quarta-feira, 5 de setembro de 2012


La cucaracha

Quando henfil, 1944/1988, famoso cartunista brasileiro foi aos Estados Unidos se tratar de Aids, adquirida por transfusão de sangue, pois era hemofílico, descobriu que os yankees usavam o termo “cucaracha” para se referirem aos latino-americanos, incluindo os brasileiros.
Quando perguntou a alguém a razão disso, disseram que era porque os latinos se reproduziam como baratas.
Cucaracha em espanhol significa barata, esse inseto desagradável, que vive nos bueiros e é louco para invadir nossas cozinhas, à procura de alimentos.
         Ao ler sobre isso, senti uma aversão e repulsa imediata pelos gordos e desbotados americanos, que se arrogavam ser os melhores e mais poderosos do mundo. Por muitos anos, cultivei essa aversão pelo povo americano, mesmo assistindo a seus famosos filmes, que muito nos encantaram nos cinemas.
Mas, com o passar dos tempos, a gente vai amadurecendo e, devagarzinho vai tomando consciência da realidade que nos cerca. Descobri então, que aquilo não era a opinião geral do povo americano. Era sim, a postura discriminatória de alguns pobres cidadãos, que se arrogavam o direito de julgar pessoas de outras nacionalidades.
Na verdade, eu os igualo aos nazistas que tanto mal causaram à humanidade. Uns e outros cultivaram a prepotência de desprezar pessoas, que nasceram em outros territórios, ou em outros sistemas de culturas.
Mas, nada é mais fascinante que conhecer outras culturas, outras religiões, outros costumes sociais.
Na África de hoje, existem tribos desconhecidas pelos ocidentais, que vivem confinadas no oco da floresta. Possuem hábitos inacreditáveis, devido ao ambiente em que vivem e ao próprio isolacionismo. E respeitam a floresta como um dos presentes mais preciosos, que o Criador lhes concedeu.
Na China e na Índia, que ocupa um quarto do território do planeta, existem civilizações tão diversificadas; pessoas de cor branca e olhos claros e também grupos de negros, cada qual com sua linguagem própria, sua religião e seus costumes herdados dos ancestrais. Mesmo na Austrália, onde predominam os loiros, há grupos de gente tão negra como os africanos, de cabelo pixaim. E todos esses grupos são naturais da região, não foram importados.
No Japão medieval, havia os “ainos”, ou gente silvícola que vivia em comunhão com a natureza, sem nenhum indício de civilização. Viviam da caça e da pesca, comiam carne crua dos animais abatidos em suas caçadas. E praticavam rituais de reverência às vidas que consumiam, para que perdoassem os humanos que, para continuarem vivendo sacrificavam os irmãos-animais, que viviam na mesma floresta. Eram os equivalentes aos nossos indígenas, donos absolutos desta América. Reverência aos animais...
O mundo todo é uma extensão de terras habitadas por gente tão diferenciada, que não dá para entender por qual razão, os brancos se convenceram que eram melhores e superiores aos demais.
E de repente, no Face-book vi a denúncia de que, pastores evangélicos estão demonizando e incendiando templos sagrados dos guaranis, em Mato Grosso do Sul, logo ali a um passo da gente.
De que adianta pregar que o Dia 19 de abril é Dia do Índio, que devemos respeitar os primeiros habitantes de nossas selvas, que eram os donos verdadeiros de tudo isso que lhes tomamos?
A mente de alguns continua tão retrógrada como na Idade Média, em que os diferentes eram queimados vivos. Quanta gente inocente morreu na fogueira, só porque pensava diferente dos demais, ou porque teve visões que não pediu a Deus?
Já era para a humanidade ter aprendido que somos iguais às formiguinhas, que andam em carreira em busca de alimento pelo chão. Ninguém é mais que ninguém!
Todos os dias, a gente vê amigos de todas as classes sociais partindo, uns só com a veste do corpo, outros deixando um imenso legado em bens materiais, que só provocará discórdia na hora da partilha.
Um dia, ouvi de um cidadão bem simples, o seguinte: “Fulano morreu tão rico, com tantas fazendas e gado e mais gado. Não se importou com os familiares que estão pelejando, e sofrendo... E agora, vai só com a roupa do corpo. Na hora de partir, todo mundo se iguala!”
Tudo isso é lição de vida para a gente aprender. Deus coloca essas verdades diante de nós, todos os dias. E a humanidade continua cega e surda como nos tempos medievais.
 Pior que tudo isso é gente que , em nome de Deus pratica essas barbáries, que usa a religião como argumento para humilhar pessoas de outras culturas. Foi assim que os jesuítas fizeram, com seus programas de evangelização e acabaram com a cultura de nossos irmãos tupi-guaranis.
Por que Deus permitiria a existência de nossos irmãos nas selvas americanas, com seus hábitos e seus costumes seculares? Porque era assim que tinha que ser. Cada qual cultuando um Deus próprio, que resolvia seus problemas do cotidiano.
Porque Deus é um só. E todos os caminhos conduzem a Ele, desde que se tenha fé. Então, pra quê impor outra idéia, outra crença, outra religião?
Formigas, cucarachas, pastores, crentes, brancos, negros, amarelos, azuis, deficientes ou padronizados, todos nós somos apenas pobres criaturas de Deus.
Criaturas que só querem um pouco de respeito.
Mirandópolis, 30 de agosto de 2012
kimieoku in cronicasdekimie.blogspot.com

                                  

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