quinta-feira, 4 de abril de 2013


Zorba, o grego

De vez em quando, gosto de rever alguns filmes que me impressionaram um dia.
Acho que, gente de minha geração se encantou com “E o vento levou”, “Suplício de uma saudade”, “Forest Gun”, “O Poderoso Chefão”, “Casablanca” e  “Zorba, o Grego”
Confesso que, todos me marcaram bastante pelos ensinamentos que eles passaram. Mesmo tendo gostado de todos, o que mais me impressionou foi sem dúvida nenhuma, Zorba, o Grego.
Este filme baseado na novela de Nikos Kazantzakis foi lançado em 1964, isto é, há meio século. Estrelado magistralmente por Antony Quinn, ator mexicano, que ficou para sempre com cara do grego Zorba.
A história se passa na Ilha de Creta, para onde se dirige um empresário inglês para explorar uma mina, que herdara do pai. E tromba com Zorba, que passa a servi-lo. E aí começa a aventura.
Zorba é um homem vivido, cheio de artimanhas, que aproveita a vida sorvendo-a a cada momento, como se fosse a última gota d’água.  E deixa o patrão embasbacado, porque este era um rapaz criado no ambiente cheio de conveniências, da puritana sociedade inglesa.
Na Ilha de Creta, os recém-chegados encontram uma sociedade fechada, cheia de costumes antigos, adotados como leis pelos moradores. Existe uma viúva mui bela, que é cobiçada por todos os homens, dentre os quais há um jovem totalmente apaixonado por ela. Mas, ela se interessa pelo inglês que acabara de chegar, apesar de estar consciente que viúvas não têm direito mais ao amor.
Enquanto isso, Zorba conhece a francesa que trabalhara em cabarés europeus e fora amante de capitães de navios. Está velha, gasta e acabada, mas ainda acalenta sonhos mundanos de outrora. E quer ser tratada como uma mademoiselle.
Zorba que já correra o mundo, se comove com os desejos da pobre prostituta e a trata como uma princesa.
Mas a exploração da mina herdada termina em desastre, e o jovem inglês resolve aproveitar a madeira da montanha. E Zorba inventa um sistema inédito para trazer a madeira do alto da montanha para o mar. E o patrão aposta todas as fichas nessa empreitada.
Entre o vaivém dos acontecimentos, o inglês não resiste aos chamados da viúva e passa uma noite em sua casa, amando-a.

Quando o jovem apaixonado da ilha fica a par da história, se atira ao mar, suicidando-se. E todos os aldeões se voltam contra a viúva, que é apedrejada diante da Igreja, durante a missa dominical e apunhalada.
Zorba tenta salvá-la. Em vão.
O rapaz inglês fica deprimido, sentindo-se responsável pela morte da bela viúva, então Zorba lhe diz que, quando a alma está cheia de dor, de felicidade, de mágoa, o único remédio capaz de acalmá-la é a dança. E dança, e dança e dança.
Quando a prostituta francesa adoece, as mulheres da aldeia vestidas de preto se acercam da casa, e ficam à espreita esperando o fim. Parecem corvos à espera do banquete.
A francesa morre nos braços do Zorba, sonhando ir ao encontro de um Almirante, que a tratara bem em outros tempos.
Então, acontece uma coisa inacreditável!
Todas as mulheres e todos os homens invadem a casa para pegar os objetos, que a mulher acumulara durante sua vida. Disputam entre si um xale, uma banqueta, um abajur, as cortinas de seda, as roupas europeias, as plumas, enfim, objetos sem nenhuma utilidade para os aldeões. Num afã, sem nenhum respeito. E deixam a casa totalmente despojada, só com a morta na cama.
E Zorba? Leva apenas um papagaio que falava inconveniências de dentro de uma gaiola...
Mas, a cena mais bela é a final. É a cena da inauguração da engrenagem, para trazer as toras de madeira do alto da montanha para o mar.
Os trabalhadores contratados se empenham em fazer a geringonça funcionar,     mas, algo dá errado e tudo vem abaixo, com todos os operários fugindo do local.
Quando tudo termina em desastre, e nada dá certo, os dois amigos comem um pedaço de carneiro e tomam um vinho. E o inglês pede a Zorba que lhe ensine a dançar.
E os dois dançam. E dançam. E dançam.
O que há de belo nesse filme?



São as mensagens do autor da novela, Nikos Kazantzakis.
Ele nos ensina que, aldeias seculares têm costumes intransponíveis por gente de outras culturas, e outras gerações. Ensina que, mulheres nessas aldeias são apenas objetos manipulados por homens, que estabeleceram suas duras e injustas leis.
Ensina que estrangeiros nunca serão considerados irmãos, mesmo que demonstrem as melhores intenções. Estranho no ninho é estranho no ninho e há que se cuidar para não pisar em falso e provocar tragédias irremediáveis.
Mas ensina sobretudo, como a vida é bela e merece ser vivida, como se sorvesse um bom vinho até a última gota, com delícia, com prazer.
E a dança é o vinho da vida.

Mirandópolis, abril de 2013.
kimie oku in crônicas de kimie.blogspot.com

Um comentário:

  1. Olá Kimie! Comprei esse livro há 10 anos num sebo numa cidade chamada Volta Redonda, interior do RJ. Já o li duas vezes.
    O encontro entre os principais pensonagens ocorre assim: “Pode me levar junto? Sei fazer umas sopas.” É com frases assim que Aléxis Zorbás entra na vida de um jovem intelectual grego prestes a partir para Creta, onde vai explorar uma mina de linhito. Aquele homem com o rosto “cheio de rugas, carcomido, esburacado, como se o sol, o vento e as chuvas o tivessem devorado” passa a ser, então, um importante contraponto para o jovem que quer deixar de ser apenas um “roedor de papéis”.

    Nikos perdeu o prêmio Nobel para Camus, em 1957, por questões políticas. Há a suspeita de que a diplomacia grega tenha interferido para que ele fosse preterido ao considerá-lo comunista. Construiu um personagem que se tornou maior que ele. Um livro inesquecível!

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