sábado, 2 de março de 2019




A morte de uma criança...
      
       Acabei de voltar de um velório...
      Era de uma senhora que estava doente e sofreu muito antes de
partir. Como o sofrimento foi atroz demais, a família aceitou essa passagem com um certo alívio, para que a pobrezinha possa descansar na eternidade. É claro que houve choros, tristeza, dor, saudades...
      A certa altura do velório entre o vai e vem dos amigos e as orações da pessoa encarregada, uma coisa inusitada me chamou a atenção. Era uma criança moreninha de uns seis anos de idade, acompanhada de sua mãe, uma moça alta e que parecia bastante incomodada. A menininha não se desgrudava do ataúde, onde estava a falecida... Ela chorava falando baixinho:” Não vá embora, tia Sílvia! Não me deixe sozinha!”  E chorava, chorava... A mãe, pegava a garota, a abraçava e a retirava do lugar, mas a garotinha voltava chorando. E isso ocorreu vezes e vezes durante o tempo todo que estive lá. Só durante as orações, ela se aquietou com a carinha triste enfiada na barriga da mãe. Cheguei a intervir dizendo à mãe que a deixasse livre. Mas esta disse que não era bom incomodar a família. Quando no final das orações, o Josias tocou a Ave Maria e outra canção triste no saxe, ela se emocionou ao extremo e chegou a gritar a sua dor, fazendo todos chorarem. Até saí da câmara... E a mãe retirou a garota para o ar livre... Mas, ela voltou de novo. E viu que o féretro já se encaminhava para o cemitério. Então, gritava chorando: “Ela já foi embora, mãe! Já foi embora!” E soluçava.
      Eu nunca assistira a uma cena semelhante, em que uma criança na sua inocência não aceitava a partida de alguém. E mais comovida fiquei ao descobrir que era apenas uma vizinha da moça que falecera...
      Então fiquei pensando que essa alma que partira deve ter sido uma pessoa abençoada, por ter conquistado tanto amor de uma criança. Nem a Ave Maria do saxe foi tão dolorida como o choro da inocente...
      E quando agora há pouco vi no face, pessoas comentando as postagens que tripudiavam sobre a morte do neto do Lula, pensei como a humanidade se tornou cruel. Por quê essa enorme diferença entre a pureza da criança que vi chorando e o ódio de adultos, que escreveram mensagens ofensivas à família do Lula? Eu não gosto do Lula por tudo que ele fez de errado para o nosso país, mas o seu netinho Artur está inocente desses erros do avô. O menino não tem culpa de ter nascido nessa família. O ônus dos ilícitos do ex Presidente não pode recair sobre uma criança que morreu. O ônus deve recair para quem cometeu os erros.
      E além do mais, a dor da morte é algo que nunca devemos desejar a outrem. Nem a um inimigo. Porque perder alguém que se ama é algo  doloroso demais. E a dor do amigo é igualmente doída como a dor do inimigo. Porque somos todos humanos.
      E quem garante que uma dor imensa não estará à nossa espreita?
Pense nisso!
Mirandópolis, março de 2019.
kimie oku in



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