quarta-feira, 19 de setembro de 2012



7. História de Mirandópolis
dos anos 40/50

Relato de Elídio Ramires

Capítulo VII – Casamento, Faculdade e Mudança para Bauru

Em 1957, já funcionava em Bauru a 3ª Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, a Instituição Toledo de Ensino fundada pelo Professor mineiro Antonio Eufrásio de Toledo, e que admitia curso vago, apenas com comparecimento para provas, compensando as ausências por trabalhos jurídicos determinados pelos professores.
Era a oportunidade para realizar meu sonho de me formar em direito. Me inscrevi no vestibular daquele ano, comprei livros e apostilas  adequadas e me preparei para os exames que se constituíam de poucas matérias, porém que exigiam profundo conhecimento: Português – gramática, redação e literatura – escrito e oral, Latim – escrito (tradução) e oral e a tradução por escrito de um texto em francês ou inglês, à escolha. Escolhi o texto em francês.
Disputando com mais de 500 candidatos, fui felizmente aprovado entre os 250 selecionados, tendo iniciado o curso em março daquele ano e aprovado para o 2º ano.
Um incidente administrativo, todavia, interrompeu meu curso trancando minha matricula no segundo ano, já iniciado, em face do surgimento de irregularidades constatadas pelo Ministério  da Educação em certificado obtido em exame de “madureza” prestado por mim em Bariri, e utilizado para matricula na Escola de Comércio, cujo certificado  de conclusão de curso  também resultou suspenso, juntamente com a matricula da Faculdade, até a regularização da situação.
Conquanto tenha dado explicações sobre a ocorrência em sessão na Câmara Municipal, fui agredido moralmente por um dos vereadores que já tinha certa indisposição política comigo; que fez de tudo para me desmoralizar, acusando-me de utilizar certificado de ginásio falso para entrar na Faculdade de Direito chegando a mandar imprimir e distribuir na cidade panfletos tripudiando sobre o incidente, atitude própria de um néscio, posto que não lhe ocorreu  refletir que uma pessoa que teve a capacidade intelectual para ser aprovada em um vestibular da Faculdade  de Direito, enfrentando com sucesso todas as matérias acima descritas, em exames escrito e oral, deixando para trás quase trezentos outros candidatos e já estar no 2º ano do curso; uma pessoa que exerce a função de redator de jornal, que escreve artigos, crônicas, reportagens e notícias que são publicadas em jornais de cidades vizinhas e da capital, seria impensável não ter , essa pessoa, capacidade para ser aprovado em um simples exame de 2º grau, para o qual também estava preparado.
Suas acusações, portanto, não passavam de abstração vingativa, fruto de sua ignorância e má fé, simplesmente por uma questão política para me humilhar e me desmoralizar na cidade, onde sempre gozei de amizade e de admiração de seu povo. Daí a minha decepção e arrependimento de ter sido vereador. É a única mágoa que trago dos 18 anos que residi em Mirandópolis.
Felizmente, tudo passou e coisas melhores e mais felizes me aconteceram, logo em seguida. Em 12 de janeiro de 1958, após 2 anos de noivado, me casei com a jovem professora Neiva Lanza de Oliveira, que acabara de concluir o curso de normalista, filha de Antonio Pires de Oliveira, comerciante na cidade e Helena Lanza de Oliveira, funcionária do Hospital Regional Estadual e formos morar na casa que havia construído na Rua Getúlio Vargas, esquina da Casa de Saúde Sta. Terezinha, onde nasceu em 25 de abril de 1959, nosso primeiro filho, Eduardo Augusto, sob a assistência do Dr. Francisco Theotônio Pardo.
Apesar de injustiçado, continuei exercendo meu mandato de vereador até o fim, cuidando dos meus negócios na Casa e Fábrica de Móveis Cristal e colaborando de vez em quando com o jornal “A Cidade”, cuja redação já havia deixado, e como correspondente da Folha de S. Paulo, sucessora da Folha da Manhã.
Nesta altura a padaria da família já havia sido vendida para os Irmãos Franco e quase todos os meus irmãos já haviam tomado outros rumos, com exceção do Adelino e o Osvaldo, ambos já casados, que continuaram morando em Mirandópolis. Minha mãe havia se casado novamente e estava morando em Campinas com meu padrasto Francisco Miloch. Os pais da Neiva também haviam se mudado para Promissão.
Negociei com o Crevelaro minha parte na sociedade que mantive com ele durante 8 anos, concedendo-lhe 10 meses de prazo para retorno de meu capital, dentro de uma perspectiva de redução de estoque com o encerramento de nossa loja-filial e do depósito que mantínhamos na Rua Rafael Pereira. Vendi minha casa em Mirandópolis para o dr. Antonio Duenhas Monreal e após uma  viagem a Bauru, onde aluguei uma boa casa nos altos da cidade, em janeiro de 1961 deixamos Mirandópolis, da qual levamos muita saudade, esquecendo os maus momentos de 1957.
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A colega Kimie pediu-me que escrevesse sobre a minha vida e de minha família, após a saída de Mirandópolis. Porisso, com o devido respeito, pedindo desculpa pelo abuso, aos leitores que, eventualmente, tiveram a paciência de me lerem até aqui, vou fazê-lo.
Em Bauru montei, inicialmente, uma fábrica de esquadrias sob a gerência de um marceneiro de confiança que levei de Mirandópolis, transformada, posteriormente, em fábrica de móveis de fórmica, com venda no atacado e no varejo em uma casa de móveis que abri na Rua Araujo Leite. Os negócios foram regulares até meados de 1964. Com a sobrevinda da revolução, os bancos passaram a dificultar o desconto de duplicatas das vendas no atacado, o comércio entrou em retração, e os negócios pioraram muito, me colocando em situação de dificuldade financeira com preocupações de toda ordem, sem qualquer possibilidade de cuidar de minha situação escolar, o que só vim a fazer em 1967, quando prestei novo exame supletivo no Instituto Estadual “Ernesto Monte” (o mais rigoroso de Bauru), obtendo novo certificado ginasial, com o qual requeri junto ao Ministério da Educação no Rio de Janeiro, a validação de meu certificado de Técnico de Contabilidade. Isto feito requeri ao Exmo. Sr. Reitor  da Faculdade de Direito Dr. Antonio Eufrásio de Toledo, a revalidação de  minha matrícula  no 2º ano  do curso, retornando, finalmente à Faculdade   no ano letivo de 1968, concluindo-o em 1971, ano em que coincidentemente, entrou em vigor o exame da OAB, cuja estréia foi exatamente na Faculdade de Bauru e no qual fui aprovado sem dificuldade entre  os primeiros 8 colocado.
Foi nesse período também, em Bauru, que nasceram os meus outros três filhos: Carlos Alberto em 1961, Regina Célia em 1965 e Vera Lucia em 1967. (continua na próxima semana)

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