quinta-feira, 7 de março de 2019


      
                    O que é demais sobra...

       Sou de uma família de imigrantes japoneses, que sofreu tudo que é possível sofrer com a falta de recursos, numa terra desconhecida.
       Meus pais vieram para o Brasil em 1913 (papai) e 1917 (mamãe).
       Vieram para trabalhar nas fazendas de café, porque no Japão faltava comida para todos. Vieram com a ilusão de viver no paraíso, mas a realidade era bem diferente. Tiveram que viver no meio de matas fechadas, de árvores centenárias ou milenares, onde moravam as feras... Tudo foi áspero, duro, difícil e tiveram que se virar com a força de seus braços.
       Além disso, foi muito difícil superar as saudades da Pátria distante, a fala ininteligível dos brasileiros, os costumes, as humilhações por serem tão diferentes fisicamente.
       Havia falta de tudo.
De comida, de água, de roupas, de sapatos, de remédios, de assistência médica. Tinham que se virar entre os próprios imigrantes. Por isso, uns começaram a cuidar dos outros como médicos, enfermeiros, assistentes jurídicos. Tudo na raça, na base da experiência e de informações....
Foi um tempo muito, muito difícil. Que até hoje me espanto de terem vencido. Meu pai  Jitsutaro Osaki que trabalhou com o Dr. Kihachi Dayan na Região de Araçatuba e Valparaiso atuou como o homem que curava tracoma, gripe espanhola, ferida brava, aplicava injeções e fazia partos... Serviu a tanta gente gratuitamente, mesmo porque ninguém tinha com que pagar. Uns e outros pagavam com frangos e ovos de galinha... que sempre eram bem vindos naqueles tempos de escassez.
Criada nesse regime, onde tudo era precioso e não deveria ser desperdiçado, aprendi a economizar tudo para não faltar... Calçados eram usados até os ossos, porque cada um só tinha um par, e quando estavam em boas condições eram reaproveitados pelos irmãos menores. Então, roupas e calçados eram comprados ou feitos para os maiores, para servirem sucessivamente aos menores... E isso era tão natural, que ninguém se incomodava. Era assim em todas as famílias. Todos eram paupérrimos. Mais pobres que pobres...
Então, nosso sonho era sempre ter as coisas com fartura, comida que satisfizesse todas as vontades, roupas do bom e do melhor, calçados em quantidade para escolher para sair...
E quando nos tornamos pais, exageramos na aquisição de bens materiais aos filhos pequenos. A criança nem andava e já comprávamos bicicletas... bonecas de todas as marcas... Roupas e calçados que nem cabiam nos armários... tudo em excesso, tudo sobrando... E assim, estragamos uma geração inteira com provisões desnecessárias.
E hoje a moçada não se contenta com três pares de tênis, cinco calças jeans, dez camisetas...  E isso abrange os celulares, os whats, as motos, os carros... Tudo tem que ser bastante. Ostentação é a palavra da moda. Não importa se está devendo até a alma no Banco, tem que ostentar e passar a imagem de poder.
E por tudo isso, pelo excesso de coisas, pela possibilidade de qualquer um poder vender uma imagem poderosa é que os jovens se perderam. Os objetos de consumo não mais lhes satisfaziam, precisavam de outras emoções... E aí procuraram substâncias que fizessem-nos empreender viagens surreais... e com isso, muitos se reduziram a zumbis...
E quanto mais sobra a grana, mais se perdem. O exemplo mais gritante de tudo isso é o político Aécio Neves.  Descendente de uma família respeitável, de boa estampa, seguiu os passos do famoso avô Tancredo Neves, que entrou na História do Brasil como O Presidente que nunca chegou à Presidência...  Aécio tinha tudo para dar certo. Apoio quase total do povo brasileiro, um nome a honrar, uma família de que se orgulhar, posses materiais, Partidos políticos que o apoiavam... Mas, se perdeu porque tudo isso deve tê-lo enfastiado. Queria mais outras emoções, outra sensações misturadas ao poder excessivo. Acredito que nunca passou carência de bens materiais, tinha tudo de mão beijada.
Não só ele, como os demais políticos que todos os dias aparecem na Mídia como corruptos, se perderam pelo excesso de conforto, excesso de comida, excesso de vantagens, excesso de dinheiro. E passaram a comprar tudo. Compraram cargos, amigos, parceiros, sócios, Igrejas, padres, juízes, Delegados, policiais, empresários, Bancos...
O noticiário ficou muito chato! Todos os dias mais nomes de gente corrompida, que não presta. O mais triste de tudo isso é que famosas figuras do cenário artístico também esticaram e muito essa lista. Gente que todos os brasileiros comuns admiravam e idolatravam... E tudo pelo vil metal. Ostentar é preciso?
Então, ter pouco e partir para a luta para conseguir o mínimo necessário é a lição que fica. Se você precisa de algo, vai à luta para obtê-lo. Mas se já tem tudo, pra quê trabalhar? Se a grana está sobrando também vai se aventurar para experimentar outras emoções... E aí ficará irremediavelmente perdido.
Se tem demais, por quê não ajudar jovens que querem estudar?  Apoiar crianças que precisam de assistência médica especializada?
Mas, Não! Preferem se drogar!
Estaremos formando uma geração de ZUMBIS?
Mirandópolis, março de 2019.
kimie oku in


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