Viajando por aí
Passei o final de semana viajando por Mato Grosso do Sul
É impressionante como o nosso Brasil é imenso. A gente
roda, roda, roda por horas e o país não acaba. Para chegar à fronteira, levamos
nove horas de estradas sem fim. Cansaço? Sim, porque o corpo fica limitado por
horas num espaço pequeno, e não tem como relaxar.
Mesmo assim, é uma viagem que vale a pena! Atravessar o Rio Paraná na altura do Porto
Epitácio é algo fantástico. A ponte sobre essas águas tem mais de onze
quilômetros! É água que não acaba
mais! E os cardumes que devem existir
nas profundezas?
Depois, as matas ciliares que acompanham os riachos,
ribeirões e rios que vão engrossando o Rio Paraná rumo à Usina de Itaipu, a
maior do Brasil. Felizmente, as matas ciliares estão protegidas e seus inúmeros
habitantes também.
A diferença entre Mato Grosso do Sul e São Paulo é a
extensão das terras. Aqui, a cada hora se avista um povoado, um vilarejo ou
mesmo uma cidade. Lá, a gente roda por horas sem visualizar um Posto de
gasolina, um vilarejo ou mesmo algumas casas rurais.
O que existe são fazendas de gado. Nas pastagens verdes sem
fim, centenas de gado nelore engordando... E aqui e acolá, uma casinha do peão
que cuida de tudo para o patrão.
O relevo local é altiplano, não há morros nem elevações.
Tudo é muito plano, facilitando a plantação e a colheita de cereais por
máquinas. Alternando-se com as fazendas de gado, há roças sem fim de milharal.
O solo escuro de terra roxa possibilitou a cultura de milho, que é cultivada
nos municípios de Fátima do Sul e Dourados. É milharal que não acaba mais.
Posso dizer com segurança que, rodamos durante umas três horas entre milharais.
Havia roças de milho florindo, pendoando, outras mais novas, recém-plantadas...
enfim, milharal de todas as fases.
É muito bonito de se ver os campos
cobertos com o milharal. Tem sempre a mesma tonalidade de verde azulado e é um
colírio para os olhos. Deus foi muito sábio em pintar a natureza de verde,
porque o verde não cansa a visão, assim como o azul claro do céu.
Na viagem de volta viemos observando as casas de tábuas, que ainda estão de pé junto a moitas de bambu. Ora, como sabemos que os japoneses tinham o hábito de plantar bambu junto de suas moradias, concluímos que em Dourados, Fátima do Sul e Nova Andradina, houve núcleos de japoneses, que abriram matas e iniciaram as lavouras. Junto de casas mais modernas de tijolos, ainda remanescem casas antigas dos primeiros moradores. Foram construídas com tábuas retiradas das árvores da floresta que havia no local. Percebe-se que foram construídas com tábuas no sentido horizontal, e embora envelhecidas com o tempo, estão em bom estado, comprovando que foram feitas com boa madeira.
Fiquei imaginando quanta gente morou e passou por aí.
Quanta labuta na derrubada da floresta imensa. Quantas onças e cobras devem ter
enfrentado os pioneiros. Arrancar os tocos das imensas árvores seculares! O
preparo da terra para as primeiras semeaduras. Febres, doenças, falta de
assistência médica, falta de escolas para as crianças. Enfim, quanto sofrimento
os desbravadores amargaram. E hoje, tudo limpo, tudo fácil, com estradas
asfaltadas ligando os povoados, e no lugar dos carrinhos, das carroças e dos
burros de carga, usam-se carros, camionetas e caminhões. Todas as casinhas de
beira da estrada têm um carro na garagem.
Quanta gente fez a vida ali nesses lugarejos e alçou voos
mais altos, dirigindo-se para outros recantos do país. Quantos filhos e netos
desses primeiros habitantes estão espalhados pelo nosso imenso Brasil! Fico
pensando nas pessoas que, distantes desses povoados devem sentir saudades
imensas da vida rústica e tão verdadeira, que viveram ali um dia. É por essas razões que muitas vezes, uma foto
antiga e desbotada pelo tempo nos faz chorar de repente. É que dá uma vontade impossível
de recuperar o tempo que passou e reviver tudo de novo.
Mas, o que me encantou de verdade foi ver algumas emas
nos descampados, vivendo tranquilamente. Vimos ainda, uns preás e quatis
atravessando rapidinho, as estradas. E tabuletas
de veados, alertando para não atropelá-los. Mas, doeu muito ver uma oncinha
atropelada e, uma grande anta também morta no acostamento.
Mato Grosso, Terra do Pantanal, do gado vacum, dos cereais,
dos jacarés, dos tuiuiús, terra rica, cheia de promessas, precisa urgentemente
proteger sua fauna e sua flora para não se transformar num Estado de São Paulo
de canaviais, sem árvores e sem seus bichos nativos.
Porque São Paulo vai
acabar se transformando num imenso deserto com os canaviais sem fim.
Mirandópolis, abril de 2013.
kimie oku in
cronicasdekimie.blogspot.com
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