sexta-feira, 26 de abril de 2013




Cirandando no céu

Estive ausente uma semana, por conta de problemas pessoais.
Ao voltar, constatei que fiquei mais pobre. Mais pobre de amigos, porque numa semana de apenas sete dias, três amigos foram embora. Deixaram a vida terrena, para irem morar na casa do Senhor.
É verdade que eram pessoas idosas, acima de oitenta anos de  vida bem vivida, mas não deixa de provocar uma imensa tristeza,  o fato de nunca mais podermos usufruir de suas companhias. Porque é tão gratificante ver um amigo, trocar ideias, ouvir suas queixas sobre a saúde, sobre o salário curtinho, e outras coisas mais que fazem parte da existência de todos nós.
Eu sabia que a vida do nosso grande mestre Walter Víctor Sperandio estava por um fio, por causa da saúde precária.  Viver para ele já se tornara um grande fardo. Não conseguir falar e se fazer entender era doloroso demais para ele e para os que o cercavam. E a consciência do próprio estado o entristecia muito.
Um dos momentos mais emocionantes que vivi foi quando ele foi ao Encontro da Ciranda. Lembro-me que os amigos admiradores seus o carregaram na cadeira até dentro do salão, onde curtiu a roda da Ciranda. Já estava cambaleante, mas ainda conseguia falar e chegou até a declamar uns versos.
Até o fim, continuou sendo aquele homem gentil de sempre. Numa das últimas vezes que o visitei, ele conseguiu falar e eu consegui entender: “Desculpe por não te acompanhar até a porta” (Não conseguia nem caminhar mais, mas jamais perderia a classe!) Walter Víctor Sperandio...
O seu Jorge Cury foi um homem que participou de uma época muito importante na História de Mirandópolis. Quando o nosso Ginásio Estadual foi instalado, ele foi nomeado Inspetor de Alunos, função que exerceu por décadas. Sua tarefa era controlar a entrada e a saída dos alunos. Então, os gazeteiros o conheceram bem, porque ele ficava na marcação para evitar que matassem aulas. E diariamente, ele carimbava uma caderneta de presença de todos os estudantes que iam à escola. As carimbadas atestavam se o aluno esteve ou não na escola, e tudo era bem controlado. Era muito rigoroso, e não deixava nada escapar. Além disso, ele participou de outras atividades como organizar os desfiles em datas cívicas, participar de jogos estudantis, sempre como zelador do bom nome da escola Noêmia Dias Perotti.
Já no fim da vida, quando estava sozinho, após a partida de sua querida dona Luisinha, ele participou de encontros da Ciranda. Tinha um prazer, um gosto particular de comparecer e dizia que, gostaria que os encontros ocorressem mais vezes ao mês. Enquanto a saúde lhe permitiu, compareceu e participou da Ciranda com muita alegria, onde era bastante estimado por todos. Ele foi feliz enquanto viveu entre nós. Jorge Cury...

O senhor Aristides Florindo foi o Diretor da Escola Ebe Aurora por décadas. À época em que foi designado para dirigi-la, a clientela era paupérrima, porque o bairro era um dos mais carentes da cidade.  Juntamente com seu Assistente de Direção, Professor Yussuf Hsain Alaby e a equipe de professores e funcionários, conseguiu vencer inúmeras dificuldades, através de campanhas para ajudar os mais necessitados. Sempre teve uma postura digna e atendia a todos com simplicidade, de igual para igual. Isso o tornou muito respeitado no bairro. Dezenas de alunos problemáticos cumpriram sua escolaridade, porque o Diretor Aristides, zeloso de suas obrigações, convocava os pais para participarem mais da educação de seus filhos. Sempre procurou corrigir as falhas dos alunos, levando muito a sério a formação de todos.
 Hoje há tanta gente trabalhando na sociedade local, que não fossem as reprimendas e os conselhos dele, teriam tido destinos diversos, de muito sofrimento. Todos se tornaram cidadãos trabalhadores e honestos.  E isso é uma obra humanitária que nem sempre aparece.
Trabalhei por mais de uma década sob sua chefia e aprendi a respeitá-lo. Mesmo ocupando o cargo máximo na escola, reconhecia suas limitações na parte pedagógica e confessava isso de público, o que mais o engrandecia pela humildade.
Mesmo tendo sido educado num regime meio autoritário da época, aos poucos foi se adaptando e aceitando as mudanças da modernidade, sem criar conflitos.  Foi um Educador na essência da palavra. Sempre lhe tive muito respeito. Aristides Florindo...
Walter Víctor Sperandio, Professor, Artista Plástico, Projetista de obras fantásticas que deixou para a posteridade,
Jorge Cury, Funcionário Público que participou da formação e da educação de várias gerações de mirandopolenses, e curtiu a vida até o fim com alegria e simplicidade,
Aristides Florindo, Educador que ajudou muitas crianças e jovens a evitarem os descaminhos da vida,
Suas vidas permeadas de trabalho, de dedicação, de persistência não foram em vão. Seus nomes sempre serão lembrados com reverência...
E desejo de coração, que agora estejam cirandando no céu.
Numa roda de anjos...

Mirandópolis, abril de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com

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