quarta-feira, 15 de maio de 2019


Dia de  festa!
          Embora morássemos no sítio, distante uns quinze quilômetros da cidade, nunca faltou o necessário para sobreviver.
       É verdade que a casa era paupérrima, de madeira, as camas desconfortáveis, carentes de roupas e calçados. Mas, o uniforme escolar não faltava e algum sapato que, geralmente a gente herdava dos irmãos mais velhos...
       Não havia luz elétrica e à noite usávamos lamparinas, que nós crianças tínhamos a obrigação de abastecer de querosene todas as tardes. A água era tirada do poço e filtrada nos filtros de barro.
       No quintal galinhas forneciam ovos e carnes, além das cabritas que forneciam o leite. E no chiqueiro havia sempre porcos sendo engordados. Eram tratados com restos de comida e muito milho.
       E de vez em quando matava-se um porco.
       Nesse dia, todo mundo entrava na dança.
A parte dura e difícil ficava por conta de meus irmãos, que era matar o animal, despelar, dessangrar e desossá-lo.  Então, até nós crianças ajudávamos a cortar os toucinhos, que seriam fritos no tacho para retirar toda a gordura, que era necessária para o cozimento dos alimentos. Naquele tempo, não havia óleo vegetal à venda. Só mais tarde apareceram as indústrias desse óleo. Mas, a comida feita na gordura tinha outro sabor e acredito que era até mais saudável. A gordura era guardada em latas de 18 litros, e as carnes fritas em tamanhos grandes também eram guardadas nas latas, imersos na gordura para não se estragarem. Duravam meses... Era a única forma de conservação, já que não havia geladeiras. A parte difícil era limpar os intestinos do animal. Cada pedaço era esvaziado de seu conteúdo e bem lavado e, junto com outros órgãos como rins e pulmões eram cozidos na soda para fazer sabão. Nada era desperdiçado. Não havia sabão à venda naqueles tempos...
Após a fritura da carne, mamãe fazia as linguiças que ficavam penduradas junto ao fogão de lenha para serem defumados. Mas, mamãe não esquecia de mandar um bom naco de carne para a vizinha.
Depois dessa matança, teríamos mesa farta com carne e linguiças por um bom tempo...  E era tudo muito saboroso... O cheiro que a carne e os toucinhos exalavam ao serem fritos é uma lembrança que não se esquece nunca. Tornava tudo muito apetitoso...
Por isso tudo, tenho saudades desses dias em que a família toda se reunia para fazer de um dia comum, um dia de festa!
Anos 50 e 60...
Bons tempos aqueles!
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

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