segunda-feira, 15 de abril de 2013


       População centenária

     Antigamente, as pessoas viviam até os 50, 60 anos de idade.
     Hoje, a humanidade está vivendo até e além dos cem anos. Para isso, contribuiu muito o estilo de vida que ela passou a adotar, exercitando o corpo, cuidando da saúde e alimentando-se corretamente.
Essa longa existência seria uma preocupação muito grande se cada família tivesse prole imensa de seis ou mais filhos cada uma, como era costume antes. Mas, hoje os casais têm um ou dois filhos apenas e, a população mundial fica mais ou menos equilibrada.
Houve uma época, em que o Japão não conseguia equilibrar a população que precisava de alimentos, e a comida que era sempre insuficiente. (Não havia terra cultivável porque lá é uma ilha, onde as montanhas predominam). Tanto é que, os idosos que chegavam aos setenta anos eram considerados improdutivos e deveriam morrer, para que a comida fosse suficiente para os mais novos. Esse fato foi narrado em Balada de Narayama (duas Palmas de Ouro de 1983, em Cannes), filme de Shohei Imamura. Narayama é uma montanha, onde eram deixados os velhinhos condenados, para aguardarem a morte, durante o inverno que cobria tudo de neve. E além desse fato doloroso, quando nasciam meninas eram vendidas em troca de sacos de sal. (Razão para isso? As mulheres seriam alimentadas até chegarem à época da produção, mas acabavam se casando e beneficiando outras famílias). As pequenas se tornavam escravas de seus donos, que as transformavam geralmente em gueixas ou mesmo, em prostitutas. Tempos duros e terríveis, em que a fome imperava e estabelecia leis cruéis de sobrevivência, sem outra alternativa.

Acredito que, fatos semelhantes devem ter ocorrido em várias partes do mundo, mas isso ninguém gosta de divulgar, porque desonra o país que os cometeu. E também, em diversos lugares, a população era equilibrada pelas guerras, que destruía milhares de vidas de jovens nos confrontos, eliminando assim, os excedentes.
Agora, assistindo a humanidade prolongar sua existência para além dos cem anos, fica a pergunta: Até onde o homem é capaz de sobreviver? Cento e cinquenta anos? Duzentos anos?
É verdade que tudo depende do estilo de vida de cada um. Mas se todos adotassem uma alimentação saudável, se todos passassem a cuidar do corpo para não adoecerem, se todos evitassem estresses, até onde iria a humanidade?
Mas, é muito difícil um senhor ou uma senhora que chegue aos cem anos com a mente tão sã como o corpo. Casos como o da dona Shina Aoki, que entrevistei outro dia são muito raros. Ela está no seu juízo perfeito, ouve bem, anda com as próprias pernas, não precisa de óculos para ler, e ainda pratica esporte e cuida de horta. Irá comemorar os cem anos de existência em setembro próximo.
Viver por viver até os cem anos, mas com o corpo destroçado ou a mente alienada não é viver.
A humanidade buscou incessantemente a fonte da juventude, porque sempre almejou viver mais primaveras. Entretanto, todos os esforços foram vãos. Até hoje ninguém sabe dessa fonte. Descobriram sim, a fonte da longevidade. E isso vai ter muitos adeptos, porque ninguém quer morrer. Por mais difícil que seja a vida, ninguém quer morrer. Todos se apegam ferrenhamente à vida.

E em todas as partes do mundo, há notícias de gente se esforçando para viver de forma saudável e, esticando a existência além do previsto. Tanto é que as pessoas começaram a comer comida mais leve, sem excessos, a praticar atividades físicas regularmente, a fazer exames médicos periódicos, para ter uma vida mais agradável, sem surpresas que matam.
Por outro lado, há ainda muita gente que excede na comida, na bebida, no cigarro, nas drogas. Comida em excesso e bebida além do controle também são vícios como as drogas e o cigarro.
Há tanta gente que não bebe e não fuma (graças a Deus!), mas que come igual um batalhão em fim de guerra. Comida em excesso estufa o estômago, força a bile, exige mais do intestino, da circulação e tudo conduz a um colapso. Colapso que muitas vezes é irreversível.
Mas são jovens que ainda aprenderão a se cuidar, quando o primeiro sinal vermelho apitar. Isso para aqueles que se preocupam com a própria saúde e sua existência...
 Por outro lado, se todos se cuidassem como deve ser, os centenários dominariam este planeta e o que seria do futuro da humanidade? Mesmo porque estes não procriam mais.
E a Terra seria habitada só por idosos até o final dos tempos... Sem o sorriso de crianças, sem a alegria dos jovens. Sem alternâncias...
Triste, muito triste.
Então, que tudo continue como está, né?


Mirandópolis, abril de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com


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