quinta-feira, 4 de abril de 2013




                   Viajando por aí

Passei o final de semana viajando por Mato Grosso do Sul
É impressionante como o nosso Brasil é imenso. A gente roda, roda, roda por horas e o país não acaba. Para chegar à fronteira, levamos nove horas de estradas sem fim. Cansaço? Sim, porque o corpo fica limitado por horas num espaço pequeno, e não tem como relaxar.
Mesmo assim, é uma viagem que vale a pena!  Atravessar o Rio Paraná na altura do Porto Epitácio é algo fantástico. A ponte sobre essas águas tem mais de onze quilômetros!  É água que não acaba mais!  E os cardumes que devem existir nas profundezas?
Depois, as matas ciliares que acompanham os riachos, ribeirões e rios que vão engrossando o Rio Paraná rumo à Usina de Itaipu, a maior do Brasil. Felizmente, as matas ciliares estão protegidas e seus inúmeros habitantes também.
A diferença entre Mato Grosso do Sul e São Paulo é a extensão das terras. Aqui, a cada hora se avista um povoado, um vilarejo ou mesmo uma cidade. Lá, a gente roda por horas sem visualizar um Posto de gasolina, um vilarejo ou mesmo algumas casas rurais.
O que existe são fazendas de gado. Nas pastagens verdes sem fim, centenas de gado nelore engordando... E aqui e acolá, uma casinha do peão que cuida de tudo para o patrão.
O relevo local é altiplano, não há morros nem elevações. Tudo é muito plano, facilitando a plantação e a colheita de cereais por máquinas. Alternando-se com as fazendas de gado, há roças sem fim de milharal. O solo escuro de terra roxa possibilitou a cultura de milho, que é cultivada nos municípios de Fátima do Sul e Dourados. É milharal que não acaba mais. Posso dizer com segurança que, rodamos durante umas três horas entre milharais. Havia roças de milho florindo, pendoando, outras mais novas, recém-plantadas... enfim, milharal de todas as fases.
         É muito bonito de se ver os campos cobertos com o milharal. Tem sempre a mesma tonalidade de verde azulado e é um colírio para os olhos. Deus foi muito sábio em pintar a natureza de verde, porque o verde não cansa a visão, assim como o azul claro do céu.
       
  Na viagem de volta viemos observando as casas de tábuas, que ainda estão de pé junto a moitas de bambu. Ora, como sabemos que os japoneses tinham o hábito de plantar bambu junto de suas moradias, concluímos que em Dourados, Fátima do Sul e Nova Andradina, houve núcleos de japoneses, que abriram matas e iniciaram as lavouras. Junto de casas mais modernas de tijolos, ainda remanescem casas antigas dos primeiros moradores. Foram construídas com tábuas retiradas das árvores da floresta que havia no local. Percebe-se que foram construídas com tábuas no sentido horizontal, e embora envelhecidas com o tempo, estão em bom estado, comprovando que foram feitas com boa madeira.
Fiquei imaginando quanta gente morou e passou por aí. Quanta labuta na derrubada da floresta imensa. Quantas onças e cobras devem ter enfrentado os pioneiros. Arrancar os tocos das imensas árvores seculares! O preparo da terra para as primeiras semeaduras. Febres, doenças, falta de assistência médica, falta de escolas para as crianças. Enfim, quanto sofrimento os desbravadores amargaram. E hoje, tudo limpo, tudo fácil, com estradas asfaltadas ligando os povoados, e no lugar dos carrinhos, das carroças e dos burros de carga, usam-se carros, camionetas e caminhões. Todas as casinhas de beira da estrada têm um carro na garagem.
Quanta gente fez a vida ali nesses lugarejos e alçou voos mais altos, dirigindo-se para outros recantos do país. Quantos filhos e netos desses primeiros habitantes estão espalhados pelo nosso imenso Brasil! Fico pensando nas pessoas que, distantes desses povoados devem sentir saudades imensas da vida rústica e tão verdadeira, que viveram ali um dia.  É por essas razões que muitas vezes, uma foto antiga e desbotada pelo tempo nos faz chorar de repente. É que dá uma vontade impossível de recuperar o tempo que passou e reviver tudo de novo.



Mas, o que me encantou de verdade foi ver algumas emas nos descampados, vivendo tranquilamente. Vimos ainda, uns preás e quatis atravessando rapidinho, as estradas.  E tabuletas de veados, alertando para não atropelá-los. Mas, doeu muito ver uma oncinha atropelada e, uma grande anta também morta no acostamento.
Mato Grosso, Terra do Pantanal, do gado vacum, dos cereais, dos jacarés, dos tuiuiús, terra rica, cheia de promessas, precisa urgentemente proteger sua fauna e sua flora para não se transformar num Estado de São Paulo de canaviais, sem árvores e sem seus bichos nativos.
 Porque São Paulo vai acabar se transformando num imenso deserto com os canaviais sem fim.

Mirandópolis, abril de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com



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