sábado, 25 de maio de 2019


      
             José João e Valdete
           A escolinha cheia de cabritos e meninos chucros me desanimou de fato. Achei que havia escolhido a profissão errada.
         Fui tomar pensão na única casa que havia no local. Era do retireiro  de leite. Eram pessoas boas, mas não sabiam nada sobre higiene.  Acho que a mulher nunca tomou banho! E lavava os três filhos pequenos numa bacia grande, um após outro sem trocar a água!  A água ficava barrenta no final. Os cabelos desgrenhados dela eram um amontoado de poeira velha... E leitões circulavam na cozinha sorvendo o soro que caia dos queijos que ela fazia...  Tudo era muito relaxado e sujo, nada era controlado.
       Passei uns dias só me alimentando de laranjas inteiras para matar a fome, só eliminando a casca e as sementes.  E chorei, chorei, chorei... De pena de mim mesma! Quem me salvou foi o senhor Roberto Dias da Farmácia que foi um dia à fazenda, e lhe contei a minha triste situação. Ele avisou meu irmão Minoru, que logo comprou um fogão e panelas para mim. Aí, passei a cozinhar no quarto. Muitas mulheres foram ao meu quarto conhecer o fogão de chama azul. Nunca haviam visto um fogão a gás...
       Não havia jeito de voltar para casa nos finais de semana, porque  tinha aula aos sábados também.  Eu dependia de carona. E muitas vezes ficava de castigo lá no quartinho...
       Mas, o homem propõe e Deus dispõe. Ele colocou no meu caminho um casal arretado de bom, que eram da Paraíba...  Ou do Ceará? Eram o José João e a Valdete, que administravam uma fazenda a quatro quilômetros da Escola. Todos os Sábados que eu ficava na Fazenda, a dona Valdete mandava uma carroça me buscar para ficar na sua casa, que era muito limpa e arejada.
       Passava o fim de sábado e o domingo inteiro com eles e suas três crianças. Ela fazia uma comidinha caseira muito gostosa e passávamos horas conversando. Ela me contava de sua vida lá no Norte, cheia de saudades. Eu ajudava nos afazeres de casa fazendo bolos e pães. Foi o céu para mim!  Na segunda feira ia de carroça com as crianças para a Escola.
       O José João era um caboclo firme, trabalhador e muito gentil. Um dia ele me deu o cachorro Jack, que estava mordendo as canelas dos bezerros da Fazenda. O bicho estava revoltado porque o patrão não voltava. O dono da Fazenda era um sírio libanês, que havia ido lá no Oriente rever os parentes e acabara falecendo... 
     Mas o cão não aceitou a mudança e correu de volta seguramente uns quarenta quilômetros para retornar à Fazenda. E eu não tive coragem de levá-lo de novo...
       Valdete e José João foram a minha fortaleza.
       Eles não me deixaram desistir do Magistério! Anjos no meu caminho...
       Por onde andarão?

Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in


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