirandópolis como, por exemplo a fundação do Grêmio Teatral Amigos de Mirandópolis (GATAM), do qual fui Presidente e que reuniu amigos como Francisco Von Dreyfus, seu diretor  artístico, Arnaldo Rodrigues Eid  vice-presidente  e outros que participavam do elenco, levando o nome  da cidade  a várias cidades vizinhas, com satisfatória interpretação das peças teatrais.
Outro cargo importante que muito me honrou foi ser Presidente do Clube Atlético Mirandópolis-CAM. Com o abandono da parte esportiva no final dos anos 50, o CAM tornou-se apenas um clube social de pouca atividade, sustentado pelas mensalidades de seus associados, e a renda de jogos de baralho, que funcionavam em área aberta, no fundo do salão. Insatisfeitos com a situação, eu e meus amigos Luiz Gonzaga Andrade, Rubens Jordani, Orlando Barbosa de Oliveira, Ivando Junqueira e outros resolvemos participar da eleição sucessora do mandato de Adelino Minari, e fomos eleitos, formando a nova Diretoria, tendo eu como Presidente.

Em pouco tempo mudamos totalmente a dinâmica administrativa do Clube, começando por vender um piano, comprado pela diretoria antecessora, e aplicando o dinheiro em aparelhagem de som, com alto-falantes nas paredes, aquisição de discos, modernização do salão, com instalação de arandelas para iluminação indireta, aquisição de cadeiras mais confortáveis, enfim, melhorando em todos os setores o funcionamento do clube, que continuou, em parte, se sustentando com as comissões cobradas nos jogos de baralho, ainda não proibidos e dos quais até o Delegado participava.

Além da mesa de ping-pong à disposição dos associados todos os dias, e das brincadeiras dançantes aos domingos, animadas com discos, promovemos durante a nossa gestão, os melhores e mais animados bailes da época, todos abrilhantados pelas mais famosas orquestras do Estado, como Pedrinho e sua orquestra, de Guararapes, a Orquestra Marajoara de Jaboticabal, a orquestra Sul América de Catanduva, e outras.

Somente com Pedrinho e sua orquestra, contratamos em certa ocasião, de uma só vez, 8 bailes a preço reduzido, para serem realizados em datas disponíveis a serem escolhidas.

Os bailes de Carnaval também, em nossa gestão foram os melhores e mais bem organizados da época. Eram sempre esperados com ansiedade pelos foliões que participavam dos 4 bailes, brincando com muita descontração entre amigos e familiares, jogando serpentina no salão e atirando entre si, confetes e lança-perfume, ainda não proibido.  As músicas mais tocadas foram as que marcaram época em bailes de carnaval até hoje: “Jardineira”, “Daqui não saio”, “Nem um chope”, “Sassaricando” e outras que até hoje são lembradas.

Enfim, a Presidência do CAM foi um período de sucesso em minha vida que me deixou muita saudade.
Fui também 1º secretário da Associação Comercial, fundada sob a presidência de Wilson Giampietro Ribeiro e  membro do corpo de Jurados da Comarca, embora tenha participado de um único júri.
O último cargo que exerci em Mirandópolis, que classifico de institucional, porque na época não era remunerado e sim trabalho em prol da coletividade, foi o de Vereador.
Eleito em 03 de outubro de 1956, em 3º lugar entre os mais votados para o mandato de 57/60, fui eleito pelos meus pares no primeiro ano de mandato 1º secretário da mesa diretora, e no 2º ano segundo secretário da mesa.

 Infelizmente, apesar de meus esforços não pude fazer muito pela cidade, uma vez que meu partido, o PSP de Adhemar ficou em minoria na Câmara, e a maioria pertencente ao partido de Janio Quadros do Prefeito Alcino Nogueira de Sylos, não aprovava nada proposto pela oposição.
Foi o único cargo que exerci em Mirandópolis, que em vez de me causar satisfação, me causou dissabor e decepção. A política gera comportamento estranho na maioria das pessoas. É coisa complexa de efeitos bilaterais inexplicáveis para uma pessoa sensata. Ao mesmo tempo em que se faz amigos fiéis, gera inimigos gratuitos e as vezes, até mesmo agressivos a quem você  nunca fez mal, pelo simples fato de pertencer a um Partido diferente.
Jovem trabalhador habituado a realizar tarefas e desafios que assumia, em conjunto com parceiros e colaboradores sensatos, sem nunca encontrar pela frente inimigos, me senti na condição de vereador um inepto, um inútil, sem nenhuma possibilidade de concretizar qualquer proposta  ou indicação de serviços necessários em benefício da cidade, porque  todas eram rejeitadas e quando, eventualmente aprovadas, eram ignoradas pelo Prefeito.
Por isso considerei e considero até hoje, decepcionante minha experiência como vereador em Mirandópolis, uma inoportuna incursão na política, que felizmente nunca mias repeti em minha vida. (continua na próxima semana)

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