sexta-feira, 7 de setembro de 2012



5. História de Mirandópolis
dos anos 40/50

Relato de Elídio Ramires

  CAPÍTULO V – Por que tenho saudades de Mirandópolis

 No início deste relato, afirmei que tenho muita saudade de Mirandópolis, porque foi onde vivi parte de minha infância e minha adolescência, e onde moldei meu caráter de adulto, convivendo com amigos fiéis e confiáveis e um povo trabalhador e solidário.
Apesar dos tempos difíceis vividos pela minha família na década de 40, os últimos dez ou doze anos  em que vivi em Mirandópolis, foram de uma juventude feliz e produtiva. E quando  você se sente bem  numa cidade , você sente por ela amor e desejo de retribuir-lhe a hospitalidade, inserindo-se no contexto social de seus habitantes que lutam pelo seu progresso, pela melhoria e crescimento de sua cidade, que representa seu próprio crescimento.
 Dentro desse conceito, estive sempre presente na cidade durante os 18 anos que nela vivi, participando de eventos e iniciativas sociais e institucionais e com ela cresci.
Tudo começou logo que terminei o curso primário, e fui trabalhar por arranjo de meu pai, como “ofice boy” no escritório de contabilidade do Sr. João Borges de Almeida, nosso vizinho, que fazia a escrita da Padaria, onde fiquei dois anos, sem deixar de ajudar, na medida do possível, os serviços da padaria. Lá aprendi a escrever à máquina, a fazer a escrita fiscal, a lidar com a papelada de abertura e  fechamento de firmas e até mesmo, os princípios básicos de contabilidade.
Com apenas treze anos de idade viajava sozinho, freqüentemente, para Valparaíso, a serviço do escritório, uma vez que não sendo Mirandópolis, ainda município, lá ficavam as repartições necessárias a legalização e cumprimento das obrigações fiscais das firmas do distrito: Prefeitura, Coletorias Estadual e Federal, Cartórios, etc. Viajava para Valparaíso no trem das 9 horas da manhã almoçava em restaurante, fazia o serviço programado junto às repartições e, voltava no trem das 9 hs. da noite. Ganhava 20 cruzeiros por mês.
Após desligar-me do escritório, no início de 1945,  com apenas 14 anos de idade , tive a ousadia de trabalhar por conta própria, fazendo a legalização de abertura e a escrita fiscal de duas pequenas firmas de pessoas amigas e da própria padaria.
Para  mais aprender sobre o assunto comprei pelo serviço de reembolso postal, livros sobre contabilidade e l leis fiscais e os códigos em vigor no país, bem como livros de direito e didáticos escolares: português, geografia, história geral, ciências, etc.,  que sempre me fascinaram. Meu sonho era ser um dia, advogado.
Na época já lia o Diário de São Paulo, que o meu irmão assinava e, que chegava à cidade no dia seguinte à  circulação. Acompanhei por ele notícias da 2ª guerra mundial  até o  seu final em19 45 e a deposição de Getúlio  Vargas em outubro do mesmo ano. Lia também, as revistas “O Cruzeiro”, a “Manchete” e a “Careta”, que comprava na banca de jornal que existia dentro dos trens que vinham de São Paulo.
Em julho de 1946, com apenas 15 anos, fui convidado por Noryoshi Mizikami, conhecido pelo nome de Jonas, para trabalharcomo auxiliar de escritório das indústrias de sua família, firma estava registrada em nome de seu irmão Nobuo Mizikami, por ser brasileiro e estudante de engenharia em S. Paulo. Indústrias, porque abrigava nos mesmos pavilhões, fábrica de carroças, esquadrias,  e móveis e oficina de ferragens. Meu salário inicial era de 150 cruzeiros.
Fiz um curso de contador por correspondência ministrado pelo Instituto Universal Brasileiro, e fui brindado com  um vistoso diploma de “contador” aos 16 anos, que infelizmente, não tinha qualquer  valor jurídico. Valeu, porém, pelo aprendizado.
Foi nesse  período que lá trabalhei que, evoluindo  na idade  e nos serviços que desenpenhava fui paralelamente, me inserindo no campo intelectual, como autodidata, comprando livros de todo tipo e, inicialmente, escrevendo crônicas e poesias, influenciado pelos mais famosos poetas brasileiros:  Castro Alves, Casemiro de Abreu, Olavo Bilac, Alvarez de Azevedo, Fagundes Varela e outros cujos livros comprei, inclusive o “Tratado de Versificação” e o Dicionário de Rimas, que guardo até hoje.
À medida que progredia no meu desempenho no trabalho de escritório, assumindo a responsabilidade de toda a escrita, fiscal e contábil, inclusive fechando balanços anuais, para efeito do Imposto de Renda, que eram assinados pelo Contador Ossamu Wada, amigo da família Mizikami, uma vez que só me formei Técnico em Contabilidade, com registro no CRC em 1956.
Cuidava também da parte trabalhista da empresa que contava na época, com quase 50 empregados, tendo como auxiliar apenas Suguetiro,  irmão do seu Jonas. Nas horas vagas, ainda conseguia escrever crônicas e versos que publicava na revista “Cadência” de Araçatuba, no Jornal “O Valparaíso”, “O Araçatuba” e em jornais de S. Paulo, que  mantinham seção literária. Minhas crônicas eram lidas também por Décio Quírico as 6  horas, no serviço de alto-falantes Marajá.
Quando surgiu o jornal “O Mirandópolis”  escrevi em 1948, um esboço sobre a história da cidade, intitulado “Mirandópolis, sua origem e evolução”, que foi publicado em capítulos pelo jornal. Embora meio surrealista, pois não dispunha de elementos concisos sobre os fatos narrados, foi em parte, muito útil em alguns detalhes, tanto que aproveitei no presente Relato.

Da fundação do jornal “A CIDADE”

 Ainda trabalhava como chefe do escritório das Indústrias Mizikami quando, logo após a cessação de atividades de “O Mirandópolis”, fui convidado por  José de Fátima Lopes e Idanir Momesso que haviam adquirido  a Gráfica Paulista de Antonio Depieri, para a fundação do jornal “A CIDADE”, na função de Redator-Secretário. O primeiro número do semanário veio à lume no  natal de 1949. Havia acabado de completar 19 anos.


O cargo assumido não afetou meu trabalho como chefe do escritório das Indústrias Mizikami. Paralelamente à minha função no emprego, desempenhei  sem maiores problemas ao compromisso assumido, escrevendo semanalmente, notícias, entrevistas, artigos e crônicas para o jornal, além de ajudar os seus proprietários a angariar  publicidade, o que fazia sem nenhum retorno financeiro, inclusive na função de redator. Minha grande compensação, foi obter junto à Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo, carteira de jornalista profissional, o que me permitiu entrar para a Associação Paulista de Imprensa, além de vantagens de 50% de desconto em passagens aéreas e passe grátis na Estrada de Ferro Noroeste, fornecida pelo  seu Diretor-Geral de Bauru na ocasião, Gal. Marinho Lutz.  A profissão de jornalista não era regulamentada ainda, e seu exercício era regulado pela  concessão pelo Ministério do Trabalho, de carteira profissional após comprovação de, no mínimo, 2 anos de trabalho na área.


 Como nasceu o cognome “CIDADE LABOR”

Com a chegada da energia elétrica da Usina de Itapura em 1951, a cidade de Mirandópolis praticamente renasceu no seu progresso, vivendo uma fase de grandes realizações e melhoramentos em todos os setores, fruto de confiança do seu povo laborioso no futuro da cidade. Foi em face dessa onda positiva de luta pelo progresso, às custas de um trabalho constante, que resolvemos também colaborar com o desenvolvimento da cidade, coroando a situação com um convite  sugestivo  para as pessoas que não a conheciam, passando a publicar em todas as edições do jornal o convite: “VISITE MIRANDÓPOLIS, A CIDADE LABOR”, por mim sugerido e aprovado pelo idanir e José de Fátima.
Achei o cognome coerente com o ritmo de trabalho e progresso que vivia a cidade, levando em consideração que, cognome (ou apelido) significa lexiologicamente, epíteto   fundado na qualidade mais notável de pessoa ou coisa, que era o caso de Mirandópolis,cujo aspecto mais notável era o seu desenvolvimento às custas do trabalho e da solidariedade de seu povo.
O apelido pegou e mais tarde foi inserido em latim nas palavras “Mirandópolis Urb laboris” no brasão do município, aprovado por lei, em desenho elaborado pelo professor Walter Víctor Sperandio, aprovado pela Comissão de Heráldica, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e está presente também  no Hino de Mirandópolis, escrito pelo Doutor Alcides Falleiros com música de  Henrique Pavesi louvando a “Cidade Labor”, também adotado por lei municipal. (continua na próxima semana)

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