dos anos 40/50
Relato de Elídio Ramires
CAPÍTULO VI – Minhas novas atividades na cidade
Paralelamente às minhas incursões no campo literário e jornalístico, continuava trabalhando nas Indústrias Mizikami. Mas, em 1952, a péssima situação econômica do país, com a volta de Getúlio ao poder, causou retração nas vendas e da pesada dívida assumida, a situação da firma entrou em colapso, sendo forçada a cessar atividades e vender seu patrimônio, quando então me desliguei da empresa.

Inicialmente, apenas o Crevelaro, que já morava com a família na parte residencial da loja, ficou cuidando da mesma. Eu apenas cuidava da parte administrativa e como principal atividade, além de continuar como redator do jornal, adquiri a Escola de Datilografia do Prof. Ayres Monteiro. A escola possuía 5 máquinas de escrever e respectivos móveis, que instalei em pequena casa construída pela minha mãe, nos fundos da padaria, onde também minha irmã Elza montou um curso de preparatório para o ginásio.
Para legalizar a Escola, prestei exames de comprovação de capacidade técnica, no Departamento de Ensino Profissional, em São Paulo, que me conferiu o certificado de registro da Escola.
A iniciativa, entretanto, durou pouco tempo. Alguns meses depois, logo que eu e meu sócio Crevelaro terminamos de montar a fábrica de móveis e esquadrias com maquinário que compramos em Monte Alto vendi a Escola para o Prof. Pedro Paulo Guizelini, para agrega-la à Escola de Comércio que ele estava montando na cidade, e passei a administrar em tempo integral nosso empreendimento comercial, que passara a ser também industrial e que felizmente, ia muito bem.
O trabalho em tempo integral na loja, porém, não me impediu de continuar respondendo pela redação do jornal, escrevendo os artigos oportunos e as notícias da semana, inclusive comparecendo todo sábado para revisar as provas de teste de impressão.
Minhas atividades em Mirandópolis, todavia, não se limitaram apenas à redação do jornal “A CIDADE” e à Casa de Móveis Cristal. Entrementes, tentei realizar o sonho de ter uma livraria e entusiasmado, montei a LIVRARIA DOS ESTUDANTES em um pequeno salão alugado na rua Araçatuba, hoje segundo consta, rua Gentil Moreira, colocando meu irmão Osvaldo para tomar conta. O negócio, porém não foi bem e acabei vendendo-a à Dinorá Correa, que a transferiu para o outro lado da rua em um salão maior e ampliou o seu estoque, conseguindo maior sucesso.
A par de tudo, continuei escrevendo crônicas e poesias, que além de publicar na “A CIDADE”, continuava como antes enviando para outros jornais da região.
Atividades sociais e Institucionais
Além de exercer através do jornal “A CIDADE” e das notícias que enviava à FOLHA DA MANHÃ, um trabalho que a meu ver, importante para a cidade, ainda tive a honra de participar de várias entidades sociais, culturais e institucionais em Mirandópolis como, por exemplo a fundação do Grêmio Teatral Amigos de Mirandópolis (GATAM), do qual fui Presidente e que reuniu amigos como Francisco Von Dreyfus, seu diretor artístico, Arnaldo Rodrigues Eid vice-presidente e outros que participavam do elenco, levando o nome da cidade a várias cidades vizinhas, com satisfatória interpretação das peças teatrais.

Em pouco tempo mudamos totalmente a dinâmica administrativa do Clube, começando por vender um piano, comprado pela diretoria antecessora, e aplicando o dinheiro em aparelhagem de som, com alto-falantes nas paredes, aquisição de discos, modernização do salão, com instalação de arandelas para iluminação indireta, aquisição de cadeiras mais confortáveis, enfim, melhorando em todos os setores o funcionamento do clube, que continuou, em parte, se sustentando com as comissões cobradas nos jogos de baralho, ainda não proibidos e dos quais até o Delegado participava.
Além da mesa de ping-pong à disposição dos associados todos os dias, e das brincadeiras dançantes aos domingos, animadas com discos, promovemos durante a nossa gestão, os melhores e mais animados bailes da época, todos abrilhantados pelas mais famosas orquestras do Estado, como Pedrinho e sua orquestra, de Guararapes, a Orquestra Marajoara de Jaboticabal, a orquestra Sul América de Catanduva, e outras.
Somente com Pedrinho e sua orquestra, contratamos em certa ocasião, de uma só vez, 8 bailes a preço reduzido, para serem realizados em datas disponíveis a serem escolhidas.
Os bailes de Carnaval também, em nossa gestão foram os melhores e mais bem organizados da época. Eram sempre esperados com ansiedade pelos foliões que participavam dos 4 bailes, brincando com muita descontração entre amigos e familiares, jogando serpentina no salão e atirando entre si, confetes e lança-perfume, ainda não proibido. As músicas mais tocadas foram as que marcaram época em bailes de carnaval até hoje: “Jardineira”, “Daqui não saio”, “Nem um chope”, “Sassaricando” e outras que até hoje são lembradas.
Enfim, a Presidência do CAM foi um período de sucesso em minha vida que me deixou muita saudade.
Fui também 1º secretário da Associação Comercial, fundada sob a presidência de Wilson Giampietro Ribeiro e membro do corpo de Jurados da Comarca, embora tenha participado de um único júri.
O último cargo que exerci em Mirandópolis, que classifico de institucional, porque na época não era remunerado e sim trabalho em prol da coletividade, foi o de Vereador.
Eleito em 03 de outubro de 1956, em 3º lugar entre os mais votados para o mandato de 57/60, fui eleito pelos meus pares no primeiro ano de mandato 1º secretário da mesa diretora, e no 2º ano segundo secretário da mesa.
Foi o único cargo que exerci em Mirandópolis, que em vez de me causar satisfação, me causou dissabor e decepção. A política gera comportamento estranho na maioria das pessoas. É coisa complexa de efeitos bilaterais inexplicáveis para uma pessoa sensata. Ao mesmo tempo em que se faz amigos fiéis, gera inimigos gratuitos e as vezes, até mesmo agressivos a quem você nunca fez mal, pelo simples fato de pertencer a um Partido diferente.

Por isso considerei e considero até hoje, decepcionante minha experiência como vereador em Mirandópolis, uma inoportuna incursão na política, que felizmente nunca mias repeti em minha vida. (continua na próxima semana)
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