terça-feira, 14 de maio de 2019


                  Gambarê!
       No meu tempo de criança os costumes eram outros. Todos tínhamos que trabalhar, mesmo que fosse depois da escola.
       Eu trabalhei limpando os troncos dos cafezais, para que os grãos que seriam colhidos caíssem em lugar limpo, sem pedras...  Derriçava os grãos maduros dos galhos e era um serviço duro e penoso, porque machucava as pontas dos dedos e formava bolhas nas palmas ... E a gente aguentava estoicamente tudo isso.
       Ajudei papai a plantar ervilha e alho na Semana Santa. Não sei a razão de ser nessa semana.
A lembrança mais bonita que tenho da roça é das noites enluaradas, que papai forçava a gente a colher algodão até nove horas da noite. Para onde quer que se olhasse, havia algodão branquinho se derramando dos capulhos, pedindo para ser colhido. E papai dizia: “Gambarê, gambarê! Vamos colher tudo que a gente aguentar, porque amanhã pode chover e tudo ficará perdido!” Gambarê  significa: Vamos pelejar! Não desistam! E essa palavra tinha uma força  poderosa em nossa vida  de pobres japoneses... Papai não deixou  fazendas, dinheiro e nenhum tesouro como herança. A herança foi essa palavra GAMBARÊ, que estimulou  os filhos a lutarem pela vida, sem esmorecer. Temos orgulho de ter vencido sem a ajuda de ninguém.
De acordo com as Leis atuais esse nosso trabalho de crianças teria conotação de escravidão, e papai até seria preso... Mas, todos tínhamos que trabalhar para garantir a comida de amanhã, e ninguém reclamava.
Só que nunca, jamais passamos fome.
E eu tenho orgulho imenso de ter sido também uma lavradora.

Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
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